21
de abril de 2015 | N° 18139
DAVID
COIMBRA
A falta que a mãe
faz
Em
todas as vezes que visitei a Fase, a antiga Febem, nunca encontrei um menino
egresso de família constituída e atuante, e por atuante refiro-me a pai e mãe
preocupados com a educação dos filhos. Nunca encontrei um único, nunca. Em
geral, o pai era ausente, ou inexistente, ou bêbado, ou drogado, ou coisa pior.
Volta e meia, a mãe também era isso tudo, principalmente coisa pior.
Pode
ter sido falta de sorte minha, mas duvido – fui muitas vezes à Fase. Aposto uma
nota verdinha com o retrato de Benjamin Franklin que nem 10% dos internos foram
criados por pai e mãe zelosos.
Com
isso estou dizendo o óbvio: que a família é o mais importante na educação de
uma criança. E foi essa obviedade que disse o secretário de Segurança do Rio
Grande do Sul, ontem, em entrevista à Gaúcha: era melhor, para os filhos,
quando as mães ficavam em casa, cuidando deles.
Alguém
pode dizer que isso não é verdade?
É
claro que é.
Sendo
assim, por que a antiga fórmula composta por “pai provedor” e “mãe do lar” não
funciona mais na sociedade ocidental? Porque a sociedade ocidental mudou. Está
sempre mudando. Dia a dia. É muito difícil fazer um retrato da sociedade,
porque ela é um rio em constante movimento.
A
Revolução Industrial, as guerras e as crises econômicas jogaram a mulher no
mercado de trabalho. O que pode ter sido bom para algumas mulheres e nem tanto
para outras. Muitas queriam ficar em casa, cuidando dos filhos. Dessas, uma
parte não pode, porque simplesmente tem de trabalhar. Outra parte, que pode,
não quer porque, para determinada classe social, “pega mal” a mulher não ter
emprego.
No
Dia das Mães, que se aproxima, você vê aqueles anúncios venerando a
“Super-Mulher”, que bota um tailleur para a reunião da empresa, um avental para
cozinhar para os filhos e uma malha de academia para deixar o corpo enxuto como
o de uma Gisele. É uma sacanagem. Como exigir isso de qualquer pessoa, mulher
ou homem?
Como
dizia Jesus, ninguém pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. Uma mulher com
grande responsabilidade profissional, ou com um trabalho muito estafante, não
terá tempo nem energia para cuidar dos filhos como cuidaria se estivesse o dia
inteiro em casa. Não há como, por melhor mãe que ela seja ou pretenda ser.
Mas
a vida também é regida pela lei das compensações. As mulheres não são mais como
eram, e os homens também não. À medida que as mulheres tiveram de se afastar
dos filhos, os homens se aproximaram deles. Hoje, os homens são melhores pais,
exatamente porque há espaço e necessidade para isso.
O
problema é que não é suficiente. Pais e mães conscientes estão perdendo a
disputa para a degeneração social, aliada à incúria do Estado nas suas tarefas
básicas de educação e segurança pública. E é aí que entraria o secretário. Ele
pode estar certo na sua análise da responsabilidade da família pela falência
moral do país, mas está sendo omisso ao não admitir a própria responsabilidade.
Ele não está fazendo a parte dele. E, na parte dele, há muito para fazer.