Nada deve cair no esquecimento
A grandeza da tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul há seis meses, com uma extensão de estragos sem paralelo no país, fez os governos federal e estadual se comprometerem a não poupar recursos para o amparo aos atingidos e às empresas afetadas, para a recomposição da infraestrutura e para fortalecer os sistemas anticheia. A soma de todos os anúncios chega a R$ 114,8 bilhões, contabiliza o Painel da Reconstrução, ferramenta criada pelo Grupo RBS, instrumento referencial para acompanhar o quanto, de fato, já chegou à ponta em cada programa. Deste total, R$ 54,9 bilhões, o equivalente a 47,8%, foram efetivamente desembolsados.
Para a sociedade gaúcha cobrar que toda ajuda prometida se materialize, é determinante saber, no detalhe, o andamento individualizado das ações. Jogar luz sobre a informação pormenorizada facilita a reivindicação para destravar medidas que se mostrem sendo executadas em um ritmo inadequado à urgência atravessada pelo Estado. É uma infeliz tradição da cultura da burocracia do Brasil, a existência de uma distância significativa entre o que é anunciado com estardalhaço e o que é entregue. A passagem do tempo também costuma levar ao descompromisso e ao abrandamento das demandas.
A enormidade da catástrofe do Estado, com a previsão de anos a fio de obras, e o risco da repetição de eventos climáticos extremos impõem manter a vigilância para que nenhuma pessoa física ou jurídica fique sem o respaldo esperado, toda moradia prometida e aguardada seja recebida e cada palmo de estrada destruída reste restabelecido. Nota-se uma desaceleração no ritmo dos repasses. É algo até natural. Em um primeiro momento, logo após o dilúvio e suas consequências imediatas, a ajuda financeira a pessoas físicas e jurídicas tem de ser imediata. Em uma segunda etapa, as obras mais complexas de engenharia, como pontes e diques, exigem estudos aprofundados e projetos que levam mais tempo para serem elaborados.
Mas além das ações estruturantes, de mais longo prazo de maturação, há iniciativas que deveriam ser de pronto apoio aos atingidos e enfrentam entraves sérios. Precisam de uma solução rápida. É gritante o caso do Auxílio Reconstrução, formulado pelo Palácio do Planalto ainda em maio, mês da enchente. Iniciativa meritória, previa o pagamento de R$ 5,1 mil por família diretamente afetada, em parcela única. Trata-se de apoio fundamental em especial para as milhares de famílias de baixa renda atingidas. Até agora, 377 mil foram beneficiadas, com o desembolso de R$ 1,9 bilhão. Ainda assim, existem mais de 330 mil pedidos sem resposta, seis meses após a cheia. É possível que nem todas tenham de fato o direito, mas muitas estão enquadradas e devem ter essa pendência solucionada com a maior celeridade possível.
Reconstruir o Estado será uma tarefa longa. Diante de magnitude da destruição, o suporte do poder público é basilar. Acompanhar e cobrar periodicamente a ajuda prometida é essencial, sem deixar que nada caia no esquecimento. _
Opinião do leitor
OPINIÃO
Nenhum comentário:
Postar um comentário