sexta-feira, 20 de setembro de 2024


20 de Setembro de 2024
CARPINEJAR

46 destinos e uma dor com sotaque gaúcho

Viajo muito devido a palestras e shows. Do Brasil, só falta conhecer o Amapá. Das 27 unidades federativas, careço de um único Estado para completar meu quebra-cabeça cultural e geográfico.

Mas eu me sinto caseiro, bicho do mato perto do colega Rodrigo Lopes, nosso correspondente do front, fluente em inglês e espanhol. Seu passaporte é digno da saudosa Glória Maria, é tão folheado quanto o de um embaixador do Itamaraty. Não há espaço para mais carimbos de entradas e saídas nas alfândegas.

O jornalista tem 46 anos e apresenta exatamente 46 destinos internacionais no currículo - 45 países e a Antártica. Nem ele acreditou na coincidência quando perguntei quantos foram. Pensou que eu estava fazendo alguma bruxaria.

Repare na lista:

Alemanha (4), Antártica (1), Argentina (4), Áustria (1), Bélgica (1), Bolívia (1), Camboja (1), Canadá (1), Catar (1), Chile (2), Colômbia (2), Cuba (1), El Salvador (1), Emirados Árabes Unidos (1), Eslováquia (1), Espanha (1), Estados Unidos (7), França (5), Haiti (3), Holanda (2), Honduras (1), Hungria (1), Indonésia (1), Iraque (1), Israel (2), Itália (3), Jordânia (2), Líbano (2), Líbia (1), Panamá (1), Paraguai (2), Peru (2), Polônia (1), Portugal (2), Reino Unido (1), República Dominicana (1), Síria (2), Suíça (1), Tailândia (1), Tunísia (1), Turquia (2), Ucrânia (1), Uruguai (4), Vaticano (3), Venezuela (2), Vietnã (1).

O mais espantoso é que Rodrigo tem medo de avião. Ele sempre acha que vai cair. Só que já embarcou dezenas de vezes. Nunca se curou do seu pavor, da ansiedade, dos calafrios que o deixam inteiramente atento a qualquer som ou oscilação durante horas de voo. E não estamos falando de trajetos curtos. Para a Indonésia, suportou um dia e meio no céu.

- Minha paixão é maior do que o medo - explica.

Ele não rejeita o sentimento ruim, usa a seu favor como combustível da coragem. O que o põe nos lugares mais perigosos do mundo, nos momentos em que as pessoas mais desejam sair deles.

É seu costume ingressar numa região onde ocorrem aglomerações no movimento contrário, em direção ao êxodo. Ele chega no instante em que a maioria parte. Cobriu dois terremotos (Peru e Haiti), um furacão (Katrina, que devastou Nova Orleans), cinco guerras (Líbano, Israel, Ucrânia, Iraque e a Primavera Árabe na Líbia), três eleições americanas e vários golpes de Estado na América Latina (inclusive foi preso na Venezuela em 2018, no quartel do Palácio Miraflores, com passaporte e celular apreendidos).

Sua adoração começou com esquisitices de comportamento na infância. Enquanto seus colegas colecionavam álbuns de futebol, buscavam figurinhas de jogadores, ele preferia preencher encartes turísticos com bandeiras dos países. Não localizava ninguém para trocar ou fazer bafo. Assim já entendia precocemente o sabor amargo das escolhas: vocação é solidão.

Nos encontros familiares, instigava as visitas a questioná-lo sobre as capitais das nações. Não parava quieto até que algum voluntário se dispusesse a participar do seu quiz show particular. É evidente que todos achavam aquele garoto um nerd, um gênio, pois respondia de bate-pronto a capital de Omã: "Masqa?!".

Mas, mesmo sendo alguém calejado, habituado a resistir a cataclismos, a fugir de tiroteios, a ver corpos baleados, jamais imaginou passar para o outro lado do balcão, como vítima de um desastre natural, em seu próprio chão, em sua origem, em seu Rio Grande do Sul. A enchente de maio mudou sua perspectiva.

