20
de maio de 2015 | N° 18168
MOISÉS
MENDES
Patos e
galinhas
Até
o ano passado, temi que algum estudo sociológico denunciasse as reais intenções
da Galinha Pintadinha com as crianças brasileiras. Não queria me decepcionar,
gosto muito da Galinha (com G maiúsculo). É nacional, canta músicas nossas,
adora baião e festa junina e hipnotiza as crianças.
Temia
que aparecesse alguém dedurando a Galinha, como aconteceu nos anos 70. Eu já
era barbado e lia o Pato Donald, quando o chileno Ariel Dorfman desmascarou
todos os patos. O livro Para Ler o Pato Donald delatava um esquema para a
dominação do mundo.
Os
patos representavam o que havia de pior no capitalismo. Donald e os outros
reproduziam as mensagens dos colonizadores. Nós todos da periferia seríamos os
verdadeiros patos.
Dorfman
pediu desculpas mais tarde. Havia exagerado até com o Tio Patinhas. Mas fiquei
com a sensação de que toda historinha inocente tem uma sacanagem subliminar
deliberada, uma intenção encoberta que nos logra. Sempre me impressionei com
essas leituras sociológicas (das psicanalíticas gosto muito e um dia trato
disso).
Joaquim,
meu neto de quatro anos, dormia vendo os vídeos da Galinha, depois se apaixonou
pela Peppa e este ano se aproximou mais da Turma da Mônica. Murilo, o outro
neto, de três anos, adora a Galinha e – acredite, Dorfman – o Mickey.
Que
influência a Galinha pode ter na formação deles? Minha porção fronteiriça
pergunta: por que não um Galo Pintadão? Por que a Galinha não tem irmão, pai,
mãe? O solteirão Donald tinha a Margarida, os sobrinhos e um tio.
Mas
meus medos se foram, e Joaquim e Murilo podem comemorar. A Galinha Pintadinha
nacional venceu o americano Justin Bieber no YouTube no Brasil. Um vídeo do
site da Galinha foi o mais visto no país desde o começo do YouTube, em 2005.
Torcemos
também pela Peppa e pelo George, que nem apareceram no ranking. Gostamos muito
deles, mas às vezes desconfio de que há algo errado. É muito certinha aquela
família da Peppa. Sei não.
Hoje,
às 19h, no plenarinho da Assembleia, um encontro com tema que me agrada muito:
Juntos contra o ódio e a intolerância na internet (#humanizaredes). Iniciativa
da deputada Manuela d’Ávila, que participa da conversa com o Luciano Potter, o
Juremir Machado da Silva e este avô do Joaquim e do Murilo.