24
de abril de 2015 | N° 18142
MOISÉS
MENDES
Vibrações
Uma
padaria-confeitaria-café de sucesso na zona sul de Porto Alegre derruba algumas
teorias do feng shui. Sabe-se que o feng shui é uma sabedoria milenar chinesa
que explicaria a harmonia, as vibrações e as energias de um lugar, seja um
ambiente natural, uma sala ou uma casa.
A
padaria fica no térreo de um edifício com mais três andares. Os outros andares
são sustentados pelo esqueleto das ruínas de um prédio inacabado. Algo deu
muito errado ali, há muito tempo. Quem olha pra cima vê concreto encascurrado e
ferros retorcidos.
Mas
tudo deu muito certo no térreo avarandado bonito e acolhedor. É como se o
térreo, sempre cheio de gente, e o que fica acima dele não tivessem nenhum
parentesco. Só há pouco tempo fui me dar conta disso.
Já
morei num prédio em que a porta ficava bem na junção de ruas que formavam um
“T”. Isso é ruim, segundo o feng shui. O trânsito escorre pela perna do “T” e
acaba represado na rua que interrompe esse fluxo. A energia negativa ficava
acumulada no fim da rua, na travessa do “T”, bem onde eu morava.
Se
fosse fazer um balanço de dois anos de residência, acho que daria empate entre
coisas boas e ruins. Mas a sensação de que estava no lugar errado me
incomodava.
Gay
Talese, um dos maiores jornalistas de todos os tempos, escreveu nos anos 70
sobre o prédio 206 da Rua 63 East, em Nova York, em que 12 restaurantes
quebraram – e na volta tudo prosperava. Você deve conhecer pelo menos um lugar
assim.
Falo
disso porque penso sempre na área em que foi construído o Palácio do Planalto.
Não sei se a disposição geográfica do poder em Brasília seria aprovada por um
especialista em feng shui.
Agora
mesmo, há quem pretenda derrubar o governo por causa das chamadas pedaladas
fiscais. Dilma seria o primeiro presidente a sofrer impeachment, em toda a
história da humanidade, por causa das manobras contábeis das tais pedaladas.
Olhei
o mapa de Brasília, o eixo monumental e o “T”, cuja perna termina na Praça dos
Três Poderes, com o Planalto de um lado e o Supremo do outro. A perna desse “T”
é o Congresso, que se movimenta com as energias pesadas do Eduardo Cunha e do
Renan Calheiros direcionadas para o Planalto.
Eu
sairia dali, iria governar do Alvorada e, já que tanto pedem, deixaria o
Planalto aos cuidados do Temer. Mas aí tem o “T” do Temer.