- Numa cobertura, você se preocupa com sua segurança e se mantém focado no trabalho. Quando você é atingido na sua terra, vida profissional e pessoal se misturam. Não tem como ser imparcial. Eu estava preocupado com os milhares de conterrâneos, com a minha mãe, com a minha esposa (a jornalista Francielly Brites), com os dois gatos (Salem e George), com a evacuação, em socorrer. Pela primeira vez na minha vida, a tragédia falava português. A dor tinha o meu sotaque. _

CARPINEJAR

20 de Setembro de 2024
MARCO MATOS

O poder do mato

Silêncio. Ar puro. Verde. Vento. Vento no rosto. Cheiro de lenha. Passarinho. Café. Barulho do fogo. Poeira da estrada. Só. Pensamento sem pressa. Sem hora. Cheiro bom. Fumaça. Frio. Sol. Ovelha. Boi. Terneiro. Balanço. Horizonte. Galo. Chuva. Neblina.

Quero-quero. Lenha. Aranha. Amarelo. Folha. Cerca. Pedra. Pera. Bolo. Chimia. Chimarrão. Melado. Pássaro voando. Sapo. Mais silêncio.

Essa repetição não é rotina. Aqui o tempo é ausente de cadência. - Ah, relaxar é tão bom! E só no meio do mato que a gente consegue isso.

É fechar os olhos e procurar escutar algo, mas só ouvir silêncio e o canto dos pássaros e grilos bem ao fundo.

Estar em paz. E basta.

Na vida do dia a dia não costumo ouvir o barulho da minha barriga, da minha própria respiração. Sempre sou atropelado pelo som de algum carro, moto, gente, celular. Na cidade grande a percepção de nós tem muito ruído.

O silêncio do meio do mato é um baita remédio pra alma. É um reset nas configurações de fábrica. Sabe aquela bateria que já não carrega 100%? Talvez você esteja precisando de um pouco de calma, de paz, de cheiro de interior.

Fugir pra algum refúgio longe de tudo é estratégico. A simplicidade do dia no campo é perfeita pra descansar. Chegar aqui é preferir não ouvir música, deixar o celular desligado, aproveitar a conexão - tão rara hoje em dia.

A natureza é mesmo uma mãe. Ela abraça, acalma, conforta, te faz criar coragem. Vida. Energia. Paz. Mato é remédio.

Fogo. Lenha. Cheiro de fumaça. Pássaros voando. Canto. Vento sussurrando. Ovelhas. Lagartixa. Borboleta.

Galo. Quero-quero. Araucária. Rio. Sol. Grama. Roseta. Brasa. Luz. Cor. Uva. Parreira. Amargo. Nuvem. Noite. Neblina. Frio. Arrepio. Janela. Galo. Café. Bolo. Pão quentinho. Queijo.

Bergamota. Sol. Morango. Caminhada. Azedinha. Trevo. Sorte. Vitamina D. Enxada. Machado. Galpão. Churrasco. Bocha. Canastra. Stop. Risos. Besouro. Lâmpada. Rede. Vinho. Chazinho com mel. Filme. Janta. Conversa. Sorri. Lembrança. Foto. Livro. Poesia. Sono. Sonhos.

Pertencimento. Reconhecimento. Autoconhecimento.

Alma renovada. Dias de paz. Aqui no meio do mato, na minha volta, tudo está bem, no seu lugar.

A simplicidade é a maior riqueza que se pode ter. _

MARCO MATOS

20 de Setembro de 2024
EDITORIAL

Revoluções necessárias

O Rio Grande do Sul celebra hoje os 189 anos da Revolução Farroupilha em meio aos esforços de reconstrução. Quase dois séculos depois da revolta contra o império, o Estado passa por um novo momento de inflexão em sua História. Desta vez, a luta é sem armas em punho e as motivações não são atritos com o poder central. As razões da campanha em curso são o reerguimento do Estado e a capacitação para torná-lo ainda mais próspero nas próximas décadas, preparado para enfrentar os extremos climáticos e uma terra de qualidade de vida e oportunidades para os gaúchos e os que aqui escolherem construir a sua trajetória.

