sábado, 30 de maio de 2015


30 de maio de 2015 | N° 18178
CLÁUDIA LAITANO

452 a 19

Apenas 19 deputados manifestaram-se a favor da reeleição para o Poder Executivo na votação da reforma política realizada nesta semana. Acachapantes 452 foram contra. A proposta de acabar com a reeleição ainda precisa ser votada em segundo turno na Câmara antes de seguir para o Senado, mas já é evidente para que lado o vento político está soprando.

Os motivos para um consenso tão grande contra um mecanismo chancelado pelo próprio Congresso há apenas 18 anos provavelmente têm menos a ver com debates de alto nível sobre gestão pública do que com interesses políticos. Fora da patota do “primeiro eu”, cada vez mais forte e expedita, porém, devem existir deputados que são genuinamente contra a reeleição. Para esses, a curta experiência de recondução mostrou-se um passe live para que políticos extraiam até a última gota de benefícios da máquina administrativa para permanecer no poder.

Descontados oportunistas, pragmáticos e desiludidos, portanto, restaram apenas 19 deputados. Entre esses, alguns devem pensar como eu: erra-se mais tirando alguém que está fazendo um bom trabalho e confiando no juízo do eleitor para dizer quem parte e quem fica do que montando e desmontando projetos o tempo todo (como no governo do nosso Estado, por exemplo).

Não tenho nenhuma experiência na administração pública, mas na iniciativa privada é comum ver boas ideias que demoram a dar resultados. Se a Apple começasse tudo de novo, do zero, de cinco em cinco anos, e não pudesse aprender com os próprios erros e acertos, o iPhone só seria inventado em 2020.

Claro que a reeleição não resolve todos os problemas, e às vezes não é sequer garantia de que um bom trabalho vai ter continuidade, já que ministros e secretários eficientes num governo podem bailar no outro se suas pastas virarem moeda de troca política, mas era um avanço – especialmente depois que a Lei de Responsabilidade Fiscal tornou mais difícil a gastança inconsequente.


O Brasil da reeleição é o que confiava na possibilidade de que a gestão pública um dia viesse a ser encarada com algum tipo de idealismo e seriedade. O Brasil sem reeleição é o que capitulou não apenas à realpolitik, mas à turma do “primeiro eu”.