01
de abril de 2014 | N° 17750
ARTIGOS
- Marcelo Sgarbossa*
Engodo padrão Fifa
Em 2014,
Porto Alegre vai sediar cinco jogos da Copa. Para dar conta do recado, a
prefeitura transformou a cidade num canteiro de obras, ampliando os
congestionamentos e atrapalhando a vida de toda a população. Muita propaganda
foi feita garantindo que tudo estaria pronto até o início do Mundial. Na
verdade, o discurso oficial caiu por terra, assim como as árvores derrubadas na
orla do Guaíba.
Da
falta de dinheiro, não dá para reclamar. Nunca tantos recursos federais foram
liberados para projetos de mobilidade urbana. No entanto, as escolhas da atual
administração partem de um pressuposto equivocado quanto ao modelo de cidade de
que precisamos para Porto Alegre.
As
grandes obras com o carimbo da Copa levantaram suspeitas de sobrepreço no
Tribunal de Contas. Denúncias de superfaturamento surgiram em 2011, na campanha
de divulgação do Mundial nos ônibus da Carris. Sem licitação, os adesivos nos
coletivos custaram quase o triplo do valor de mercado.
O
secretário Urbano Schmitt afirma sempre que o prefeito José Fortunati (PDT) teve
“ousadia” para investir em “14 grandes obras sonhadas há meio século”. Então, o
moderno agora é investir em projetos da década de 1960, alinhados ao modelo
rodoviarista de cidade? Que progresso é esse que privilegia o automóvel
individual?
Em
Seul (Coreia do Sul), Boston, Nova York (EUA) e outros tantos locais,
autopistas e viadutos foram demolidos para dar lugar a cidades mais humanas,
privilegiando as pessoas, o transporte coletivo e não motorizado. No Rio de
Janeiro e em São Paulo já se discute isso também. Por que Porto Alegre resolveu
andar na contramão do conceito moderno de planejamento urbano? Qual seria o
impacto na mobilidade se fossem tirados do papel os quase 400 quilômetros de ciclovias
previstos no Plano Cicloviário?
Existem
outras ações inteligentes e baratas mais eficazes para enfrentar os gargalos do
trânsito. Por exemplo, flexibilizar as jornadas de trabalho, diluindo os
deslocamentos ao longo do dia, e criar faixas exclusivas para ônibus em horários
de pico, como vem fazendo a capital paulista.
Só que,
entre as “grandes obras” da prefeitura de Porto Alegre, apenas uma privilegia o
transporte coletivo: os chamados BRTs. Mas aqui o projeto não prevê vias de
ultrapassagem nos corredores. Desta forma, os “ônibus rápidos” ficarão
trancados atrás de outros coletivos. Na Porto Alegre da contramão, a população
terá que engolir mais um engodo padrão Fifa.
*VEREADOR
EM PORTO ALEGRE (PT)