16
de maio de 2015 | N° 18164
NÍLSON
SOUZA
NOVECENTAS PÁGINAS
De
tanto ouvir que ninguém mais lê, já estava quase convencido disso, inclusive em
relação a mim mesmo. São tantos os apelos da agitada vida digital, tão
atraentes as telinhas luminosas, tantas as tarefas a executar, que a leitura
mais demorada e aprofundada vai ficando para as calendas gregas.
Os
convertidos pela tecnologia contrapõem que nunca se leu tanto, pois até a mais
antiga forma de comunicação da humanidade, a fala, está sendo substituída pela
palavra escrita. Escrita não, digitada. Pessoas próximas, às vezes sentadas à mesma
mesa, preferem trocar mensagens a conversar. Mas é uma leitura rasa, que
reflete mais a ansiedade dos interlocutores do que suas ideias.
E os
livros? Outro dia, um colega foi a um sebo de periferia e perguntou para a
proprietária se ela ainda conseguia vender alguma coisa. A resposta foi
surpreendente:
– Graças
à internet, estamos vendendo bem.
Então
ela contou que o cliente presencial, aquele que frequentava livrarias,
praticamente desapareceu. Mas as encomendas pela internet se multiplicam. Se as
pessoas leem os livros que encomendam, são outros quinhentos.
Acho
que leem. E vou por minha própria experiência. Acabei de derrubar um calhamaço
de 910 páginas. Pensei que não conseguiria. Na verdade, pensei que nem começaria.
Mas resolvi ler a introdução do best-seller Queda de Gigantes, de Ken Follet, e
não consegui mais largar o livro do escritor britânico. Em poucas semanas,
cheguei ao final e já comecei o segundo volume da trilogia O Século – Inverno
no Mundo – que também tem mais de 800 páginas. Quando a história é boa, a gente
embarca nela e não fica contando páginas.
Queda
de Gigantes é um excepcional relato do primeiro terço do século 20, que envolve
a I Guerra Mundial, a Revolução Russa e o voto feminino. Follet conta tudo isso
pela ótica de pessoas comuns, e não pela visão dos vencedores, interligando
cinco famílias de países diferentes e misturando ficção com realidade.
Alemães,
ingleses, galeses, russos e norte-americanos, personagens históricos e
inventados, vivem aqueles dias agitados diante dos nossos olhos, em páginas
escritas com talento e emoção. Ele contou com a ajuda de oito historiadores
para deixar a sua ficção mais fiel à realidade.
Não
dá para não ler. Uma história bem contada sempre terá leitores.