10 de maio de 2015 | N°
18158
PAULO SANTANA
A maior invenção
Enquanto escrevo estas linhas, é que constato que a
maior invenção da história da humanidade foi a caneta esferográfica. Deu de
goleada em praticidade, leveza, mobilidade, clareza e eficiência no lápis.
Eu não conseguiria viver sem a
esferográfica.
Uma amiga da minha idade (velha
como eu) me perguntou como vai ser quando se encontrar com um homem que não vê
há 20 anos: se ele não terá um susto quando a vir.
Respondi a ela que um susto é
sempre uma coisa boa e que vá em frente. Afinal, o que lhe restou foi essa sua
aparência. Se ainda tivesse uma outra melhor...
Sempre imaginei as complicações
que terão meus parentes nas 24 horas após a minha morte.
Terão de cuidar das providências
do meu féretro, do velório, do enterro.
Assim, até depois da minha morte,
eu continuarei dando trabalho aos meus parentes. Que “mala” eu sou, hein?
Encontrei-me ontem com a viúva de
um amigo morto recentemente.
Disse-lhe que perdeu muito tempo
enquanto ela vivia a atazaná-lo, incomodando-o com bobagens, enquanto ele só
queria jantar com ela, fumar seu cigarrinho de maconha e trabalhar no dia
seguinte, que o trabalho é a condição escravista do homem.
Ela só me disse uma coisa: “É
mesmo!”.
Mas agora é tarde demais, a vida
de seu defunto já foi um inferno, e agora nada mais há que fazer.
Dizia-me ontem um amigo: “Só
fumei maconha uma vez em minha vida. E larguei. Porque gostei. Já pensou na
tragédia que seria se continuasse?”.
Os surdos de nascença são
consequentemente mudos. Não aprenderam, portanto, a falar. Poderiam até falar
se tivessem ouvido como se fala.
Comigo se dá diferente. Fiquei
surdo, mas depois, é lógico, de aprender a falar.
Mas, como não ouço o que falo, me
atrapalho todo.
Às vezes, chego a pensar que
melhor teria sido se tivesse ficado mudo antes que surdo.
Os dois atributos são, afinal,
independentes, mas dependentes um do outro.
Melhor surdo, para não ouvir
certas coisas que se ouve.
E melhor mudo, para não dizer
tantas inconveniências.
MEUS LEITORES
Sobre criminalidade e recuperação
de presos
Caro Sant’Ana, bom dia.
Sou mais um assíduo leitor a
encaminhar sugestão. Uma sugestão simples. Criar presídios AGRÍCOLAS, onde os
presidiários teriam trabalho diário na plantação e colheita.
Igual aos colonos do Interior.
Trabalho de sol a sol não mata ninguém...
Cercariam, com toda segurança,
uma área de alguns hectares, com construções apenas para dormitórios,
refeitórios, assistência médica e sala de estudos.
Primeiro: menos pavilhões
construídos e mais econômicos.
Segundo: trabalhariam e
produziriam parte da própria alimentação.
Terceiro: final do dia, cansaço.
Banho e cama.
Quarto: não seria trabalho
escravo. Isso chama-se trabalhar, ocupar-se.
Garanto que o custo de manutenção
seria de um terço do das prisões atuais.
A ociosidade do presidiário é o
maior motivo da falta de recuperação.
E mais, ao sair, seriam
profissionais qualificados.
Implantar um presídio agrícola é
barbada.
Fica a sugestão. Um detalhe: esse
trabalho não poderia ser opcional.
Tinha que ser compulsório.
Grato pela paciência.
CARLOS ALBERTO
SCHNEIDER
Resposta: O senhor acaba de me
sugerir o óbvio, tantas vezes já sugerido por tanta gente e não seguido por
ninguém. O senhor tem muita coragem para sugerir algo que nunca foi acatado por
governante algum e jamais o será, pelo visto. Desista. Eu já cansei de dar essa
sugestão.
O MELHOR DE
MIM
Pensamentos extraídos do meu
arquivo de colunas
As mulheres que já foram mães têm
como única razão de vida a esperança de que seus filhos se realizem e sejam
felizes.
Como perdi minha mãe quando tinha
apenas dois anos de idade, guardo uma ideia vaga do que seja uma mãe.
Sempre que se comemora o Dia das
Mães, eu sonho que esta vida não é única e que eu ainda posso, numa outra vida,
conhecer a felicidade, encontrando-me finalmente com minha mãe.
Sobrevivo tonto sem a grande
mulher da minha origem. Sempre a imagino, orgulhosa ou pesarosa de mim, pelos
meus voos e percalços.