sábado, 23 de abril de 2022


23 DE ABRIL DE 2022
FLÁVIO TAVARES

RELEMBRANDO

O passado não é aquilo que passa, mas o que fica do que passou. Cito a frase de Tristão de Ataíde para me referir ao que descobriu agora a jornalista e escritora Miriam Leitão: nos tempos da ditadura, ministros-generais do Superior Tribunal Militar sabiam das torturas aos presos políticos e trocavam ideias sobre isso.

Mais do que tudo, lembro para exaltar o comportamento de dois ministros - o almirante Júlio Bierrenbach e o general Rodrigo Octávio Jordão. O primeiro descobriu que a bomba que (ao ser armada) explodiu no colo de um capitão e o matou se destinava aos milhares de jovens presentes à festa de 1° de maio de 1981, num auditório no Rio de Janeiro, em plena "abertura" do governo do general João Figueiredo. O inquérito militar tinha falsamente culpado "subversivos de esquerda" para travar a liberalização do regime.

Em março de 1971, auge da ditadura do general Emílio Médici, o general Rodrigo Octávio pediu a revogação do famigerado AI-5 "para devolver à Justiça as garantias inseparáveis do pleno exercício da magistratura". Logo, tentou processar os torturadores de presos políticos, citando o caso do ex-deputado Marco Antônio Coelho, morto num quartel militar.

Em seis anos no STM, defendeu eleições livres "em todos os níveis". Quando o tribunal militar descumpriu a tradição de eleger o membro mais antigo para presidi-lo (e que recairia nele), pediu demissão, selando a discordância com a ditadura.

Hoje, quando políticos próximos ao presidente da República sugerem regredir aos anos brutais do AI-5, basta lembrar as posições do general Rodrigo Octávio para afirmar que eles buscam o absurdo.

As Forças Armadas não podem ser transformadas em biruta que oscile em acordo aos ventos dos áulicos do presidente da República.

Nas tempestades, vale repetir os alertas, como agora, em que os casos de dengue crescem e se juntam ao horror da covid-19.

Contraí dengue anos atrás e sei da brutalidade do Aedes aegypti, que, por nosso desdém, se reproduz até em água com coloridas flores.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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