Entre os desafios decisivos impostos aos rio-grandenses de hoje está o de executar grandes obras que evitem a repetição do que ocorreu em maio nas regiões mais suscetíveis a enchentes, além de recompor e qualificar a infraestrutura. Pela importância, alto custo e complexidade, são ações que devem obedecer a um planejamento de Estado, imune a descontinuidades ocasionadas por mudanças de governo e discordâncias políticas.

É aderente a essa lógica, de superar eventuais divergências em nome dos interesses maiores do Rio Grande do Sul, a governança definida pelos governos federal e do Estado de gestão compartilhada do fundo com recursos da União, de cerca de R$ 6,5 bilhões, para erguer e fortalecer sistemas anticheias no Estado. O Planalto administra o fundo, mas o planejamento, a contratação e a execução das obras serão responsabilidades do Piratini.

Há coerência na definição. É o próprio Estado, afinal, que melhor pode definir as prioridades para a alocação dos recursos. Ademais, o mapa estratégico de recuperação pós-enchente e de preparação para o futuro está concluído e consta no Plano Rio Grande, iniciativa aprovada pela Assembleia e que, portanto, virou lei. O planejamento vai contar ainda com as verbas do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), constituído em especial pelo dinheiro das parcelas suspensas do pagamento da dívida do Estado com a União, com um orçamento de R$ 4,2 bilhões para 2025. Ao contrário do que ocorreu no século 19, desta vez há um espírito de colaboração federativa.

Revolucionar significa empreender mudanças profundas. Muitas vezes, a despeito das dores e perdas que causam, grandes crises e tragédias são oportunidades para trilhar um novo caminho e endereçar soluções procrastinadas por governos e sociedade.

O Rio Grande do Sul, assim, tem à frente a chance de vir a ser reconhecido como modelo de preparação para as consequências das mudanças climáticas, de tornar-se protagonista no processo de transição energética e ainda de robustecer a sua infraestrutura, com reflexos positivos na economia nas décadas vindouras. Outra das revoluções necessárias é a da educação, para forjar cidadãos mais conscientes, produtivos e adaptados a um mundo em rápida transformação digital. Deve o Estado despertar de vez para a centralidade do ensino, tendo em vista a transição demográfica acelerada da população gaúcha. Junto à quebra de paradigma da politização perniciosa, são façanhas que fariam do Rio Grande do Sul um exemplo de recuperação exitosa. 


20 de Setembro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Burocracia, público e privado na ajuda ao RS

Conforme dados do Painel da Reconstrução, ferramenta cidadã do Grupo RBS, o governo federal entregou 52,1% dos R$ 97,1 bilhões prometidos ao RS, e o Piratini repassou 55,9% dos R$ 3,7 bilhões anunciados.

Uma das expectativas dos gaúchos que perderam tudo ou quase tudo no dilúvio de maio era de que a ajuda privada superasse as amarras da burocracia do setor público, mas isso não ocorreu. É um problema, mas o motivo é correto: é preciso restaurar o Estado de forma coordenada, para que não haja desperdício de recursos tão necessários.

Por isso, um dos maiores fundos privados de apoio, o RegeneraRS, tentará desobstruir um dos maiores gargalos para o avanço das obras necessárias: ajudará a desenvolver projetos. Conforme Marcel Fukayama, gestor do fundo, nos cem dias de atuação do RegeneraRS houve aprendizado que resultou nessa decisão:

Os projetos que a gente busca precisam ser codesenvolvidos, não existem. Vamos precisar colocar mão na massa para poder desenvolver.

Um desses projetos é com o governo gaúcho, de reforma de casas atingidas, mas não destruídas pela enchente. Vai dar apoio financeiro na estruturação do projeto, que segundo Marcel pode liberar cerca de R$ 60 milhões para reformas.

Recurso público não passa pelo RegeneraRS, vai para as organizações que vão fazer as obras.

Segundo Marcel, como o RegeneraRS quer multiplicar ações, seu indicador de sucesso não é quanto captou, mas quanto aloca, ou seja, efetivamente desembolsa nas ações programadas.

