sábado, 23 de outubro de 2021


23 DE OUTUBRO DE 2021
UM NORTE PARA O ESTADO

Saída é "repensar a educação"

Especialistas afirmam que a saída é "repensar a educação" para diminuir o abismo entre a oferta de mão de obra sem qualificação e a demanda no mercado de trabalho. A fórmula? Unir esforços entre o poder público e o setor produtivo.

Conforme o diretor de Educação da Federasul, Fernando de Paula, cada vez mais as empresas terão de levar iniciativas de preparação para além dos próprios muros. Na outra ponta, o governador Eduardo Leite diz que o papel do Estado é oferecer, no ensino regular ou em cursos, formações mais condizentes com as demandas da economia.

- Por isso, temos cada vez mais o reforço de professores de matemática para aumentar a capacidade de raciocínio lógico. O poder público deve estar alinhado para que a formação venha na direção do que o mercado de trabalho vai exigir - afirma o governador.

Em 2022, lembra Leite, entra em vigor o novo Ensino Médio. A ideia é corrigir, em parte, o problema com a ampliação das atuais 800 horas-aula/ano para mil. Com a carga horária acrescida, estudantes optarão por cursos técnicos e de qualificação.

Disparidade

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, só 10,5% dos estudantes de Ensino Médio brasileiros fazem algum tipo de curso técnico. A média dos 38 países desenvolvidos signatários da entidade fica em 42,2%. No Brasil, diz Carlos Trein, diretor do Senai-RS, há prevalência pelos cursos superiores.

- Não jogo contra a graduação, mas fica evidente que existe desequilíbrio entre o que se vê em países desenvolvidos e o que praticamos aqui. Enquanto nesses paí­ses existem mais pessoas inseridas no mercado de trabalho, aqui, para cada um aluno que faz curso profissional existem seis que preferem a graduação. Isso atrasa a formação técnica, retarda o ingresso no mercado de trabalho e provoca essa grande falta de profissionais - argumenta Trein.

O dilema do setor industrial

O mundo passa por transição para a chamada indústria 4.0. Com a meta de aumentar a eficiência e reduzir custos, as novas tecnologias digitais devem flexibilizar as linhas de produção.

Por isso, é comum ouvir falar em onda de desemprego no segmento. No entanto, executivos e industriais afirmam o oposto, ainda que a adaptação traga para o chão de fábrica o mesmo dilema enfrentado na tecnologia da informação: investir em tecnologias, sem profissionais para operá-las.

Conforme a Confederação Nacional da Indústria (CNI), sete em cada 10 indústrias já investem em tecnologia 4.0 no país. Todas relatam - ao contrário do senso comum - que a implantação dos modelos demandou contratações.

No Rio Grande de Sul, por exemplo, a indústria geral empregava mais de 1 milhão em 2012. Hoje, são apenas 768 mil ocupações. Entre as empresas, 96% reportaram dificuldade para contratar operadores e 90% tiveram problemas para encontrar técnicos de nível médio. A mesma base aponta que 97% afirmam que isso afeta a produtividade e a qualidade do produto.

Na CMPC, gigante do setor de celulose, por exemplo, tecnologia e automação industrial trazem desafios. No que se refere à indústria 4.0, para se ter uma ideia, a empresa mapeou 1,3 mil cursos de softwares necessários para fazer a transição dos profissionais para a nova realidade da fábrica.

Diversidade

Na Gerdau, a diretora global de pessoas e responsabilidade social, Caroline Carpenedo, explica que a resolução do problema está além das empresas, mas diz que elas têm papel fundamental na preparação de colaboradores.

A saída, avalia, é antecipar estratégias e soluções. Por isso, há uma série de programas como o G-Start (estágios), G-Future (trainees), G-Lide (posições de liderança), G-Makers (inovação) e G-Data (cientistas de dados).

A partir de 2017, a companhia abriu o leque para trazer mais diversidade e criou programas para equilibrar raça e gênero. Um deles elevou a posição de mulheres em cargos de liderança. Batizada de projeto Helda, a ação ampliou de 17% para 23% a participação feminina nos postos de chefia. A meta é chegar a 30% em 2025. O parâmetro é um dos itens que formam o plano de remuneração variável dos colaboradores.

Mãe do Miguel, de dois anos, Paloma Pasqualina Colombo é a nova gerente jurídica trabalhista da empresa. Ela é uma das 27 integrantes da primeira turma do Helda e já passou por duas ascensões profissionais. Há quatro anos, durante seleção, relatou na entrevista que gostaria de ser mãe. A resposta recebida foi: "Aqui, nós adoramos crianças".

- Naquele momento, soube que estava no lugar certo - diz.

Recentemente, também foram criados e ampliados programas para contratação de pessoas com deficiência e para o público LGBT+. Além disso, em outubro, a Gerdau lançou o projeto de longevidade para trabalhadores acima dos 50 anos.

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