12
de maio de 2015 | N° 18160
LUIZ
PAULO VASCONCELLOS
O PEQUENO GRANDE OTELO
Há cem
anos nascia um dos maiores atores do cinema brasileiro e um precursor no
combate ao racismo: Grande Otelo. Embora baixo, feio e negro – três condições
nada favoráveis a uma carreira de ator –, Sebastião Bernardes de Souza Prata,
nascido em Uberlândia, Minas Gerais, notabilizou-se como um comediante diante
de quem era impossível conter o riso, seja pela expressividade do olhar, seja
pela seriedade com que assumia seus personagens cômicos.
E
tudo isso – é necessário que se diga – numa época em que negros eram proibidos
de entrar pela porta da frente do Cassino da Urca, a mais importante casa
noturna do Rio de Janeiro. Pois quando foi contratado para participar de shows
musicais, contrariando as regras da casa, rompeu com o preconceito e passou a
usar a porta da frente.
O
pseudônimo surgiu quando estudava canto numa companhia de ópera, e os colegas o
chamavam de Pequeno Otelo, por causa do personagem negro da ópera de Verdi,
baseada na peça homônima de Shakespeare. A partir daí, passou a autointitular-se
The Great Othelo, traduzindo mais tarde e adotando definitivamente como nome
artístico.
No
cinema, além das famosas chanchadas produzidas pela Atlântida – a primeira
produtora de cinema do país –, que lhe deram reconhecimento nacional ao lado de
Oscarito, Ankito e José Lewgoy, Grande Otelo chegou a atuar em 1942 sob a direção
de Orson Welles num filme intitulado It’s All True, filmado no Brasil, mas que,
infelizmente, ficou inacabado por problemas financeiros.
Outros
filmes importantes que fez foram Rio, Zona Norte (1957), de Nelson Pereira dos
Santos; Assalto ao Trem Pagador (1962), de Roberto Farias; Macunaíma (1969),
baseado no romance de Mário de Andrade, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade;
e Fitzcarraldo (1982), de Werner Herzog, filmado na Floresta Amazônica. Sua
carreira no cinema se estendeu de 1935
a 1997, com um total de 119 filmes, possivelmente uma
das mais longas da história do cinema.
Grande
Otelo morreu de infarto em Paris, aos 78 anos, quando se dirigia ao Festival de
Nantes, onde seria homenageado.