14
de abril de 2015 | N° 18132
LUIZ PAULO VASCONCELLOS
A INSANIDADE DE EVA
SOPHER
Hoje
volto a escrever sobre uma das minhas “musas” (coluna de 24 de junho de 2014) –
Eva Sopher. Escrevo algo que até pode ser mal interpretado, dependendo do humor
do leitor. É que estou falando de insanidade. Afinal, passar 40 anos lutando
obstinada e compulsivamente pela restauração, preservação e conservação de um
teatro e pela construção de um complexo cultural para abrigar as diversas artes
do palco – música, dança e demais manifestações cênico-teatrais – tem certa
dose de insanidade. Saudável, elogiável, mas, de qualquer jeito, insanidade.
Inaugurado
em 1858, o Theatro São Pedro encerrou as atividades em 1973, corroído pelos
cupins e pelo descaso das autoridades. Com um projeto dos arquitetos Carlos
Antonio Mancuso e Antonio Carlos Castro, a reconstrução foi iniciada em 1975, e
a reabertura ocorreu nove anos depois. Sempre sob a batuta de Eva Sopher.
Como
escreveu o ator Paulo Autran num artigo publicado no livro de J. C. Serroni –
Teatros, uma Memória do Espaço Cênico do Brasil (Ed. Senac, 2002): “Que
maravilha a energia e a competência de dona Eva! Ela mendigou, sim; ela exigiu,
sim; ela implorou, sim; ela incomodou, sim. Atualmente, não há teatro mais bem
organizado no Brasil. (...) Assistir ao renascimento de um teatro é uma das
maiores emoções que um ator pode ter”.
Na
apresentação de Teatro São Pedro, Palco da Cultura (IEL, 1989), ela escreveu:
“Ao aceitar a tarefa de escrever a apresentação para este livro, cometi uma
imprudência – como, aliás, cometi quando aceitei a tarefa de ‘restaurar’ o
Theatro São Pedro: agi com paixão em ambos os casos. Paixão pelo teatro, (...)
paixão profunda que continua e continuará sempre. (...) A imprudência (...)
refere-se ao fato de eu não ser escritora nem construtora de teatros, mas à
tentação de um desafio dificilmente consigo dizer: Não!”.
Pois
é. Com o passar da carruagem, ninguém nega que valeu a pena. Parabéns, dona
Eva. E que venham mais imprudências e insanidades.