quinta-feira, 30 de abril de 2015


30 de abril de 2015 | N° 18148
ARTIGO - HUMBERTO TREZZI*

BANHO DE SANGUE NUM PORTO NÃO TÃO ALEGRE

Esta semana, foi no bairro Sarandi, coração da Zona Norte, dois sujeitos liquidados a tiros dentro de um caminhão, em frente a outros motoristas. Alguns dias atrás, foi um rapaz, executado com mais de 20 tiros dentro de um ônibus cheio de passageiros, na movimentada esquina da Ramiro Barcelos com a Farrapos.

Ontem, foi na Restinga, um menino com antecedentes por assalto assassinado em seus tenros 12 anos de idade. Tudo à luz do dia, repleto de testemunhas. Os assassinos definitivamente perderam o pudor e o temor em Porto Alegre, que vive uma orgia de homicídios.

Não só a Capital. Os homicídios aumentaram 68,6% em uma década no Rio Grande do Sul como um todo. Crescem quase que ano a ano. O curioso é que esse banho de sangue vem na contramão de grandes metrópoles brasileiras, como São Paulo e Rio. As duas deixaram há muito de ser as capitais mais violentas do país. Os paulistas, aliás, convivem há 15 anos com redução nos homicídios (excetuados ligeiros aumentos pontuais).

A subida nos homicídios no Rio Grande do Sul é algum reflexo da crise econômica? Não. Até porque estávamos em pleno emprego quando começou essa ascensão mortífera. E fatores econômicos também teriam afetado outros Estados, que no entanto recua- ram no volume de assassinatos.

Parte da explicação parece estar numa espécie de falência moral: a ideia de que crime compensa e a melhor resposta aos inimigos é a bala. O economista Cristiano Aguiar de Oliveira abordou o assunto no excelente artigo “Análise espacial da criminalidade do Rio Grande do Sul”, publicado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Problemas na estrutura familiar e a ineficiência do ensino no Estado ajudam a aumentar a criminalidade, pondera o estudioso. Faz sentido. Escola e família são fundamentais no processo de desenvolvimento moral do indivíduo. Quando falham na sua missão de garantir a inserção no mercado de trabalho lícito e passar valores aos jovens, a coisa se agrava.

Um agravante, no RS, é a carência no número de policiais. O contingente diminui desde os anos 80. São Paulo e Rio, por exemplo, são proporcionalmente muito mais policiados. Sem investimento à vista, nos resta a esperança de que o homicídio sature. Alguns experts acreditam nessa exaustão: em algum momento, a bandidagem gaúcha vai cansar de acertar contas a tiros (e nos acertar). Será? Amém.


*Jornalista, repórter especial de ZH humberto.trezzi@ zerohora.com