sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014


21 de fevereiro de 2014 | N° 17711
DAVID COIMBRA

Onde está a minha fada?

Os manifestantes querem se manifestar. É uma ânsia juvenil, uma necessidade premente de se expressar. Na verdade, pouco importa contra o que o manifestante se manifesta, desde que a manifestação seja ruidosa e ele possa gritar ao mundo como tudo está errado, como ele é contra o que está aí, seja lá o que estiver aí.

A badalada (desculpa) Sininho não é uma menina; é uma mulher de 28 anos que tem como atividade na vida ser ativista. Quer dizer: é uma manifestante profissional e, assim sendo, é também a prova respirante e com piercing no nariz do sucesso das manifestações. Porque uma manifestação, no Brasil de hoje, não acontece para que seja alcançado um objetivo. Acontece por acontecer. Era um meio, tornou-se um fim em si mesmo.

Pegue as manifestações contra a Copa do Mundo. “Não vai ter Copa”, ameaçam os cartazes dos manifestantes. Por que eles não querem a Copa? Porque, supostamente, o Estado gastaria em estádios um dinheiro que poderia ser usado na saúde e na educação.

Razões nobilíssimas.

Mas o dinheiro já foi gasto, R$ 7 bilhões em arenas pelo país. Mesmo assim, os manifestantes gostariam que não saísse a Copa e fazem protestos e prometem continuar fazendo protestos até que o último alemão tenha voltado para as salsichas de Berlim, depois da final no Maracanã. Ora, eles sabem que seus protestos não impedirão a realização da Copa nem que o brasileiro se entusiasme com os jogos. Qual, então, seu objetivo? Protestar! Aí está, um parnasianismo, o protesto pelo amor ao protesto.

Essa rebeldia social é sedutora. Sinto uma vontade imensa de sair protestando por aí. Até porque as coisas estão erradas, sempre estiveram erradas e sempre estarão. Estão erradas no capitalismo; estariam ainda mais erradas no comunismo, se comunismo existisse; estão erradas no governo paternalista do PT, em que metade da alta cúpula definha na cadeia por corrupção; estavam erradas no governo autoritário da direita, que prendia e torturava quem lhe fazia oposição; erradas seriam no socialismo moreno de Brizola, no capitalismo regulado dos países nórdicos, no comunismo capitalista da China, na ditadura da Coreia do Norte, na confusão do Afeganistão.


Alguém é culpado por essa angústia, alguém é culpado porque a vida não é maior, alguém é culpado porque ela não é como achei que ela fosse, alguém é culpado porque alguém não está aqui, alguém é culpado porque a vida não é perfeita, o fim de semana não foi perfeito, porque nem um único dia é de fato perfeito. Alguém tem que pagar por isso! Onde estão as Sininhos que me defendam? Em que estrela se escondem as fadinhas da minha vida? As coisas não tinham de ser assim, Sininho. Trabalhar, pensar, estudar, aprender, se esforçar todos os dias, todos os dias, isso não é para nós. Definitivamente, isso não é para nós.