FILIPE
COUTINHO DE BRASÍLIA
04/06/2014 12h31 - Atualizado às 14h47
BB, Caixa e outros órgãos gastam R$ 9 mi em ingressos da Copa para
VIPs
Um
grupo de milionários, empresários e parceiros "estratégicos" vai
assistir os jogos da Copa do Mundo sem pagar nada, com ingressos pagos por
bancos e outros órgãos públicos ou de economia mista.
No
total, a Folha mapeou compras de R$ 9,1 milhões em ingressos. As compras foram
acertadas com a operadora da Fifa desde 2012 —bem antes da liberação deste
último e concorrido lote de ingressos.
A
maior fatia, R$ 5 milhões, foi paga pelo Banco do Brasil, empresa de economia
mista que tem o governo federal como o principal acionista. O BB não revela
quantos ingressos comprou, nem para quais jogos.
Os
ingressos serão distribuídos a clientes escolhidos a dedo pelo banco. A
prioridade do BB é o segmento "ultra high", para clientes com
investimentos acima dos R$ 50 milhões. Representantes de grandes empresas
também foram agraciados pelo banco.
A
Caixa Econômica, por outro lado, abriu os cofres para agradar seu público
interno. No total, serão 480 ingressos, para 14 partidas, a R$ 1,8 milhão. A
campanha "Bateu é Gol", destinada aos donos das lotéricas, distribuiu
320 ingressos, a R$ 1,5 milhão.
O
resto foi para a campanha de incentivo "Vai Brasil", destinados aos
empregados do banco. O melhor jogo pago pela Caixa é da fase de quartas de
final. Em Brasília, o BRB, banco cujo acionista majoritário é o governo do
Distrito Federal, gastou R$ 1,2 milhão em 30 ingressos para clientes para cada
um dos sete jogos na capital.
Na
arena de Recife, uma empresa do governo de Pernambuco garantiu com a Fifa um
camarote para os cinco jogos que acontecerão no local. A compra foi feita pela
administração do Porto de Suape, que selecionará executivos de empresas
"estratégicas" para irem aos jogos e, também, visitarem o complexo.
O
camarote tem 18 lugares —dois representantes do porto vão ciceronear os
empresários. A ideia é, a cada jogo, mudar o grupo de convidados. A ação
custará R$ 745 mil.
No
Rio, o Brasil Resseguros comprou R$ 411 mil, para jogos na capital fluminense.
A compra foi feita em março. Em outubro, foi finalizado o processo de
privatização da estatal —entre os principais acionistas está o Banco do Brasil.
A
Folha questionou esses órgãos se entre os recebedores de ingressos havia
políticos. Banco do Brasil, BRB, Caixa e o Porto de Suape negaram. O Brasil
Resseguros informou que os ingressos irão para "clientes selecionados em
função de parcerias negociais".
Editoria
de Arte/Folhapress
RECOMENDAÇÃO
Nos
últimos meses, promotorias de diversos Estados recomendaram aos governos locais
que não usem dinheiro público para comprar ingressos. Em Brasília, por exemplo,
a promotoria do DF afirma que a compra pode se enquadrar em
"irregularidade e desvio de finalidade na despesa pública, pois o gasto
não almeja o atendimento do interesse público".
O
Ministério Público do DF avalia se o caso do BRB, por ser um banco, se enquadra
na recomendação. O banco respondeu aos questionamentos da promotoria, que
analisa a documentação. O governo de Pernambuco também recebeu recomendação
similar.
Em
2013, apesar de questionado pelo MP do DF, foram adquiridos ingressos e
camarotes no valor de quase R$ 3 milhões por outra estatal do governo
distrital. A compra foi parar na Justiça.
OUTRO
LADO
Os
bancos públicos e órgãos que compraram ingressos para a Copa do Mundo defendem
a prática. Segundo o Banco do Brasil, estratégia semelhante é adotada pelos
concorrentes de mercado. "O Banco do Brasil adquiriu ingressos para
convidar os melhores clientes do segmento de alta renda e representantes de
grandes empresas, como parte de sua estratégia de marketing".
A
justificativa do BRB vai na mesma linha do Banco do Brasil. O banco disse ainda
que a compra foi feita antes da recomendação do Ministério Público.
"O
BRB esclarece que se trata de uma ação estratégica de negócio e mercadológica,
comum no segmento de varejo bancário, e que visa a consolidação da marca na
cidade, perante seus clientes e a população", disse.
A
Caixa, por sua vez, disse que a compra serviu como incentivo para os
funcionários e donos de lotéricas que bateram metas. A administração do Porto
de Suape disse que o complexo serve como "âncora" para investimentos
em Pernambuco.
"O
camarote é exclusivo para que representantes de Suape recepcionem executivos de
empresas consideradas estratégicas para Pernambuco, para o adensamento e/ou estímulo
de cadeias produtivas".
A
administração de Suape esclarece, ainda, que a compra foi feita antes da
recomendação do Ministério Público, dentro da legislação, e que tem receita
própria, sem depender de repasses do governo. O Brasil Resseguros informou que
a "aquisição de ingressos para competições esportivas é uma das ações de
relacionamento voltada, exclusivamente, para clientes selecionados em função de
parcerias negociais.