21
de maio de 2015 | N° 18169
ARTIGO
- ITAMAR MELO*
AS DROGASE A
VIOLÊNCIA
Como
percebe qualquer um que tenha acesso à internet, opinião é o artigo mais
abundante nos dias que correm. Esfregam-nos opinião nas fuças da manhã à noite,
sem timidez ou piedade. Sendo assim, e para poupar fermento ao confeito
supérfluo dos palpites, eu gostaria de aproveitar este espaço não para dar, mas
para questionar uma opinião – uma opinião que vem sendo repetida com mais
insistência do que consistência.
Já
há alguns anos, sempre que se fala da brutal violência que envolve o tráfico no
Brasil e que afeta a todos nós, vozes se levantam para situar a origem do mal
no cidadão usuário de drogas. O raciocínio, jamais questionado, é de que o
consumo gera o tráfico e o tráfico gera a violência.
A
primeira parte dessa equação pode ser verdadeira, mas talvez seja proveitoso
examinar com mais vagar a segunda. Para tanto, um primeiro passo seria
consultar as estatísticas sobre consumo de entorpecentes da Organização das
Nações Unidas. O que elas mostram é que o Brasil não figura entre os países
onde o uso é mais prevalente. Nesse particular, o troféu vai para nações ricas,
principalmente na América do Norte e na Europa. Somos superados no vício,
inclusive, por alguns de nossos vizinhos sul-americanos.
Se
estivesse correta a opinião segundo a qual é o uso de drogas que fomenta as
guerras e chacinas do tráfico, seria de esperar que a violência fosse extrema
nos Estados Unidos, na Espanha, na Austrália e na Inglaterra, para citar alguns
campeões no uso de cocaína. Não é o que se verifica. Esses países mostram que é
perfeitamente possível haver consumo elevado sem que isso se traduza em
mortandade e insegurança generalizada. Não há relação direta entre tamanho do
mercado e crime.
Não
levanto essas questões para aliviar a consciência de quem usa drogas. A
preocupação aqui é outra: a ideia de que compreender mal um fenômeno e suas
causas não vai contribuir em nada para achar uma solução.
Que
tal perguntarmos por que, em países como o Brasil e o México, o tráfico produz
disputas, barbárie e violência muito maiores do que em países onde o mercado é
mais apetitoso? Quais os motivos para que, aqui, o crime e a violência surjam
como opções válidas, vantajosas e naturais para tantos jovens?
Até
tenho alguns palpites a respeito dessas razões – mas aí já seria dar opinião.
*Repórter
de Zero Hora itamar.melo@zerohora.com.br