25
de abril de 2015 | N° 18143
NÍLSON SOUZA
PEDRINHAS
Dia
desses, o governador do Estado andou tropeçando na palavra “escrúpulo”,
utilizada no plural, aparentemente com boa intenção, mas com péssima
repercussão. Sartorês, apressaram-se em explicar os assessores convocados a
traduzir para o politicamente correto o discurso desconexo do chefe. Ao dizer
que o banco estatal deveria atuar sem escrúpulos ou comprometimentos
ideológicos, ele não estaria estimulando o vale-tudo, mas, sim, a ousadia, a
competitividade e o lucro lícito.
Escrúpulo
é uma palavrinha interessante. Vem do latim “scrupulus” e significa peso da
consciência, angústia, algo que perturba quem não agiu corretamente. É o
diminutivo de “scrupus”, uma pedra pequena e pontiaguda. Daí vem a sabedoria
popular: escrúpulo é uma pedrinha no sapato. Incomoda, mas nos lembra que
devemos perseguir a ética, a integridade e a honestidade na caminhada pelo
planeta.
Não
é a primeira vez que um homem público tropeça nessa palavra. Os mais antigos,
como este escriba, certamente lembram de um ex-ministro que perdeu o cargo por
bravatear, diante de um microfone ligado, que não tinha escrúpulos: “O que é
bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde” – complementou, num surto de
franqueza suicida.
Outro
ex-ministro, mais antigo ainda, também usou a palavrinha incômoda num triste
momento da vida do país, na reunião de promulgação do fatídico Ato
Institucional número 5: “Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os
escrúpulos de consciência”. Disse e apoiou a aberração.
Quem
eram esses ministros? Já vou nomeá-los, antes que os leitores também me mandem
às favas, pensando que estou protegendo inescrupulosos confessos. O ex-ministro
da Fazenda Rubens Ricupero, antes da derrapagem verbal sobre mostrar e
esconder, deu valiosa contribuição ao país na implementação do Plano Real. O
ex-ministro do Trabalho e Previdência Social e outras pastas Jarbas Passarinho
também tem uma biografia de contribuições relevantes para a nação, manchada
pela chancela explícita à ditadura.
Que
a História os julgue. Pedras no sapato, quem não as tem?