sábado, 16 de outubro de 2021


16 DE OUTUBRO DE 2021
CAMPO E LAVOURA

Uma gota de R$ 2,5 bi em oceano de potenciais bem mais profundos Sementes lançadas

Instrumento que viabiliza investimentos em títulos do agronegócio, as células de produto rural (CPR) começam a ter as cifras mensuradas a partir da obrigatoriedade de registro digital. Levantamento da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), uma das habilitadas a fazer essa certificação, contabiliza R$ 2,5 bilhões em recebíveis neste ano. Uma quantia importante, mas que representa uma gota no oceano de possibilidades que se estima para esse mercado.

- É um valor muito insignificante diante do potencial de R$ 200 bilhões que podem ser emitidos anualmente, se considerado todo o universo de CPRs - pondera Edson Bündchen, uma dos sócios da assessoria agroempresarial BWZ.

Sócia da BBM, a empresa é uma das aptas a fazer o registro - foram R$ 110 milhões neste ano. Bündchen projeta que comece a ganhar força em 2022 e que, até o final de 2023 já se tenha um mercado maduro de CPRs, "com vários fundos entrando".

Neste momento, a obrigatoriedade do registro é para títulos acima de R$ 1 milhão. No próximo ano, passa a ser para os acima de R$ 250 mil. E, em 2023, de R$ 50 mil. Essa "declaração" eletrônica está para o negócio como a escritura na venda de um imóvel.

- É uma garantia contra terceiros. Dá validade jurídica para efeitos de cobrança e, também, se quiser negociar esse título - explica Bündchen.

Para o produtor, entra como mais um canal de captação de recursos para financiar a atividade e os investimentos. É visto como o futuro do crédito rural diante de uma demanda que cresce em velocidade superior à capacidade de atendimento pelas fontes tradicionais, com equalizações feitas pelo Tesouro.

- Está muito claro que, no futuro, a grande garantia do agro será a CPR - avalia Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado.

Foi com a Lei do Agro e a subsequente regulamentação que se buscou fortalecer os recebíveis dentro de operações de crédito estruturadas. Em abril deste ano, a cooperativa Cotrijal fechou um projeto-piloto para fazer a renegociação de 500 associados, afetados por falta de chuva. A operação foi via Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) garantido.

Sementes lançadas

É somente em 2022 que os resultados serão colhidos, mas aos poucos, o RS vai lançando as sementes daquela que poderá ser a nova safra recorde de soja (na foto acima, propriedade em Santa Bárbara do Sul). Com área total estimada em 6,3 milhões de hectares, o Estado deu a largada oficial no plantio em cerimônia em Júlio de Castilhos, na Região Central. A cooperativa Cotrijuc contabiliza 5% de semeadura.

Em outras regiões onde o cultivo começaria, como Santa Maria, Santa Rosa e Pelotas, a chuva acabou adiando o início dos trabalhos no campo, aponta levantamento da Emater. Em Herval, no Sul, somou 3%.

Apesar de segurar um pouco a largada, as precipitações vieram em boa hora avalia Décio Teixeira, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-RS).

- As chuvas são boas para manter a alta umidade no solo para o plantio. E a soja germinando bem é metade da colheita garantida - afirma Teixeira, acrescentando que o plantio no RS normalmente ganha fôlego na metade de outubro em diante.

Com a perspectiva cada vez mais forte de La Niña no Estado, a previsão aponta um último trimestre do ano de tempo mais seco, sempre uma condição a ser monitorada pelos produtores.

- É melhor ter pouca chuva, mas ela ser bem distribuída, do que grandes quantidades em um período só - observa Caio Vianna, presidente da Cotrijuc.

Para o presidente da Aprosoja-RS, o que mais preocupa, neste momento, é a possibilidade de falta de insumos, como fertilizantes, dessecantes e para tratamento de sementes.

Levantamento inicial da Emater estimou a colheita de soja em 19,9 milhões de toneladas, levemente inferior à do último ciclo. Para a Aprosoja, a produção deve ser superior a 21 milhões de toneladas, projeção semelhante à da Companhia Nacional de Abastecimento, de 21,02 milhões de toneladas. Se confirmado, será novo recorde para a safra gaúcha.

GISELE LOEBLEIN

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