ELIO GASPARI
Começou o terceiro mandato da
doutora
Dilma
prometeu uma coisa, tentou outra e vai começar tudo de novo, com Levy, Te-mer,
mais PMDB e menos PT
O
primeiro mandato da doutora Dilma foi de 2011
a dezembro de 2014. O segundo durou 97 dias. Teve vida
mais curta que o de Napoleão entre sua fuga da ilha de Elba e a batalha de
Waterloo. O terceiro começou na semana passada. Nada tem a ver com o que a
candidata prometeu ou com o que tentou fazer. Para um governo que se meteu em
tantas trapalhadas em tão pouco tempo, qualquer previsão será um exercício
astrológico. De qualquer maneira, ninguém de boa-fé poderá dizer que Guido
Mantega seria melhor ministro do que Joaquim Levy. Da mesma forma, trocar o
aloprado "núcleo duro" de Aloizio Mercadante por Michel Temer indica
que terminou o período de articulação do caos.
Temer
teve a astúcia de assumir uma função sem ocupar qualquer cargo. Um bom
indicador para a sua fé no trato com a doutora será a leitura de sua agenda. No
dia em que for anunciado que, por alguma razão, ele viajou para o exterior,
estará dado o sinal de que desistiu.
O
comissário Tarso Genro queixou-se dizendo que "para o bem e para o mal: PT
é cada vez mais acessório no governo". Qual PT? O da Papuda e de João
Vaccari ou o de Sérgio Buarque de Holanda e Florestan Fernandes? A referência a
fundadores mortos deve-se à falta de exemplos seguros entre os vivos que estão
sem bússola.
Para
o bem, a perda de influência do PT significa estancar a produção de maluquices
a que ele se entregou. Coisas como plebiscitos, Constituinte exclusiva, voto de
lista ou mesmo a convocação do "exército" de João Pedro Stedile (com
quentinha ou sem quentinha?).
O
breve segundo mandato da doutora fritou-se. O terceiro, socorrido por Temer,
exigirá dela tocar o expediente, valendo-se do apoio de seus aliados. Essas
duas funções não podem ser terceirizadas, são atribuições da Presidência da
República. Se o novo mandato tiver menos marquetagem e mais trabalho, quem
sabe, dará certo.
ANAC
ÀS MOSCAS
A doutora
Dilma entregou a coordenação política do governo a Michel Temer. Pelo andar da
carruagem precisará arrumar um coordenador de governo. É difícil, mas alguém
pode achar que oito meses é um prazo aceitável para a escolha de um ministro do
Supremo.
Na Agência
Nacional de Aviação Civil a situação é pior. A Anac tem cinco diretorias. Três
estão vagas. A primeira delas desde 2013, quando o titular foi defenestrado no
rastro de um escândalo. A terceira vagou há três semanas. Estão brincando com
fogo. Em 12 anos o setor passou a 34 milhões de passageiros/ano para 101
milhões em 2014. É o terceiro do mundo, perdendo só para os EUA e a China, e as
tarifas caíram 40%.
A
alta do dólar e a retração da economia podem roubar uma das joias da coroa do
PT, devolvendo o andar de baixo para as rodoviárias.
PORTA
GIRATÓRIA
O
senador Ataides Oliveira (PSDB-TO) quer uma CPI para investigar os ilícitos
cometidos no Conselho de Administração de Recursos Fiscais. A ideia poderá
expandir o tema. Se recuar muito, arrisca-se chegar ao século 16, quando os
caetés comeram o provedor Antonio Cardoso de Barros, o primeiro secretário da
Receita de Pindorama. A porta giratória que transformava auditores aposentados
em consultores de empresas autuadas que recorriam ao Carf para reduzir seus
débitos foi lubrificada no início da década de 90. Desde então rodou invicta,
até que chegou a Polícia Federal.
PAVIO
CURTO
Ao
lidar com a repercussão de suas falas desastradas, o ministro Joaquim Levy já
deu uma demonstração de que anda com pavio curto.
FRANCES
PERKINS
O
ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, contou que acaba de ler uma biografia
de Frances Perkins, a mulher fenomenal a quem Franklin Roosevelt entregou a
Secretaria do Trabalho em 1933.
Barbosa
deveria distribuir uma tradução desse livro ("The Woman Behind the New
Deal" - "A mulher por trás do New Deal") aos comissários que
lidam com os chamados "movimentos sociais" para que conhecessem uma
pessoa de quem poucos terão ouvido falar.
Tendo
sido uma das personagens mais poderosas de Washington ao longo dos 12 anos em
que Roosevelt ocupou a Presidência, ao sair do governo teve que batalhar por
empregos de segunda. Pegara fama de esquerdista e sempre vivera do salário. Nem
endereço tinha. Arrumou-se com um quarto na Universidade Cornell. Morreu em
1965, aos 85 anos, cega e surda, em heroica pobreza.
Ela
ajudou a criar a Previdência Social americana, a proteção aos desempregados, o
salário mínimo e as leis que proibiram o trabalho infantil. Quase todo o
crédito foi para Roosevelt e, o que sobrou, para sua mulher Eleanor. Isso nunca
a incomodou, pois tinha horror a jornalistas.
Perkins
batia duro. No dia em que assumiu o cargo, seu antecessor, fazendo-se de
desentendido, disse que sairia para almoçar. Ela mandou que suas coisas fossem
tiradas do escritório e mandadas para casa. Começou a trabalhar espantando a
barata que estava numa gaveta e foi adiante expulsando ratos bípedes.
Frances
Perkins não tinha agenda pessoal. Duas coisas a moviam: a fé na religião e a
vontade de trabalhar pelo andar de baixo.
O
SOFTWARE VENCIDO DAS EMPREITEIRAS
As
bancas de defesa dos empreiteiros capturados pela Lava Jato continuam tentando
usar nesse processo o software usado com êxito na Operação Castelo de Areia.
Algo como tentar rodar um programa AppleWorks no sistema OS 10 do Macintosh. Em
2009 a Polícia
Federal chegou a um ninho de roubalheiras provadas e documentadas. Seu trabalho
foi desossado pelos advogados dos maganos a partir de objeções processuais e há
pouco o Supremo Tribunal Federal sepultou-o.
O
último sonho da turma que está presa em Curitiba foi o de obter do STF a
anulação dos depoimentos de Alberto Youssef em sua colaboração com a Viúva.
Morreu numa decisão do ministro Dias Toffoli. Amparada num parecer do ex-ministro
do STJ Gilson Dipp, a defesa argumentava que Youssef não merecia crédito porque
já fechara dois acordos de colaboração e mentira em ambos. Se esse raciocínio
prevalecesse, quebraria uma perna da Lava Jato.
Dipp
entende do assunto, mas a ideia de que velhas mentiras devessem impedir um novo
acordo é meio girafa.
O
mafioso Tommaso Buscetta, preso no Brasil em 1972, foi extraditado para a
Itália, fez um acordo com o juiz Giovanni Falcone (flor do orquidário de Sergio
Moro) e expôs boa parte das ações da Máfia. Ajudou bastante, mas também mentiu
e recusou-se a falar de políticos.
Em 1992 a Máfia dinamitou o carro do juiz
Falcone, matando-o. Buscetta começou uma nova rodada de colaboração e nela
entregou as conexões da Máfia com políticos, inclusive o ex-primeiro ministro
Giulio Andreotti. Graças a essa nova fase detonou o coração da Máfia com o
poder.
Pela
doutrina de Dipp, as provas apresentadas por ele depois da morte de Falcone
seriam "imprestáveis", pois as omitira na primeira colaboração.