quarta-feira, 30 de outubro de 2019



30 DE OUTUBRO DE 2019
DAVID COIMBRA

A operação salva-corruptos

Havia uma figura por quem sentíamos um suave desprezo, nos meus tempos de IAPI: o político. Não era um pensamento que se expressava, ninguém falava disso abertamente. Era só um desdém que manifestávamos quando algum candidato aparecia por lá ou se ouvíssemos elogios a uma dessas autoridades engravatadas. Políticos? Que nojo.

Mais tarde, quando entrei na faculdade de jornalismo, encontrei o mesmo sentimento, desta vez acompanhado por boa justificativa teórica: o jornalista tinha obrigação de desconfiar a priori de qualquer político, fosse qual fosse o seu espectro ideológico, porque os políticos lutam pelo poder e quem luta pelo poder faz as coisas por interesse e quem faz coisas por interesse engana e mente.

É claro que existem políticos dignos e é claro que, nessas décadas todas de profissão, conheci muitos dos quais gosto, mas é preciso sempre, SEMPRE, fiscalizá-los e jamais, JAMAIS, aderir a eles.

Vou citar cinco políticos de conduta reta, cinco gaúchos que já se retiraram da atividade: Guilherme Socias Villela, Olívio Dutra, Germano Bonow, Leonel Brizola e Pedro Simon. Não por acaso, relacionei homens de partidos diferentes, porque também das ideologias é preciso desconfiar. O dogma empareda o crente em uma única solução, e os problemas em geral exigem flexibilidade para serem solucionados.

O fato é que aprecio a política, mas nem tanto os políticos. Eles fazem mais mal do que bem à sociedade. Por enquanto, são necessários. Mas o mundo está mudando, as democracias estão se transformando e logo vamos achar uma forma de gerir uma nação sem eles. Ou, pelo menos, sem esse tipo de político profissional, interesseiro, perigoso. É o que espero. Por isso, sinto certa ojeriza por quem os bajula. Adventos como o lulismo e o bolsonarismo me provocam repulsa.

Hoje, é com profunda tristeza que assisto aos puxa-sacos de Lula se baterem contra a prisão em segunda instância. Vão causar um terrível dano ao país e aos seus próprios filhos apenas para beneficiar um político. É repugnante.

Francamente, pouco se me dá que Lula continue preso ou vá para casa. Não faz diferença. Lula é só mais um desses deprimentes personagens do Brasil. Mas a consagração da impunidade fará, sim, muita diferença. O sentimento de impunidade, de que a Justiça é lenta e não funciona, é um dos maiores males de uma nação. E essa campanha pela impunidade fará o Brasil sofrer ainda mais, porque é uma campanha para salvar políticos corruptos, é o exemplo que vem de cima e que deforma a sociedade. É o cinismo instituído em forma de lei.

É óbvio que também há advogados interessados nisso, eles ganham com a infinidade de recursos, mas o que está em jogo, realmente, é a salvação dos corruptos. Porque a prisão em segunda instância só foi impedida durante sete anos, no Brasil - só entre 2009 e 2016. O que houve agora, para que essa questão virasse um cavalo de batalha judicial? A resposta é simples: a Lava-Jato! A prisão de Lula! O medo que os políticos têm de ir para a cadeia!

É isso que interessa a eles. Apenas isso. Não acredite nessa balela de discursos libertários, de amor à Constituição. É amor aos políticos! É a bajulação, o puxa-saquismo, a rastejante adulação aos políticos! Que nojo.

DAVID COIMBRA

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