26
de maio de 2015 | N° 18174
LUIZ
PAULO VASCONCELLOS
QUE VOLTEM OS CRÍTICOS!
Luciano
Alabarse publicou na semana passada uma coluna sobre a função da crítica. Volto
ao assunto porque não me conformo com a ausência da crítica nos nossos jornais.
O foco do texto do Luciano foi como as coisas devem ser ditas. O foco do meu
texto é a necessidade de ser dito, seja como for.
Quando
cheguei a Porto Alegre, 45 anos atrás, circulavam na cidade sete jornais diários
– Folha da Manhã, Folha da Tarde, Correio do Povo, Última Hora, Zero Hora, Diário
de Notícias e Jornal do Comércio. Neles, escreviam regularmente sobre teatro
Fernando Peixoto, Aldo Obino, Antonio Hohlfeldt, Marcelo Renato, Décio Presser,
Luiz Carlos Lisboa, Caio Fernando Abreu, Maristela Bairros, Claudio Heemann e
alguns outros, inclusive eu. Hoje, de todo esse time, restou o Hohlfeldt, o último
a resistir ao modelo jornalístico que aboliu a opinião especializada em nome da
mercantilização da arte.
Mas
volto às minhas reivindicações. Crítica é memória, polêmica, discussão. Troca,
argumentação, diálogo. O crítico é aquele que percebe e proclama o novo ao
mesmo tempo em que fareja e revela o equívoco e a incompetência. Uma arte sem
crítica está ameaçada por perigos avassaladores, mediocridade, estrelismo, fórmulas
prontas, modismos e muitas outras coisas que estacionam na periferia da criação
artística.
E a
função do crítico se amplia na medida em que o palco é um espaço de atualização
do texto, de interpretação do texto, de contextualização do texto. Ainda mais
em tempos de indefinição dos gêneros, teatro, dança, vídeo, performance,
instalações e o diabo a quatro. Ainda mais diante da ação imperialista do
modelo televisivo brasileiro. É aí que entra o crítico, o bom crítico, aquele
que tem formulado para si o que a arte deveria ser, muito embora não hesite em
colocar em dúvida todas as suas certezas ao se confrontar com um novo
acontecimento teatral.
Que
voltem os críticos! Até mesmo no estilo Paulo Francis – que o Luciano tanto
odiava, mas que pelo menos dizia tudo o que devia ser dito.