segunda-feira, 27 de abril de 2015


27 de abril de 2015 | N° 18145
CÍNTIA MOSCOVICH

CARPINEJAR DE VOLTA À CASA

Boas notícias para a cena literária: depois de oito anos sem publicar poesia, Fabrício Carpinejar volta ao gênero com Todas as Mulheres, lançamento prometido para o segundo semestre deste ano pela Bertrand Brasil.

Interrompendo um intervalo que se iniciou em 2007, com Meu filho, Minha Filha, período no qual se dedicou à crônica e a deslanchar uma carreira que envolve jornais, revistas, duas emissoras de televisão, rádio e Internet, o autor volta aos versos com vigor e sobriedade. Carpinejar apresenta um livro que se desenvolve num poema único, apenas com arejadas pausas entre estrofes, espaços em branco que propiciam tempo para a reflexão sobre o que se está lendo.

Como vem fazendo desde sua estreia com As Solas do Sol, de 1998, o novo livro segue um enredo proposto por um sujeito lírico-narrador. No caso de Todas as Mulheres, o protagonista é um poeta morto, espécie de Brás Cubas dos versos, que assiste a seu próprio velório e tenta localizar, entre as ex-mulheres que pranteiam sobre o caixão, aquela que, por amor, é sua verdadeira viúva. O resultado dessa trama é um nunca menos que impressionante inventário sentimental, um rol de paixões do qual o poeta extrai crus e dolorosos achados acerca dos relacionamentos amorosos e familiares.

Escrevendo com destemor lírico – há quem diga que Fabricio é na literatura o que é na vida –, confessando paixões incendiárias e deixando escapar de cada verso um erotismo tão delicado, o poeta consegue vencer a maior batalha de todas, que é a de arrancar transcendência daquilo que é banal e singelo. Essa simplicidade, que de simples não tem nada e que é feita do essencial arrancado ao excesso, talvez seja a grande marca do retorno de Carpinejar à casa da poesia.


Contrastando com o jorro das paixões e das lembranças, ali está o termo adequado, a metáfora no lugar preciso, a exatidão do vocabulário. Tudo no texto parece construído com uma naturalidade que chega a desconcertar, como se amor e desilusão pudessem ser contadas numas poucas palavras. Carpinejar pode ter demorado muito tempo para retornar a seu gênero de origem. Mas afianço: que retorno.