sábado, 21 de outubro de 2023


21 DE OUTUBRO DE 2023
J.J. CAMARGO

HÁ MUITO ÓDIO SOLTO POR AÍ 

"Na vida eu nunca perco. Ou eu ganho, ou aprendo!" (Nelson Mandela). O mundo nunca foi o jardim da paz e da fraternidade. Pelo contrário, sempre deixou transparecer uma capacidade restrita de amar e ilimitada de odiar.

Os atentos conseguem perceber aqui e ali, sob os mais variados mantos de hipocrisia e dissimulação, esse instinto bestial contido com enorme dificuldade pelas barricadas reguladoras da autocrítica e da lei. Mas de vez em quando, aleatoriamente, e nos últimos tempos mais amiúde, se rompe o verniz da civilidade, e o monstro arreganha os dentes.

Pressionados a chamar de "moderno" esse tempo atroz, temos sido frouxos na indignação, como se fôssemos obrigados a aceitar a recorrência dessas vilanias como sendo inevitável e então, se assim fosse, nada nos restaria fazer senão desenvolver resiliência para conviver com elas. E claro, de boca fechada.

Para piorar ainda mais, vem ocorrendo nas últimas décadas uma grande subversão dos conceitos elementares de relacionamento humano civilizado. E esse sentimento vil passou a ser estimulado pela radicalização, mormente a ideológica neste século e, desde sempre, a religiosa.

Como era de se esperar, a fusão dessas duas condições extrapolou os limites do absurdo, culminando com a mais abjeta das iniquidades humanas: a banalização da morte. E quando se iniciou o que parece ser uma disputa escancarada para ver quem consegue ser mais repulsivo, aquele psicopata capaz de matar indiscriminadamente passou a figurar no alto do pódio e merecedor do aplauso dos descerebrados.

A sensação de pasmo e impotência explica a depressão contagiante de quem acompanha os boletins de notícias do front israelense. Nem os alienados, que não sendo judeus nem tendo nenhum conhecido vivendo na zona do confronto, tenderiam a seguir assim, indiferentes, estão conseguindo ignorar as imagens que chegam de lá.

Não bastasse o show diário de torpezas, uma sensação de absoluta incredulidade tomou conta da imensa maioria de brasileiros lúcidos que assistiram durante um minuto (sinto que mais do que esse tempo resultaria na incapacidade de conter a náusea) um bando de conterrâneos imbecis agitando bandeiras internacionais em apoio ao Hamas, esse grupo que degola crianças para anunciar ao mundo que nada ou ninguém deterá esse exército de homens tão corajosos.

Todos já ouviram falar da complexidade geopolítica do Oriente Médio, mas antes de pretendermos esse entendimento não podemos ignorar que, antecedendo a qualquer conflito, está o direito inegociável à vida, e isso, e só isso já torna vexatória a horda de brasileiros desocupados fazendo passeata em prol de um movimento de assassinos. Sem contar o risco presumível que correram de serem presos pelos nossos juízes, sempre isentos na defesa da democracia.

Ou será que essa exposição pública tinha apenas a bizarra intenção de estarrecer ainda mais os seus desafetos que lhes atribuíam, em silêncio constrito, o diagnóstico de alienação clamando por notoriedade? Vá saber! O ócio crônico é um poderoso fermento da irracionalidade.

J.J. CAMARGO

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