26
de maio de 2015 | N° 18174
CARPINEJAR
:-(
>:-( x-(
Não
existe maior frustração que somente falar por emoticons e emojis.
É uma
praga infantil.
Tem
sido um mico participar de grupos no WhatsApp. Das 140 mensagens, 138 são de
carinhas, corações, joaninhas e bichinhos.
Não
se encontra nenhuma frase inteira, com nexo, verdadeira, inspirando reações
diferentes e singulares.
Quem
recorre aos emojis e emoticons não prioriza a conversa que trava com você. Não é
importante o suficiente para receber a dedicação exclusiva do texto.
É uma
sensação de descarte e superficialidade. Aquele que insere um macaquinho ou um
gatinho dá a ideia de distração, de ocupação, de envolvimento simultâneo em
diversas janelas. Deseja se livrar da resposta o quanto antes.
Somos
mais selos do que correspondência. Emburrecemos emocionalmente. Regredimos para
atender ao maior número de contatos e não deixar ninguém esperando. O falso
excesso de amigos vem atrofiando nossa percepção do mundo.
Uma
mãe de 50 anos hoje é capaz de estar se comunicando igualzinho à sua filha de
cinco anos. Trocou sua maturidade pela velocidade.
Voltamos
ao jardim da infância da linguagem. Nem é o pré, só falta colocar avental com o
nosso nome bordado e fazer fila indiana.
É fofinho
usar uma carinha ou outra, mas não sempre e indiscriminadamente. Torna-se decepcionante
como receber um ok depois de escrever vários parágrafos para alguém.
Não
tem como não se indispor. Você faz uma longa declaração de amor e recebe um
dedo para cima. Você explica suas dificuldades familiares em cuidadosa linha de
raciocínio e ganha duas palmas coladas rezando.
Não
há aquele esforço de parar e refletir e encontrar a melhor expressão, de fugir
do repertório básico, de inventar arranjos e improvisos de pensamento.
Se
alguém demora muito para digitar, levará pedrada. Toda demora sugere mentira. Pois
a pausa é malvista e o rigor com o outro é desprezado.
Derrapamos
na imediaticidade que é pura preguiça. Concordamos, aplaudimos, festejamos e
nos assustamos por símbolos.
Explicamos
o que somos por desenhos, sem nenhum comprometimento e pessoalidade. Empregamos
os mesmos códigos para qualquer um, esclarecendo se estamos felizes ou
emburrados ou chateados ou surpresos, mas nunca definindo a particularidade de
cada momento.
O
celular apita várias vezes ao dia e, na maior parte, são adesivos de agendas
escolares. É o
medo da expressão, é o medo da vírgula, é o medo das palavras erradas, é o medo
das pessoas certas.
Não
precisamos voltar a escrever cartas escritas a punho, mas tampouco precisamos
amputar as mãos.