27
de abril de 2015 | N° 18145
VERÍSSIMO
Buracos
morenos
A
mais nova especulação da física é que existem mais buracos negros no Universo
do que se imaginava. Eles não estariam apenas na imensidão sideral, como
gigantescos aspiradores engolindo galáxias inteiras, mas também à nossa volta,
como pequenos ductos para o universo paralelo. Seriam tão comuns e fariam parte
do nosso cotidiano de tal maneira, que deveríamos parar de chamá-los de buracos
“negros”, com sua conotação de obscuridade e terror, e adotar um nome mais
íntimo, como buracos morenos (mas não, claro, buracos afrodescendentes).
Qualquer
um de nós está sujeito a ser tragado por um desses buracos e se ver, de
repente, no outro universo. Onde poderia muito bem encontrar aquela caneta
favorita que tinha sumido, o último disco do Chico que desconfiava que alguém
tinha roubado, livros e outros objetos inexplicavelmente desaparecidos e até a
tia Idalina, que todos pensavam que tinha fugido com um boliviano e fora apenas
sugada por um ducto.
Uma
possível vítima de um desses hipotéticos buracos morenos seria o ministro do
Supremo Gilmar Mendes, que pediu vista do projeto de alteração das leis
eleitorais para impedir doações de empresas a partidos políticos que estava
sendo votado no Tribunal, guardou o projeto numa gaveta da sua casa para
estudar depois, fechou a gaveta com chave – e a chave desapareceu. O ministro
estaria procurando a chave por todos os lados, preocupado em não atrasar a
votação, e não a encontrando. Só haveria uma explicação possível para o
desaparecimento da chave: buraco moreno.
Outro
caso em que um buraco moreno seria a única explicação aceitável é o da ação penal
contra o senador Eduardo Azeredo, do PSDB, suposto beneficiário maior do que
ficou conhecido como o “mensalão” mineiro, ou “mensalão” tucano, origem e
modelo do “mensalão” que mais tarde beneficiaria o PT. Exaustos depois do
julgamento do PT, os ministros do Supremo decidiram mandar o processo contra
Eduardo Azeredo para ser julgado em Minas. No caminho de Minas, o processo
teria se desfeito no ar. Pelo menos nunca mais se ouviu falar nele. Buraco
moreno.
Aliás,
um mistério sobre o qual a física também deveria especular é o da predileção
dos buracos morenos pelo PSDB. Por exemplo: a compra de votos para possibilitar
a reeleição do Fernando Henrique caiu no esquecimento, ou caiu num buraco
moreno? O PT não quer outra coisa a não se que um buraco moreno venha aspirar
todas as suas agruras, como faz com o PSDB. É pura inveja.