08
de junho de 2014 | N° 17822
ANTONIO
PRATA
Vai ter
toldo
Cada
vez que leio sobre os gastos com a Copa, lembro do meu casamento e das
intermináveis discussões a respeito do toldo. Quem já trocou alianças numa casa
ou num local aberto sabe do que estou falando. Chega uma hora na organização de
todo casório em que alguém – uma sogra, um cunhado, um conhecido da prima da
vizinha – levanta a questão: “Não vai botar toldo? E se chove, gente? Que isso,
tem que ter toldo!”.
Você
concorda, achando que é só bater uns preguinhos nas paredes, esticar umas
cordas de varal e comprar uma lona, mas descobre, pela expressão aterrorizada
da sua futura esposa, ao ouvi-lo, que a coisa é um pouco mais complexa. Existem
empresas que instalam toldos – e cobram uma fortuna por isso. Percebendo que
talvez tenha que vender o carro (ou o corpo) pra pagar a conta, você se
pergunta: vale a pena gastar essa fábula pra cobrir uma área que será usada por
cinco, dez horas, no máximo?
Quando
vejo as pessoas revoltadas com o fato de estarmos realizando um Mundial, lembro
do toldo, pois é disso que se trata uma Copa, uma Olimpíada: de uma festa. Ainda
que houvesse um grande legado urbanístico (não haverá), o grosso do dinheiro é
mesmo gasto num evento que dura um mês. Pode um país com tantos problemas, como
o nosso, gastar essa grana?
Para
complicar ainda mais a questão, teve (tem) um monte de coisa errada na
organização da festa. Indícios de superfaturamento do toldo, desvio de
bem-casados, DJ que ainda não instalou as caixas, meia hora antes dos
convidados chegarem. Mas torcer para que o Brasil perca, para que a energia
acabe, para que o rei da Suécia pegue dengue e as privadas de todos os hotéis
das cidades sede entupam, como tanta gente por aí está torcendo, é uma atitude
politicamente tão inteligente e construtiva quanto demorar mais no banho para
derrubar o Alckmin, em São Paulo. A Copa ser um fiasco não alfabetizará a
população, não resolverá a saúde pública, não melhorará o transporte. Nos
deixará na mesmíssima situação – só que com um fiasco de Copa.
Não
estou dizendo que devemos liberar a Joana Havelange que vive em cada um de nós:
“O que tinha que ser roubado, já foi”. Nada tinha que ser roubado. Que se ponha
atrás das grades quem roubou. Que se aproveite todos os holofotes mundiais para
se esticar faixas e cartazes contra o estado das nossas escolas e dos nossos
hospitais, a falta de moradias e de transporte.
Mas,
a partir desta semana, Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Klose, Eto’o, Drogba e
tantos outros estarão jogando em nossos gramados. Os maiores jogadores do
mundo, no maior espetáculo do futebol. Se privar de viver essa experiência, seja
nos estádios, nas praças, nos bares, em casa ou mesmo durante uma justíssima
manifestação, pela internet do celular, não fará o Brasil melhor, só deixará
sua vida mais chata.