quinta-feira, 28 de setembro de 2023


27 DE SETEMBRO DE 2023
POLÍTICA +

Enchente escancara crise na habitação

As enchentes de setembro - assim, no plural - deram visibilidade a um problema histórico do Rio Grande do Sul em geral e de Porto Alegre em particular, que é o das famílias que vivem em áreas de risco alto ou muito alto. A falta de moradia e a promessa de solução, temas recorrentes nas campanhas eleitorais, viram esquecimento nos anos seguintes porque a sua maneira as famílias se adaptam às construções que não oferecem nem conforto nem segurança, mas são o único teto disponível.

O secretário de Habitação, André Machado, que desde o início da gestão de Sebastião Melo corre atrás de dinheiro para tirar projetos habitacionais do papel, já não se espanta com a dificuldade em convencer as pessoas a saírem das áreas de risco. Nas conversas com as comunidades, passou a entender os motivos pelos quais as pessoas insistem em ficar, mesmo quando é oferecida a possibilidade de aluguel social ou de compra de uma casinha em outros bairros:

- Não podemos forçar as pessoas a saírem, nem transferir para o outro lado da cidade. Elas formam vínculos, trabalham perto de onde moram, e não querem sair dali, mesmo sabendo que volta e meia terão de se abrigar por causa de uma enchente.

A preocupação do secretário é menor com os moradores das ilhas do que com os que vivem nas encostas dos morros ou à beira de arroios. Porque o Guaíba sobe lentamente, dificilmente alguém vai morrer afogado. O problema é o desmoronamento de casas, como ocorreu na Vila Mato Grosso, região da Cruzeiro do Sul e Cristal.

- A enxurrada e o desmoronamento podem provocar mortes. Por isso, estamos tentando convencer as pessoas a saírem das áreas de risco alto ou muito alto - diz o secretário, lembrando que são 14 mil pessoas vivendo nessa condição.

Se considerar todas as áreas de risco, o número sobe para 80 mil. André não tem o que oferecer de imediato. Os projetos que a prefeitura tem aguardam financiamentos ou decisão federal ou estadual. Foram oferecidas 15 áreas à União para projetos do Minha Casa, Minha Vida, mas o resultado da seleção só deve sair nos próximos dias. Seis anos sem um programa federal de construção de moradias pioraram uma situação que já era crítica.

Que outra solução se poderia ter? O Centro de Porto Alegre tem milhares de imóveis vazios, públicos e privados. Por que não reformar, em vez de começar do zero, e transformar em moradia para famílias de baixa renda? O prefeito Sebastião Melo quer reformar prédios como o da Smed e transformá-los em habitação de interesse social.

A situação das famílias desabrigadas deveria unir os vereadores de Porto Alegre para apressar a aprovação do projeto que autoriza o uso de parte dos recursos da futura venda do prédio da antiga Smov em um projeto habitacional no bairro Humaitá. Quem se omitir ficará sem moral para criticar a falta de políticas de habitação.

ROSANE DE OLIVEIRA

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