26
de abril de 2015 | N° 18144
CARPINEJAR
Noiva
cadáver
Fingir
felicidade é mais amargo do que a tristeza. Um veneno para almas sensíveis
durante uma separação. Fui numa festa na Woods, em Porto Alegre. Sertaneja e à fantasia,
ou seja, com todos os ingredientes para me sentir deslocado. Não tinha como
demonstrar euforia.
Poderia
rir com a boca, não com os olhos, que é o meu riso mais verdadeiro. Poderia rir
como quem ri para tirar uma fotografia (obedecendo ao x), não como quem ri
observando sua amada (admirando o y).
Entre
gladiadoras, policiais, branca de neve e indígenas, o que mais vi foi noiva cadáver.
Não se trata de uma fantasia, mas um estado de espírito, um matrimônio doentio
com o lado escuro do amor.
Representavam
mulheres recém separadas que forçavam a barra de sua alegria, estavam mais
interessadas em se vingar do ex com fotos no instagram ou marcações no Facebook,
estavam desesperadas procurando uma porta de incêndio da sua fossa com beijos fáceis
ou sexo louco.
Falei
com uma guria na escada, e ela terminou a relação há duas semanas. Falei com
outra na frente do bar e ela encerrou um romance há um mês. Falei com mais uma
fantasiada na fila do banheiro e ela lamentava o fim de seu namoro na semana
passada. Entrei num camarote com cara de purgatório, penadas peladas. Aquela
nudez proposital não me convencia. Os cílios postiços escondiam o caminho das lágrimas.
Elas
não se movimentavam com a liberdade das palavras. Suas pulseiras brilhantes da
casa noturna lembravam algemas de casos mal resolvidos. Ostentavam um
contentamento fictício, que é diferente de ser feliz.
Não
achariam ali sua solução, seu remédio. Tampouco desejavam trair o amor despedaçado,
confinadas nas lembranças dos seus antigos pares. Por mais que rebolassem e se
agachassem nas grades, o que se notava com nitidez é que berravam as músicas de
dor de cotovelo. Conheciam vírgula por vírgula, como quem pede socorro. Eram
mulheres casadas por dentro fingindo solteirice por fora.
No
luto, o melhor é ficar em casa. O melhor é destruir um pote de sorvete e
assistir a um filme romântico de pijama. O melhor é se tocar em segredo debaixo
das cobertas, depois do choro. O melhor é não conferir o espelho e repetir os
lamentos para os melhores amigos. O melhor é desaparecer para se acostumar com
o fim ou reencontrar o início.
Jamais
se violentar socialmente buscando ser agradável. Jamais chamar vítimas para
ocupar o próprio lugar. Jamais tripudiar o que aconteceu de errado com novos
pretendentes.
Jamais
trazer para perto quem não tem nada a ver com sua angústia.
Reparar,
enquanto é tempo, que você ainda está contaminada, ainda está reagindo à separação,
ainda quer provocar atenção do ex, ainda vem conversando com os problemas do
passado.
Não
se envolva com rapidez para aumentar a culpa: quantos corações você precisa
destruir para refazer o seu?
O ímpeto
de sair de qualquer jeito do sofrimento lhe fará sofrer muito mais.