segunda-feira, 18 de outubro de 2021


18 DE OUTUBRO DE 2021
+ ECONOMIA

Ameaça de caminhoneiros é pedido de resgate com refém

Desta vez, a ameaça de greve dos caminhoneiros foi comunicada oficialmente. A mensagem no bilhete é: se não for pago o resgate - sob a forma de mudança na política de preços dos combustíveis e reajuste na tabela de frete -, o Brasil será paralisado, em meio a uma de suas crises econômicas mais sérias, com a inflação de volta aos dois dígitos, como era antes do Plano Real. No sábado, em encontro de caminhoneiros autônomos e celetistas no Rio de Janeiro, foi declarado "estado de greve" imediato. Caso o governo não atenda às reivindicações em 15 dias, a categoria ameaça parar a partir de 1º de novembro.

Diferentemente de maio de 2018, quando não havia líderes identificados no movimento que teve apoio do então candidato à Presidência Jair Bolsonaro, desta vez o encontro foi organizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística, pelo Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas e pela Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores. Há com quem conversar e, caso necessário, a quem responsabilizar.

A Frente Parlamentar Mista dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas se apresentou para "fazer a interlocução com governo". Pelo tom, vai levar o bilhete do sequestrador com o pedido de resgate: a categoria fez o Brasil de refém. Presidente da Frente, o deputado federal Nereu Crispim (PSL-RS), diz saber dos "grandes transtornos que uma paralisação causa", mas afirma que "nenhuma das reivindicações acordadas" em 2018 foi atendida.

Não precisa muito esforço de memória. Para encerrar a greve que fez a inflação saltar e a atividade econômica despencar, em maio de 2018, o governo Temer criou a tabela de frete - cujo reajuste a categoria exige agora - e concedeu subsídio público ao diesel, para ficar apenas em duas medidas tão pontuais quanto polêmicas.

Na época, não se sabia o impacto econômico de uma paralisação. Agora, há consciência do tamanho do risco. Na ameaça golpista de 7 de Setembro, Bolsonaro chegou a provar do próprio veneno e perder o controle de sua esquadra rodoviária. Foi temporário, mas já causou atrasos em entregas. Embora os reajustes dos combustíveis sejam, de fato, insuportáveis, o caminho não é transformar o país em refém e cobrar resgate. Não há negociação sob ameaça.

MARTA SFREDO

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