segunda-feira, 25 de outubro de 2021


25 DE OUTUBRO DE 2021
INFORME ESPECIAL

Relações ecológicas e interações políticas em Brasília

Há uma curiosa semelhança entre os comportamentos que podem ser observadas na natureza e os vínculos estabelecidos entre o governo Jair Bolsonaro e o centrão. São chamadas de relações ecológicas as interações realizadas entre seres vivos. Podem ser da mesma espécie (intraespecíficas) ou não (interespecíficas). Ou ainda harmônicas, quando ambos tiram proveito, e desarmônicas, que ocorrem se apenas um tem vantagem.

Um exemplo de relação ecológica interespecífica e harmônica é o mutualismo. É entre espécies diferentes e ambos se beneficiam. O mutualismo pode ainda ser facultativo ou obrigatório. No primeiro caso, os dois indivíduos podem sobreviver, mesmo independentes. No segundo, um corre o risco de perecer se a associação se desmanchar. O mutualismo pode ser classificado ainda como defensivo, trófico e dispersivo. No defensivo, uma das espécies proporciona proteção. Em troca, recebe alimento do protegido. É o que ocorre entre as formigas e a acácia.

Na aliança entre governo e centrão, a impressão é a de que se estabeleceu um mutualismo obrigatório. Sem a sustentação principalmente na Câmara, os riscos para a continuidade da gestão atual seriam bem maiores. E é também defensivo. Ao ser escudado em nome da sobrevivência, o presidente proporciona ao outro grupo - estejam seus membros hoje no Congresso ou dando expediente na Esplanada - os nutrientes necessários para uma vida longa: o banquete do orçamento, em forma emendas prá lá de fartas e muitas vezes nada transparentes.

Não há novidades na forma de agir do centrão. Sempre, em governos anteriores, arrendou sustentação em troca de vantagens. O velho toma lá dá cá. Mas a busca pelo apoio, antes, significava principalmente a tentativa de assegurar governabilidade. Agora, é só sobrevivência. A prova é enxurrada de derrotas em pautas de interesse do Executivo e de vetos derrubados. Avança só o que é de interesse do centrão, que tomou as rédeas do poder. Por sua natureza, o bloco fica à espera do próximo indivíduo com quem terá de repactuar a sua interação. Se considerarmos esta contraparte o Estado brasileiro, e não um governo específico, aí se assemelharia a um tipo de relação ecológica desarmônica: o parasitismo.

CAIO CIGANA INTERINO

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