Jaime Cimenti
Selfies, braggies, eu me amo, parabéns para
mim!
A década de 1970 ficou conhecida
como a Década do Eu, imagine, quando os eus ainda eram bebês pertos dos euzões
que andam por aí. Os Beatles tinham terminado e os Rollings Stones foram
chegando com tudo em cima, nos tempos da discoteca, dos filmes hollywoodianos
para adolescentes, das primeiras notas do hip hop, da música eletrônica, do
auge e da morte do rock progressivo e do fim dos sonhos de paz e amor e faça
amor/não faça guerra dos hippies. Coisas antigas dos tímidos eus passados.
Esses dias teve uma festa na beira da piscina de bordas infinitas do Hotel
Fasano, na praia de Ipanema, para curtir o pôr do sol.
O terraço do Fasano foi o cenário
ideal para o número recorde de “selfies”, a foto de si mesmo, tipo a do Obama
com a ministra loira, e de “braggies”, fotos postadas nas redes sociais para
dar invejinha aos amigos. “To brag”, em inglês, é se gabar, ou se gavar, como
se diz no Alegrete. Enquanto o sol se despedia atrás do Dois Irmãos, Reynaldo
Gianecchini, Joana Nolasco e mais um monte de famosos e nem tanto, enviavam
fotos incríveis e glamourosas para os que estavam ralando nos escritórios. A
festa promovida por uma adequada marca de champanhe e o som eletrônico do DJ
foram aumentando à medida em que a noite avançava.
Dizem que, ano passado, a palavra
“selfie” foi a mais utilizada nos EUA e, quem sabe, no resto do planeta. Por
aí. Eu me amo, não posso viver sem mim, parabéns para mim! Muitos, hoje em dia,
devem cantar happy birthday para si mesmo com a mesma voz maviosa que a Marilyn
Monroe cantou para o presidente Kennedy. Muita gente está se esforçando para
ser mais interessante que os seus próprios smartphones e os dos outros. Aquele
negócio dos 15 minutos de fama para cada virou 15 anos, e aquele lance de que
no futuro cada um seria seu editor dançou.
Hoje, cada um é seu próprio
roteirista, diretor de cinema, bailarino, cantor, jornalista e ator, entre
outras coisas. O individualismo, a solidão, o egoísmo, o egocentrismo, a
velocidade dos sons e das imagens e o resto tudo de TI que a gente vê por aí chegam
a assustar, mas parecem inevitáveis e pelo visto chegaram para ficar.
Quem é que tem paciência para
ouvir-se e ouvir os outros hoje? Os psicoterapeutas? Ao invés de só ouvir
música, as pessoas querem conversar, cantar, dançar, pular e correr por aí. O
Papa Francisco, o Dalai Lama e outros líderes estão aí dando recados sobre
viver mais simples, mais devagar e solidário. Alguém está a fim?