17
de abril de 2015 | N° 18135
MARCOS
PIANGERS
Quero morar na
Suécia
Deve
haver uma relação entre frio e países desenvolvidos, vide os países nórdicos e
suas ótimas políticas públicas, suas empresas muito bem-sucedidas, suas moedas
fortes. Imagino que em dias de neve, e não são poucos, aqueles suecos,
noruegueses e finlandeses lindos, loiros e de olhos azuis, homens como que
saídos de uma revista de decoração, coloquem seus ternos bem-cortados para
trabalhar e fiquem o dia inteiro focados em produzir, gerando assim riqueza e
prosperidade para seus compatriotas. Imagino que na Suécia ninguém saia para
almoçar em grupo. Ficam todos no escritório comendo cenouras, ouvindo músicas
melancólicas enquanto fazem um mundo melhor.
Deve
fazer calor por uns 15 minutos durante o ano, e não há happy hour. Imagino que
bebam para se esquentar, mas não sabem o que é sentar de bermuda em uma mesa na
calçada e pedir três chopes gelados, em sequência. O sonho de todo sueco é
morar no Brasil, poder pegar praia em Copacabana no meio dos meses de inverno,
sentar na areia e tomar uma cerveja aguada de latão. Ver a Luana Piovani do seu
lado de biquíni. Ah, a Luana Piovani! Tenho convicção de que alguém em algum
jornal do norte da Suécia está agora escrevendo um texto com o título: “Quero
morar no Brasil”.
É
fácil querer morar no Brasil. A combinação climática, geográfica e cultural é
deslumbrante, vi isso diariamente morando em Florianópolis. Os gringos chegavam
no verão, viam uma loira de maiô (ou um loiro de sunga, em alguns casos) e
decidiam ficar lá pra sempre. Não havia forma de dissuadir o turista. “Mas não
há abismo social no seu país!
Todas
as pessoas têm suas necessidades básicas atendidas! Não há violência e as
escolas são gratuitas! Estão fechando prisões por falta de criminosos! Há
comida e aluguel barato! Volte para seu país!” E o gringo era irredutível,
rasgava o passaporte e alugava um JK na Lagoa da Conceição, e era tudo o que
ele queria pro resto da vida. Eventualmente, chegava o inverno e o frio, os
bares fechavam e as meninas de biquíni iam embora. O gringo era assaltado, o 3G
não pegava nunca, a gasolina passava de R$ 3. Porém, vi com meus próprios
olhos, gringo nenhum pensava em voltar.
Sei
que animei muita gente com a possibilidade de ir embora, mas eu não quero
realmente morar na Suécia. É muito frio na Suécia. Quero morar numa Suécia
tropical, uma Suécia com chope, mesa na calçada, Luana Piovani de biquíni e
igualdade social. Não me importo de pagar impostos suecos, desde que possa ter
praia e educação, bermuda e segurança. O Brasil é maravilhoso, não há dúvida.
Mas teve um tiroteio perto aqui de casa nesta semana. Numa rua em que minhas filhas
caminham felizes todos os dias. Por um momento, a neve não pareceu tão ruim.