02 de Novembro de 2024
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- Nunca estamos preparados para perder alguém, ainda mais uma pessoa que teve uma vida muito intensa comigo - reflete a psicóloga de 67 anos. - A finitude nos dá consciência de que temos que viver bem o aqui e o agora, fazer o máximo possível, porque amanhã a gente não sabe se vai estar vivo.
A maior dificuldade foi enfrentar questões da vida prática, como papéis e contas a pagar. Tudo que era conversado e dividido por dois passou a ser responsabilidade apenas de Rosangela:
- Tive um sentimento de incapacidade: "Será que vou dar conta?" Isso me forçou a me organizar, a colocar os pés no chão.
No Dia de Finados, cabe destacar que a viuvez e o luto na terceira idade têm peculiaridades. Quem envelhece precisa ir se habituando a um ritmo mais intenso de perdas, e não só de familiares e amigos ao redor. É necessário se despedir do corpo e do rosto jovens, da carreira, dos anos mais produtivos, da mobilidade sem entraves. Para a mulher, a transição para a velhice é ainda mais marcante com a menopausa. Deve-se entender que tudo isso faz parte do ciclo da vida, pontua Ângela Seger, psicoterapeuta de família e de enlutados.
- Não temos controle sobre tudo. Por mais que a gente se prepare, as coisas vão acontecer. Posso cuidar muito da minha saúde e sofrer um acidente. Posso ser muito amorosa com meus filhos e eles irem morar em outro país. Tem coisas que vão acontecer se vivermos até a velhice, coisas que só acontecem com quem chega lá - afirma Ângela, também professora da PUCRS. - O processo de luto nos acompanha: morte de pessoas, animais de estimação. Aprender a lidar com perdas, dar-se conta de que morte e vida são indissociáveis, nos dá uma bagagem. Luto é uma reação natural a uma perda que envolve o emocional, a cognição, o social.
O luto na terceira idade requer mais cuidados e atenção do próprio enlutado e daqueles que o circundam, enfatiza a psicóloga Denise Cápua Corrêa, coordenadora administrativa do Cora - Núcleo de Luto do Centro de Estudos da Família e do Indivíduo (Cefi) de Porto Alegre.
- Um luto dentro do processo de envelhecimento, como a perda do parceiro, é mais complexo. Nossa rede de apoio é um dos fatores que podem facilitar o luto. Muitas vezes, o casal tem uma história de décadas. Em todas as perdas, um pedaço da gente vai junto, um pedaço da nossa história - reflete Denise.
Com a morte de um companheiro, é preciso reposicionar a relação que termina: antes ela era externa, agora terá de ser introjetada:
- Quem era essa pessoa, que tipo de relação eu tinha com ela, que falta ela faz na minha vida? Precisamos de tempo para entender isso, ainda mais se for uma morte abrupta. Há necessidade de adaptação e transformação. Somos uma pessoa antes de perder e outra depois.
O contexto em que o idoso está inserido - fora do mercado de trabalho, com os filhos envolvidos com suas próprias vidas - impacta muito esse processo. Existe o risco de o enlutado ficar muito sozinho. Ângela sugere:
- O suporte pode vir da família, dos amigos, de um grupo de mães, de um grupo de que a pessoa faça parte ou possa vir a fazer, até mesmo um grupo de enlutados.
Para Rosangela, as pessoas com quem cruzou pelo caminho foram fundamentais para dar conta dos compromissos a honrar e também da elaboração da morte do marido. A quem passa por situação semelhante, ela sugere "dar tempo ao tempo":
- É tão banal isso, mas tem que deixar o tempo agir. Quando quer chorar, chora. Quando quer rir, ri. Tenho momentos de risadas, mas, do nada, ouço uma música e desabo a chorar. Tem que deixar fluir os sentimentos, não censurar, ser flexível, baixar a guarda. Seguir a vida. _
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