14
de abril de 2015 | N° 18132
EDITORIAIS
ZH
O DESAFIO DA
REPRESENTATIVIDADE
Embora
menos pessoas tenham saído às ruas para protestar contra o governo nas
manifestações do último domingo, em relação a 15 de março, governantes e
políticos não podem ignorar o sentimento de insatisfação que leva milhares de
brasileiros a sacrificar horas de descanso para reivindicar um país melhor e
mais íntegro. Um fato que voltou a chamar atenção foi a absoluta ausência de
partidos políticos nos protestos.
De
acordo com o Instituto Datafolha, 95% dos manifestantes afirmaram não serem
filiados a nenhuma legenda. As bandeiras partidárias têm sido inequivocamente
rejeitadas pelos manifestantes, que elegeram o combate à corrupção como
principal demanda. Eis aí um aspecto que merece reflexão e providências por
parte dos representantes políticos.
O
primeiro ponto a ser considerado é que não existe democracia representativa sem
partidos. Não resta alternativa às lideranças políticas que não seja
reconquistar a confiança dos cidadãos, para que deixem de ver as organizações
partidárias apenas como instrumentos de conquista do poder e de locupletação
pessoal de seus integrantes.
Para
isso, evidentemente, é essencial que as siglas promovam uma autodepuração e que
se comprometam com uma reforma política consistente. Deve fazer parte desse
processo a admissão, pelos próprios políticos, de que muitas das suas atitudes
contribuem para desqualificação das agremiações, para a perda de confiança dos
cidadãos em sua representatividade e, em alguns casos, até mesmo para a repulsa
em relação às instituições.
O
resgate da importância dos partidos passa, no entanto, também pela capacidade
da sociedade de vigiar e interferir rotineiramente no que é decidido em seu
nome, nos legislativos e nos governos, e não só em períodos eleitorais.