27
de abril de 2015 | N° 18145
DAVID
COIMBRA
Medo de panela de
pressão
Tenho
medo de panela de pressão. Já ouvi coisas horríveis a respeito de acidentes que
ocorreram devido ao uso enviesado de panelas de pressão. Se você não cuidar,
uma panela de pressão pode explodir violentamente e causar danos e mutilações
ou coisa pior. Acho que foi a minha mãe que, uma vez, me contou de uma senhora,
zelosa dona de casa, que morreu com uma tampada de panela de pressão entre os
olhos. Morte inglória. E desagradável, por que a pessoa, além de morrer, não é
levada a sério. Você chega ao enterro e pergunta:
–
Como se deu o passamento da falecida?
Alguém
conta, entre lágrimas:
–
Ela estava fazendo feijão com linguicinha e a panela voou bem na cara dela a
uma velocidade de 80
quilômetros por hora...
Como
você vai ficar compadecido? Não, não, é preciso haver solenidade na morte. O
senador Pinheiro Machado, ilustre antepassado dos meus amigos Ivan e Zé
Antônio, dizia que suas roupas de baixo eram sempre feitas da mais pura seda,
para o caso de ser surpreendido por morte violenta. E, de fato, Pinheiro
Machado, “o condestável da República”, foi apunhalado pelas costas no saguão do
Hotel dos Estrangeiros, no Rio. Antes de cair, grunhiu:
–
Ah, canalha! Apunhalaram-me!
Morreu
usando ênclise perfeita e cuecas de seda. Elegância! Isso é elegância, meus
amigos!
Elegância
é fundamental. Veja o Obama. O jeito que ele caminha. Aquele gingado. Demonstra
possuir domínio do próprio corpo. Coisa de atleta – Obama foi jogador de
basquete na universidade. E a impostação do homem! A pontuação das frases.
Obama nasceu para ser presidente dos Estados Unidos.
Será
que seria presidente do Brasil?
Não
sei, nossos presidentes sempre tiveram uma aragem popularesca. Collor era o que
mais dava importância para a aparência, mas Collor era um brega, ele com
aquelas suas camisetas com mensagens. Jânio, conta-se, fazia questão de deixar
a caspa nos ombros, para parecer “do povo”. Fernando Henrique dizia ter “um pé
na cozinha”. E Lula foi o maior mestre na arte de se mostrar “gente como a
gente”, a ponto de falar errado mais por gosto eleitoral do que por incúria
verbal.
Mesmo
assim, todos cuidavam de certos detalhes que lhes davam distinção, e o maior
símbolo disso é a barba embranquecida de Lula, que, tornada barba presidencial,
era aparada com critério de ourives. Não havia um fio rebelde, um fio
contestador, um fio guevarista naquela barba de número 1 da República.
É
por isso que vejo na mudança de imagem de Dilma alvíssaras para o governo
federal. Na cerimônia de posse, ela caminhava pesado, roçando pernas, mais
arfando do que respirando. Parecia desleixada, e o desleixo é primo-irmão da
negligência, característica deplorável em quem tem como missão olhar por todo
um país. Mas, nas semanas seguintes, Dilma emagreceu 14 quilos, graças ao tal
método Ravenna. Não usa mais aquele conjuntinho vermelho. Está mais disposta.
Está... bem.
Tenho
convicção de que esse foi um ingrediente importante para que sua popularidade
parasse de cair. Dilma fez várias aparições, de uns tempos para cá, e as
pessoas viram-na melhor do que estava antes. Intimamente, talvez tenham
sentido: por que o governo não pode melhorar também? Pode, claro que pode. Até
porque, se piorar... cuidado com o panelaço de pressão!