sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Jaime Cimenti

Selfies, braggies, eu me amo, parabéns para mim!

A década de 1970 ficou conhecida como a Década do Eu, imagine, quando os eus ainda eram bebês pertos dos euzões que andam por aí. Os Beatles tinham terminado e os Rollings Stones foram chegando com tudo em cima, nos tempos da discoteca, dos filmes hollywoodianos para adolescentes, das primeiras notas do hip hop, da música eletrônica, do auge e da morte do rock progressivo e do fim dos sonhos de paz e amor e faça amor/não faça guerra dos hippies. Coisas antigas dos tímidos eus passados. Esses dias teve uma festa na beira da piscina de bordas infinitas do Hotel Fasano, na praia de Ipanema, para curtir o pôr do sol.

O terraço do Fasano foi o cenário ideal para o número recorde de “selfies”, a foto de si mesmo, tipo a do Obama com a ministra loira, e de “braggies”, fotos postadas nas redes sociais para dar invejinha aos amigos. “To brag”, em inglês, é se gabar, ou se gavar, como se diz no Alegrete. Enquanto o sol se despedia atrás do Dois Irmãos, Reynaldo Gianecchini, Joana Nolasco e mais um monte de famosos e nem tanto, enviavam fotos incríveis e glamourosas para os que estavam ralando nos escritórios. A festa promovida por uma adequada marca de champanhe e o som eletrônico do DJ foram aumentando à medida em que a noite avançava.

Dizem que, ano passado, a palavra “selfie” foi a mais utilizada nos EUA e, quem sabe, no resto do planeta. Por aí. Eu me amo, não posso viver sem mim, parabéns para mim! Muitos, hoje em dia, devem cantar happy birthday para si mesmo com a mesma voz maviosa que a Marilyn Monroe cantou para o presidente Kennedy. Muita gente está se esforçando para ser mais interessante que os seus próprios smartphones e os dos outros. Aquele negócio dos 15 minutos de fama para cada virou 15 anos, e aquele lance de que no futuro cada um seria seu editor dançou.

Hoje, cada um é seu próprio roteirista, diretor de cinema, bailarino, cantor, jornalista e ator, entre outras coisas. O individualismo, a solidão, o egoísmo, o egocentrismo, a velocidade dos sons e das imagens e o resto tudo de TI que a gente vê por aí chegam a assustar, mas parecem inevitáveis e pelo visto chegaram para ficar.

Quem é que tem paciência para ouvir-se e ouvir os outros hoje? Os psicoterapeutas? Ao invés de só ouvir música, as pessoas querem conversar, cantar, dançar, pular e correr por aí. O Papa Francisco, o Dalai Lama e outros líderes estão aí dando recados sobre viver mais simples, mais devagar e solidário. Alguém está a fim?