terça-feira, 20 de dezembro de 2022


20 DE DEZEMBRO DE 2022
NÍLSON SOUZA

Estrela-guia

Se uma dessas estrelas da última noite da primavera me confundisse com um rei mago (por causa da barba branca) e se oferecesse para me sinalizar o caminho, eu toparia na hora - até mesmo porque a iluminação pública da minha cidade não é das melhores e eu já ando evitando dirigir depois que o sol se põe, principalmente nesses tempos festivos em que o álcool e o celular entorpecem motoristas.

E se essa estrela-guia tivesse também o poder de iluminar a mente humana, eu ousaria sugerir-lhe que apontasse o seu facho para cabeças e corações que ainda guardam ressentimentos da recente disputa eleitoral, lembrando-lhes que há tempo certo para tudo, inclusive, como diz o Eclesiastes, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter.

Se sua luz fosse suficientemente poderosa para furar o bloqueio de ambição dos governantes do mundo, eu também lhe pediria para mirar nos arrogantes e nos vingativos, nos fanáticos e nos autoritários, nos insensíveis e nos belicistas, se não para torná-los pacíficos (pois disso só o tempo dá jeito) pelo menos para interferir nos circuitos cerebrais que só emitem mensagens de pressão, de ódio e, por incrível que pareça nos dias de hoje, de mísseis mortíferos.

Também apelaria ao gentil astro para que focasse seu holofote nos vencedores e vencidos da recente disputa esportiva, naqueles para que a euforia da conquista não se transforme em convencimento de superioridade racial e nesses para que as mágoas e desilusões não os impeçam de sacudir a poeira e tentar de novo, já que as quedas fazem parte da natureza humana e nos ensinam a caminhar melhor.

Por falar em natureza, que tal, dona Estrela, um pouco mais de luz sobre nossas florestas e plantações, sobre os rios e os mares, sobre as montanhas e as geleiras, sobre os animais e os humanos que precisam ser vistos e respeitados, pois dependem de cuidados para continuar cumprindo seus ciclos de vida?

Pensando bem, talvez a minha estrela imaginária tenha aparecido unicamente para me guiar até o menino, não o divino, mas aquele que fui um dia, um tanto preguiçoso, mas sonhador e imaginativo, que tinha medo de apontar o dedo para ela por causa da verruga que lhe nasceria na ponta do nariz - e que só agora percebe o quanto era feliz.

Feliz semana de Natal para todos e todas. Que cada um encontre a sua melhor estrela.

NÍLSON SOUZA

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