22
de maio de 2015 | N° 18170
MARCOS
PIANGERS
O mundo está muito
chato
Percebo
uma insatisfação generalizada com relação à chatice do mundo. As pessoas
reclamam que o mundo está muito chato, que tudo hoje em dia é vigiado, que a
vida chegou ao limite do “não pode”.
O
mundo era esse lugar legal. Numa época remota, o pessoal andava pelado e comia
fruta direto da árvore. Usavam umas tanguinhas e tinham uma dança pro caso de
necessidade de chuva. Tudo se curava com umas ervas amassadas. Era um lugar
divertido e perigoso, e em algum momento decidimos que precisávamos de
conforto.
Era
hora de arrumar emprego fixo, com carteira assinada. Era hora de parar de
caçar. Inventamos o macarrão instantâneo e todos os nossos problemas estavam
solucionados. Nossas ocas agora têm videogames de última geração e televisores
4k.
Eventualmente
alguém tenta desafiar a chatice do mundo. Nos anos 70, por exemplo, quando as
pessoas usavam drogas e dançavam na lama ao som de Janis Joplin. As mulheres
faziam amor com todos os caras disponíveis enquanto artistas colocavam fogo em
guitarras. Aquilo era tudo, menos um mundo chato.
Lamentavelmente,
aquelas meninas são agora todas mães de família e todos aqueles hippies estão
velhos e com algum tipo de lesão cerebral. As tatuagens daquela época parecem
borrões, tais quais as memórias.
Não
é fácil não ser chato. Aqueles que ficam horrorizados com piadas politicamente
incorretas, estes que agora reclamam que o mundo está muito chato. O mundo está
muito chato, especialmente por causa das pessoas que dizem que o mundo está
muito chato. O mundo é este lugar enorme em que nunca foi tão fácil e barato
fazer as coisas de um jeito diferente. Lutar contra a chatice é um exercício do
dia a dia.
Em
algum lugar deste planeta, as pessoas estão fazendo algo diferente. Quebrando
regras. Se você não está, não é o mundo que está muito chato. É você.