quarta-feira, 21 de agosto de 2024


 21 de Agosto de 2024
ARTIGOS - Eugênio Esber = Jornalista e escritor

ARTIGOS

O ator, a prisão, a peça

Sem alarde, a imprensa noticiou que, no sábado, a Polícia Federal prendeu em Volta Redonda (RJ) o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque. Ele estava foragido desde que, um mês atrás, foi condenado em definitivo a cumprir 39 anos de prisão por corrupção, associação criminosa e lavagem de dinheiro. 

A Operação Lava-Jato, aquela que muitos parecem ter esquecido por distração ou conveniência, revelou que a diretoria de Duque na Petrobras amealhou e geriu propinas pagas por empreiteiras que tinham contratos com o governo federal entre 2003 e 2012. Valor total das propinas: R$ 650 milhões.

Em 2017, Duque aceitou devolver mais de 20,5 milhões de euros que possuía em contas na Suíça e firmou acordo de delação com as autoridades de um país que ainda se importava com corrupção. Suas palavras:

- Eu queria deixar claro, meritíssimo, que eu cometi ilegalidades. Quero pagar pelas ilegalidades, mas quero pagar pelas ilegalidades que "eu" cometi. (...) Se for fazer uma comparação com o teatro, eu sou um ator; (...) tenho um papel de destaque nesta peça, mas eu não fui e não sou nem o diretor nem o protagonista dessa história.

Duque contou que, depois de deixar a Petrobras, teve três encontros com Lula: em 2012, em 2013 e em 2014. Seus relatos, disponíveis ao público na internet (não sei por quanto tempo), são de envergonhar os brasileiros que um dia acreditaram no partido fundado em 1980 sob a promessa de não roubar e não deixar roubar.

Pelas perguntas e recomendações que ouviu de Lula sobre contratos com a construtora de navios SBM e sobre o projeto de sondas, Duque contou ter ficado surpreendido com o nível de informação do então ex-presidente sobre tais assuntos.

- (...) Nessas três vezes - resumiu Duque - ficou muito claro pra mim que ele tinha pleno conhecimento de tudo e... detinha o comando.

Aos 69 anos, o engenheiro Duque está preso. Fecham-se as cortinas para o "ator". Mas e a peça? Terá saído de cartaz?

A pergunta tem caráter retórico, meramente. 

Os adolescentes e os resultados do Ideb: uma reflexão

A divulgação dos dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) revelou que nosso país não atingiu as metas nas séries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Certamente que não devemos absolutizar a importância deste índice, uma vez que a qualidade da educação também é composta por dimensões não mensuráveis; todavia, exige que pensemos os elementos gerais que este diagnóstico nos oferece. Enquanto um indicador nacional que orienta a produção das políticas, o Ideb explicita algumas limitações no alcance de nossas políticas educacionais.

Tenho defendido que precisamos reorientar as atividades escolares a partir de movimentos mais sensíveis às questões de nossa época, o que pode também favorecer reflexões acerca destes resultados. Quero chamar atenção para dois pontos que considero importantes. O primeiro ponto é que os sistemas de ensino precisam produzir respostas mais sintonizadas às demandas locais e regionais no momento de planejar seus desenhos curriculares e formativos. Ainda que o Ideb nos ofereça um mapeamento global, os sistemas de ensino falham ao produzir respostas universais para corrigir as desigualdades evidenciadas pelo indicador. Isto é, a existência de um indicador global requer respostas contextuais (e não padronizadas).

O outro aspecto refere-se a nossa incapacidade de direcionar a atenção para a adolescência. O ponto cego das políticas curriculares (da gestão dos sistemas de ensino e, também, da formação de professores) é a sua incapacidade de direcionar um olhar compreensivo para as transformações que estão ocorrendo na adolescência. 

Acompanha esse aspecto o reconhecimento de que as desigualdades experimentadas nesta faixa etária podem ser mais bem detalhadas e requerem modelos específicos de monitoramento e de diferenciação pedagógica. Enfim, tenho desafiado os gestores a apresentarem assessorias especializadas e políticas mais audaciosas na direção de produzir uma nova sensibilidade pedagógica para a escola dos adolescentes. _

Roberto Rafael Dias da Silva - Professor da Escola de Humanidades da Unisinos

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