Jaime
Cimenti
Os livros e eu
Desde
o século passado, na querida Bento Gonçalves, no Grupo Escolar Angelo Roman
Ros, com a professora Adyles Ros de Souza, a paixão pela escrita e pelos livros
me pegou. Faz mais de 50 anos e, pelo visto, a coisa vai longe - quem sabe
outros 30 ou 40 anos, se o alemão não me pegar ou se não for chamado para o
andar de cima. Isola.
Lá
por 1975, estudava Direito na Ufrgs e escrevia notas de livros para o vibrante
jornal Minuano, do Diretório Estadual de Estudantes, editado pelo jovem
acadêmico de Direito e Jornalismo Fernando Di Primio, que se tornou um ícone do
jornalismo brasileiro, especialmente publicações para órgãos de classe e
empresas. Com ele e José Luiz Prévidi, por exemplo, cobrimos o Festival de
Gramado no tempo em que a Sônia Braga era tri guria, a Gabriela, fazendo furor
na beira da piscina do Serra Azul.
Numa
tarde de 1975, bati numa casa na rua 24 de Outubro. Abriu a porta o jovem,
elegante e simpático Ivan Pinheiro Machado, editor da iniciante L&PM. Disse
que era colunista do Minuano, que precisava de livros. Ele gentilmente me disse
para sentar numa poltrona, foi até uma estante e voltou com uns 10 ou 12 livros
na mão, me entregou e disse: Jaime, aqui estão todos nossos títulos editados,
pode levar.
Agradeci.
Rango, do Edgar Vasquez, estava ali, junto com os dois volumes da Enciclopédia
Brasileira do Humor e outros. Como todo mundo sabe, Rango foi o primeiro livro
editado pela L&PM, com prefácio do Erico Verissimo. Já no início, era
visível a qualidade das capas e os cuidados da editora, que completa 40 anos,
para alegria de todos nós, gaúchos e brasileiros.
Na
minha primeira coluna no Minuano, citei acho que O popular, do Luis Fernando
Verissimo, que o seu Maurício Rosenblatt, da Editora José Olympio, tinha me
passado. Alguém me disse que não era para eu ter falado no livro, porque o Luis
Fernando era meio comunista...
Carlos
Jorge Appel, Paulo Ledur, Luis Gomes, Antonio Suliani, Frei Rovilio Costa,
Rodrigo Rosp, Roque Jacoby e muitos outros editores e distribuidores
prestigiaram e têm prestigiado a coluna, durante estas décadas.
Depois
de algum tempo, lembro-me de que passei a escrever notas de livros para o
Jornal do Comércio, onde me relacionava com um jovem jornalista chamado João
Egydio Gamboa, sempre muito gentil e paciente comigo. Não vou conseguir lembrar
de todos os jornais onde falei de livros. Kronika e Usina do Porto menciono
agora.
Desde
fins de 1995, há mais de 20 anos, assino esta página. Desde o Minuano até aqui,
são mais de 40 anos de jornal com livro. Não dá para saber muito sobre o futuro
do livro e do jornal impressos, mas me sinto feliz por ter colocado,
modestamente, alguns pequenos tijolinhos nesta obra universal e interminável
que é o mundo editorial do planeta. Sou um dos Quixotes e Sanchos do mundo do
livro. Sigo fazendo minha pequena parte. Bill Gates pede para seus filhos lerem
livros impressos. Se ele fala isso...
A
propósito...
Logo
devo assumir a direção do Instituto Estadual do Livro. Dentro da atual
conjuntura, é um belo desafio. Conto com a ajuda de todos os rio-grandenses,
que tanto admiram o I?EL e tanto orgulho têm de sua trajetória e de suas
realizações. Penso que a leitura silenciosa de um livro impresso ainda é - e
sempre será - uma experiência única, incomparável. Toca a inteligência e a
sensibilidade das pessoas de um modo absolutamente diferente e sei que muitos
pensam assim. Isso não é pouco num mundo e numa época de sons e imagens
poderosos. De mais a mais, o mundo do livro e da literatura segue território da
liberdade, da criação e das leituras sem limites.