terça-feira, 19 de setembro de 2023


19 DE SETEMBRO DE 2023
INFORME ESPECIAL

Pior do que a guerra

Impossível não sentir um arrepio ao ver os relatos que continuam chegando da Líbia. A catástrofe que arrasou o país é descrita como "pior do que a guerra". Fala-se em 20 mil mortos. Sim, estamos longe, a mais de 10 mil quilômetros de distância, vivemos em condições diferentes, mas temos muito a aprender sobre o que aconteceu lá.

Os líbios também foram alvo de um fenômeno meteorológico extremo, um ciclone ainda mais forte do que aquele que atingiu o RS. Lá, como aqui, guardadas as devidas proporções, a cadeia de prevenção e alertas também não funcionou como deveria.

Muito disso se explica, na Líbia, pela divisão política instaurada após a queda de Muamar Kadafi do poder, em 2011. O país tem dois governos rivais. Avisos internacionais sobre a gravidade do ciclone foram emitidos com antecedência, mas as autoridades agiram de forma desencontrada. Os comunicados enviados à população foram genéricos, confusos e equivocados.

Dez minutos depois da explosão ouvida em Derna - devido ao rompimento de represas sem manutenção, outro problema - as pessoas foram orientadas a ficar em casa. Foi fatal. O "tsunami" de água e negligência levou tudo. A tragédia foi multiplicada pela cisão e incompetência dos governantes.

É evidente que, aqui, a situação é totalmente diferente, e qualquer comparação é injusta. Mas temos de reconhecer que também falhamos - governos, sociedade, imprensa - ao sermos surpreendidos pela tragédia. E, sim, precisamos urgentemente melhorar o nível de precisão do nosso sistema de alertas.

Os avisos sobre o temporal foram disparados pela Defesa Civil, eu os recebi, sei disso. Não se limitaram a um ou dois. Foram vários, mas todos de cunho geral, incapazes de fazer com que as pessoas se dessem conta da real dimensão do que viria pela frente.

Além disso, não foi à toa que hidrólogos da UFRGS concluíram que o potencial de desastre no Vale do Taquari poderia ter sido previsto "com várias horas de antecedência". Poderia mesmo. Precisamos admitir isso e olhar para o que acontece ao redor do mundo - inclusive a 10 mil quilômetros - para de fato evoluir.

JULIANA BUBLITZ

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