03
de abril de 2014 | N° 17752
FÁBIO
PRIKLADNICKI
Enganei o Facebook
Há um
conhecido ditado entre especialistas em privacidade e segurança na internet: se
você não está pagando por um serviço é porque você é o produto. Em troca do uso
de redes sociais, caixas de e-mail e máquinas de procura, aceitamos ter nossas
informações pessoais comercializadas para quem estiver disposto a pagar por
isso, como agências de marketing, ou estiver disposto a obter à força, como órgãos
de inteligência de governos.
Uma
das impressionantes informações vazadas por Edward Snow- den, ex-prestador de
serviços da Agência Nacional de Segurança, é que o famigerado serviço secreto
norte-americano obteve acesso direto aos servidores das grandes corporações de
tecnologia (o que foi negado pela NSA).
Hoje,
precisamos não apenas preservar nossos dados das outras pessoas, mas também das
próprias empresas que nos oferecem serviços supostamente gratuitos. Em uma
modesta tentativa de enganar o Facebook, troquei minha data de nascimento e meu
gênero nas informações requeridas no perfil (e visíveis apenas aos técnicos da
rede social). Tornei-me, aos olhos do Facebook, uma respeitável senhora de 44
anos.
Imediatamente
passei a ser exposto a anúncios que alguém supôs que fossem do meu interesse. Sua
cozinha sempre linda!, Pazes com a balança, Pílula de dieta exclusiva, Quer
vender sua lava-roupas?, Casaquinhos charmosos, Celular velho nunca mais! e até
Trabalhe no McDonald’s.
Percebi
que estava sendo amador. Então, baixei uma extensão para o navegador que
bloqueia anúncios. Mas é apenas o começo.
Se
você não está paranoico com tudo o que está acontecendo é porque provavelmente
não está muito bem informado. Tenho compartilhado essas ideias entre amigos e já
ouvi argumentos despreocupados como: “Não tenho nada a esconder”. Mas a
privacidade não é uma questão de ter ou não algo a esconder. Depois das revelações
de Edward Snowden, está claro que não podemos delegar a segurança de nossas
informações a empresas com políticas de privacidade obscuras e que mudam a toda
hora – o que constitui boa parte dos serviços que você usa.
Não
quero parecer demasiadamente apocalíptico, mas, cá entre nós, está na hora de
migrar para sites que se comprometam conosco e de aprender a criptografar
nossas comunicações. Afinal, eles estão por toda parte.