Jaime Cimenti
Deus, Richard Dawkins, Big Bang e
etc
O
polêmico biólogo pop inglês Richard Dawkins está chegando aí para a abertura do
Fronteiras do Pensamento e animar a festa. Aliás, nem chegou e já está
animando. Entrevistas e entreveros já começaram. A coisa promete. Beleza. Vamos
lá. Ateus, crentes, ateus graças a Deus, agnósticos, cientistas religiosos,
religiosos cientistas e assemelhados estão a postos para altas indagações e
expressões sobre Deus, criação do mundo, big bang, criacionismo, Teoria da
Evolução de Charles Darwin, ensino disso tudo nas escolas e outras
questõezinhas que há milênios ocupam nossos corações e mentes.
Igual
a milhões de viventes, depois que completei 40 anos - e faz bastante tempo -,
passei a pensar mais em Deus, morte, finitude, filosofia, vida, ciência,
religião, sexo, amor, a ouvir Bach e Ernesto Nazareth, ler Machado de Assis e
Fernando Pessoa, a Bíblia e outros livros de outras formas e, enfim, aproveitar
e entender do melhor jeito a outra metade do copo, os outros 40 anos.
Os
livros do Dawkins, as entrevistas e o projeto da deputada Liziane Bayer sobre
criacionismo em sala de aula e esse clima todo rendem. Domingo passado, por
exemplo, Dia das Mães, com meu amigo, o grande médico Luiz Antônio Nasi, filho
da professora Jurema e irmão do Mário, tive uma conversa muito boa.
Disse
para ele que, para mim, Deus é uma grande energia superior, misteriosa,
positiva, que deve estar oferecendo sentido a este mundo tantas vezes meio
quadro surrealista e meio teorema matemático, que temos e vivemos. Agnóstico?
Agnóstico tipo positivo. Pois é, boto fé na ciência e acredito na fé. Acredito
em perguntas e respostas. Em provas e em mistérios.
Acho
que devemos seguir perguntando. Saber tudo seria muito chato e mortal.
Filosofar é perguntar. Nunca vamos saber tudo. Sonhos, imaginação. Einstein
cantou a pedra: a imaginação é mais importante que o conhecimento. Eu não
estava lá na época do big bang ou da criação divina, nem tenho lembrança disso
de memórias de outras vidas. O Papa Francisco, se não me engano, disse esses
dias que Deus pode ter criado o big bang. Se non è vero, è ben trovato...como dizem os gringos. Vai saber.
Um
dia milha filha, com 9 anos, me perguntou quem tinha criado Deus. Dentro de
minhas limitações respondi: filha, uns dizem que é invenção da cabeça da gente;
outros que ele sempre existiu, que ele mesmo se criou; outros, querida, dizem
que ele não existe; outros nem pensam no assunto. Tens só nove anos, és uma
criança. Quando fores adulta, procurarás tua resposta. Por enquanto, é isso,
vai brincar.
Acho
que o melhor da presença física de Richard Dawkins em Porto Alegre,
independentemente de suas opiniões e teses, muitas polêmicas, é a oportunidade
de estar com um professor que gosta de alunos e ouvintes que não sejam
passivos, desses que ficam tomando notas e não questionam. Tive a felicidade de
ter alguns professores desses. Foram os melhores.
Bem-vindo
à terra da polêmica, professor Dawkins. O senhor é maragato ou chimango?
Colorado ou gremista?
A
propósito
Ainda
sobre a conversa no domingo com meu amigo Luiz Antônio Nasi, sobre a existência
de Deus, sobre a vida e tudo mais, e sobre meu agnosticismo positivo, falei
que, quando estou com minha família e amigos, quando ouço um choro de
Pixinguinha, uma canção de Tom Jobim, um composição de Bach, quando contemplo o
pôr-do-sol do Guaíba e os jogos do Beira Rio ou quando assisto, com todo o
respeito, o desfile das gaúchas na rua Padre Chagas, aí, por muitos momentos, a
presença de Deus deixa de ser apenas uma energia misteriosa, superior e
positiva e quase dá para pegar com a mão.
Jaime Cimenti
