sábado, 9 de maio de 2015


10 de maio de 2015 | N° 18158
PAULO SANTANA

A maior invenção

Enquanto escrevo estas linhas, é que constato que a maior invenção da história da humanidade foi a caneta esferográfica. Deu de goleada em praticidade, leveza, mobilidade, clareza e eficiência no lápis.

Eu não conseguiria viver sem a esferográfica.

Uma amiga da minha idade (velha como eu) me perguntou como vai ser quando se encontrar com um homem que não vê há 20 anos: se ele não terá um susto quando a vir.

Respondi a ela que um susto é sempre uma coisa boa e que vá em frente. Afinal, o que lhe restou foi essa sua aparência. Se ainda tivesse uma outra melhor...

Sempre imaginei as complicações que terão meus parentes nas 24 horas após a minha morte.

Terão de cuidar das providências do meu féretro, do velório, do enterro.

Assim, até depois da minha morte, eu continuarei dando trabalho aos meus parentes. Que “mala” eu sou, hein?

Encontrei-me ontem com a viúva de um amigo morto recentemente.

Disse-lhe que perdeu muito tempo enquanto ela vivia a atazaná-lo, incomodando-o com bobagens, enquanto ele só queria jantar com ela, fumar seu cigarrinho de maconha e trabalhar no dia seguinte, que o trabalho é a condição escravista do homem.

Ela só me disse uma coisa: “É mesmo!”.

Mas agora é tarde demais, a vida de seu defunto já foi um inferno, e agora nada mais há que fazer.

Dizia-me ontem um amigo: “Só fumei maconha uma vez em minha vida. E larguei. Porque gostei. Já pensou na tragédia que seria se continuasse?”.

Os surdos de nascença são consequentemente mudos. Não aprenderam, portanto, a falar. Poderiam até falar se tivessem ouvido como se fala.

Comigo se dá diferente. Fiquei surdo, mas depois, é lógico, de aprender a falar.

Mas, como não ouço o que falo, me atrapalho todo.

Às vezes, chego a pensar que melhor teria sido se tivesse ficado mudo antes que surdo.

Os dois atributos são, afinal, independentes, mas dependentes um do outro.

Melhor surdo, para não ouvir certas coisas que se ouve.

E melhor mudo, para não dizer tantas inconveniências.

MEUS LEITORES

Sobre criminalidade e recuperação de presos

Caro Sant’Ana, bom dia.

Sou mais um assíduo leitor a encaminhar sugestão. Uma sugestão simples. Criar presídios AGRÍCOLAS, onde os presidiários teriam trabalho diário na plantação e colheita.

Igual aos colonos do Interior. Trabalho de sol a sol não mata ninguém...

Cercariam, com toda segurança, uma área de alguns hectares, com construções apenas para dormitórios, refeitórios, assistência médica e sala de estudos.

Primeiro: menos pavilhões construídos e mais econômicos.

Segundo: trabalhariam e produziriam parte da própria alimentação.

Terceiro: final do dia, cansaço. Banho e cama.

Quarto: não seria trabalho escravo. Isso chama-se trabalhar, ocupar-se.

Garanto que o custo de manutenção seria de um terço do das prisões atuais.

A ociosidade do presidiário é o maior motivo da falta de recuperação.

E mais, ao sair, seriam profissionais qualificados.

Implantar um presídio agrícola é barbada.

Fica a sugestão. Um detalhe: esse trabalho não poderia ser opcional.

Tinha que ser compulsório.

Grato pela paciência.

CARLOS ALBERTO SCHNEIDER

Resposta: O senhor acaba de me sugerir o óbvio, tantas vezes já sugerido por tanta gente e não seguido por ninguém. O senhor tem muita coragem para sugerir algo que nunca foi acatado por governante algum e jamais o será, pelo visto. Desista. Eu já cansei de dar essa sugestão.

O MELHOR DE MIM

Pensamentos extraídos do meu arquivo de colunas

As mulheres que já foram mães têm como única razão de vida a esperança de que seus filhos se realizem e sejam felizes.

Como perdi minha mãe quando tinha apenas dois anos de idade, guardo uma ideia vaga do que seja uma mãe.

Sempre que se comemora o Dia das Mães, eu sonho que esta vida não é única e que eu ainda posso, numa outra vida, conhecer a felicidade, encontrando-me finalmente com minha mãe.


Sobrevivo tonto sem a grande mulher da minha origem. Sempre a imagino, orgulhosa ou pesarosa de mim, pelos meus voos e percalços.