20
de abril de 2015 | N° 18138
MOISÉS
MENDES
Plantões
São
traiçoeiras as manhãs de sábado num plantão de jornal. A edição de domingo já
está sendo impressa e a qualquer momento pode começar o massacre da Praça da
Paz Celestial ou explodir a Columbia.
O
massacre de Pequim começou no dia 3 de junho 1989, e a nave explodiu no Texas
no dia 1º de fevereiro de 2003.
No
sábado passado, falava-se sobre emergências numa Redação, quando Natália Leal,
editora de notícias de ZH digital, contou que seu sonho de estudante era poder
dizer um dia: parem as máquinas. Algo grandioso aconteceu ou está acontecendo.
Natália é editora do online, sua máquina virtual não para nunca.
Na
calmaria de sábado, o que Natália anunciava aos outros plantonistas era isso:
amigo de áries, a conjunção do Sol e da Lua propicia um momento para que você
se renove e olhe para dentro de si mesmo.
Natália
lia o horóscopo em voz alta porque a morneza do sábado permitia. Mas sabia que,
se algo grandioso acontecesse, envolveria-se na operação, no online e no papel.
Assim é a vida de jornalistas de Redação.
Jornalistas
de rua e de estrada estão sempre pensando no que vão encontrar pelo caminho.
Jornalistas de Redação são impactados pelo que vem das ruas ou cai dos céus.
Além do encontro do Sol e da Lua, tudo pode acontecer numa manhã de sábado. Mas
encerramos o plantão distensionados pelo horóscopo da introspecção.
Eu
prefiro o plantão de domingo, porque o jornal é feito até as 22h. Plantões
imprevisíveis de sábado são para jovens de touro ou escorpião. Eu sou um
geminiano domingueiro.
Quase
todo domingo em que estava na Redação, aí pelas 17h, eu recebia um telefonema
com dois pedidos:
– O
senhor poderia fazer o obséquio de trocar duas palavras no meu artigo?
Trocadas
as palavras, vinha o segundo pedido:
– E
quais são as novidades hoje?
Às
vezes não havia novidades e eu me sentia constrangido como jornalista carente
de notícias.
Domingo
passado, a notícia era a morte de quem me telefonava aos domingos. Paulo
Brossard de Souza Pinto foi-se num domingo em que eu não estava trabalhando. O
homem que chegou a apoiar o golpe de 64 – e depois ajudou a derrubar a ditadura
– nos ensinou a enfrentar qualquer conversa golpista. Se Saturno entrar em
tensão com a Lua e isso favorecer um golpe, estaremos de plantão. Para
resistir.
