sexta-feira, 22 de outubro de 2021


22 DE OUTUBRO DE 2021
CELSO LOUREIRO CHAVES

Angélica, Vitor, Stravinski

Outro dia, vendo uma live de Vitor Ramil e da poeta Angélica Freitas, falava-se de Stravinski, muito por causa de um poema dela, que diz, num certo ponto, "eu penso em stravinski / e nas barbas do klaus kinski / e no nariz do karabtchevsky / e num poema do joseph brodsky / que uma vez eu li". Quatro personagens aparentemente desconexos numa única linha de pensamento, quatro cavaleiros do apocalipse num poema que fala de um desastre aéreo.

O poema tem a velocidade lentíssima dos grandes acidentes e a desconexão das imagens dos pensamentos de um narrador que, além de tudo, abraça um violino stradivarius contra o peito enquanto tudo desaba, só conseguindo pensar num "dó ré mi" insistente que vai levando o avião ao chão. Potente como todos os poemas de Angélica Freitas, esse também foi colocado em música por Vitor Ramil no seu show Avenida Angélica, que logo será lançado como álbum, para que fique o registro dessa parceria fortalecida pela união de música e palavra. Aliás, na canção brasileira a parceria Freitas/Ramil é um achado nessa interação sílaba/colcheia que é a própria alma da canção daqui.

Em 2021, toda vez que ouço falar de Igor Stravinski, lembro que esse ano são os seus 50 anos de falecimento e volto a querer pensar e a falar nele. Coincidência ou não, passei pelo mapa de Veneza também estes dias e é lá que está enterrado Stravinski. Não morreu lá: Stravinski está enterrado na cidade das águas por agradecimento e homenagem às muitas estreias que teve ali, inclusive a estreia do Canticum Sacrum de 1955 que, nem mais e nem menos, é dedicado à própria Veneza.

Pensamentos aparentemente desconexos num poema que fala de uma situação limite levam a outros pensamentos, levam a ampliar a percepção sobre o compositor citado quase de passagem por Angélica Freitas, pois ele talvez tenha sido o grande compositor midiático de uns bons sessenta anos de música dos idos do século passado. Na verdade, é mais uma boa hora para pensar em Stravinski e ouvir suas coisas. Embora mais urgente e bem mais emocionante, convenhamos, seja mesmo ler Angélica Freitas e ouvir Vitor Ramil musicando Angélica Freitas.

CELSO LOUREIRO CHAVES

Nenhum comentário:

Postar um comentário