11
de abril de 2015 | N° 18129
DAVID
COIMBRA
Reeleger Dilma foi um
erro
O
Brasil errou ao reeleger Dilma. Não foi nosso primeiro erro eleitoral. Vide
Jânio. Vide Collor.
Não
quer dizer que Aécio seria bom presidente – provavelmente não seria. O problema
é mais um mandato do PT.
Mas
também não quer dizer que o PT seja um mal em si. Não é. As doenças do Brasil
não começaram com o PT e nem se extinguem nele.
É
mais complexo. Ainda não nos conhecemos o suficiente para compreender todas as
razões por que sofremos.
Primeiro,
temos de entender que o PT é um partido especial na história brasileira. Nunca
houve outro igual. O que mais se aproximava em organicidade era o PCB, o velho
partidão, mas o PCB não passava de uma quimera. Ninguém levou nem leva a sério
o comunismo no Brasil.
Já o
MDB e a Arena eram grandes, mas eram frentes sem forma. O PTB servia apenas
como sustentação ao populismo de Getúlio, Jango e Brizola. A UDN nunca teve
verdadeira penetração popular. E o PSDB simplesmente não consegue se comunicar
com as pessoas. Ninguém sabe realmente o que quer o PSDB, além de ser oposição
ao PT. Acredito que nem o PSDB saiba.
O
PT, não. O PT tem uma inteligência, uma organização e um plano. O plano é
manter-se no poder. A fim de atingir esse objetivo, o PT usou a inteligência
para montar uma organização sólida e flexível ao mesmo tempo. Essa organização
se infiltra na sociedade, valendo-se da estrutura do Estado para se fortalecer.
É um processo de retroalimentação. Um moto-contínuo. O poder faz aumentar o
poder.
Vou
dar um exemplo fictício. Poderia citar uma universidade, uma associação de
bairro, até uma igreja, mas fiquemos com uma ONG. Digamos, uma ONG que ajuda
mulheres agredidas pelos maridos. Essa ONG é dirigida por pessoas vinculadas ao
PT. O governo financia essa ONG. Logo, a sobrevivência da ONG depende da
manutenção do PT no governo. Logo, a ONG trabalha para o PT. No entanto, a ONG
realmente ajuda as mulheres agredidas pelos maridos. Ela é conduzida por
pessoas que querem o bem dessas mulheres, seu trabalho é importante e faz a diferença
na vida de muita gente.
Num
país cheio de carências, o bem se confunde com a conveniência.
Não
seria de todo ruim se a conveniência volta e meia não suplantasse o bem, caso
que se dá em várias entidades, como os sindicatos – inúmeros sindicatos se
transformaram em instrumentos políticos. Não servem à categoria que
representam, servem ao partido. Existem só pela conveniência.
Nenhum
país dá certo se depender da benevolência de um homem ou de um grupo. Todos os
países que deram certo têm um sistema de funcionamento que independe de quem
está no poder. O governo do PT, em diversos âmbitos, fez bem a milhões de
pessoas, sem fazer bem ao país. Ao contrário: fez mais mal do que bem, porque o
Brasil perdeu tempo, e está perdendo tempo ainda.
A
não reeleição de Dilma seria importante porque suavizaria esse processo de
entranhamento do PT na sociedade organizada e o uso do Estado em benefício
próprio. Com Dilma reeleita, o governo e suas entidades-satélites passarão os
próximos três anos e meio distraindo a população com cortinas de fumaça, como a
reforma política. Não acredite neles. Tudo é mais sutil. Nada será fácil. Ainda
temos muito a aprender sobre nós mesmos.