Um dos aportes feitos, de R$ 7 milhões, tem perspectiva de movimentar R$ 200 milhões. Vai lastrear o fundo Juntos pelo RS do BTG Pactual e reduzir o risco para investidores comerciais aceitarem ampliar a quantia emprestada. Quando os empréstimos a pequenas e microempresas com perdas patrimoniais na enchente voltarem ao fundo, darão espaço para novas concessões. _

O dólar teve ontem sua sétima queda sucessiva. Recuou 0,75%, para R$ 5,421. Mas a bolsa não acompanhou o bom humor do Exterior com o corte de juro nos EUA, porque os juros futuros subiram muito com o tom duro do BC.

Entrevista - Solange Srour

Diretora de macroeconomia do UBS Global Wealth Management

Como viu a superquarta?

O Fed baixou 0,5 ponto percentual, estava um pouco precificado mas não era o cenário-base. Foi bom que o Copom tenha mantido a expectativa e elevado em 0,25 p.p. O comunicado ficou até perfeito demais, porque Roberto Campos Neto havia falado em gradualismo e o mercado ficou em dúvida sobre o que isso significava. O Copom poderia ter apontado a dimensão do ciclo, passar guidance (indicar a direção futura), mas seria um erro. Por isso, o comunicado foi perfeito: há muita incerteza daqui para frente.

Há expectativa de baixa do dólar, inclusive, não?

Ninguém sabe o que vai incidir no dólar. E vai, porque há eleição americana em 50 dias, há dúvida se a economia americana desacelera muito ou não. Deixaram aberto e avisaram que as próximas decisões serão dependentes de dados. E que farão o necessário para reancorar as expectativas e trazer a inflação para a meta. Quanto mais aberto deixarem, quanto mais duro falarem, maior a chance de o juro subir menos.

Por que analistas interpretam que agora o juro vai a 12%?

Há descompasso muito grande entre a demanda e a oferta, a economia está crescendo muito acima do potencial, o fiscal está expansionista demais. Quem acha que vai para 12% está certo, já que o BC sancionou que vai fazer o máximo para chegar à meta. Mas a leitura não é de que direcionou o mercado. Tudo vai depender da evolução dos demais indicadores.

O corte de 0,5 p.p. significa que o Fed teme recessão?

O Fed tem mandato duplo, que é buscar tanto meta de inflação quanto pleno emprego. Enquanto a inflação não estava controlada, até abril, mesmo sabendo que havia risco de desacelerar o mercado de trabalho, o Fed não baixou a guarda. Quando a inflação começou a retroceder, a preocupação com uma possível recessão aumentou. O Fed tenta manter a economia dos EUA do jeito que está: não muito aquecida, nem muito desaquecida. Se na reunião anterior soubessem que o desemprego iria subir tanto, talvez já tivessem cortado. O mercado vai precificar as próximas reuniões muito de olho no mercado de trabalho.

Como a questão fiscal entra nessa equação?

Para 2024 ainda existe risco, porque o governo conta com arrecadação que não está se confirmando. Mas a economia está bem, a arrecadação está indo bem. A preocupação fiscal com 2025 e 2026 é crescente. Em 2025, a lacuna é muito grande. O mercado tem projeção de déficit de R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões e o governo tem meta zero. Há necessidade de arrecadação brutal. E o Congresso não tem mais disposição de aumentar imposto.

Como vê os acenos do ministro Fernando Haddad de cortes estruturais de gastos?

É fundamental ter medidas estruturais. Se não mexer, não tem como sustentar o arcabouço fiscal. O Brasil pode ficar sem despesas discricionárias (investimentos). É preciso fazer revisão dos gastos obrigatórios. O problema é quando. E como. _

"Quanto mais duro falarem, maior a chance de subir menos"

Apoio para expansão

O BNDES aprovou crédito emergencial, na modalidade investimento e reconstrução, de R$ 58 milhões para a empresa TW Transportes e Logística, com sede em Carazinho. Vai financiar um novo armazém em Montenegro.

A nova unidade será coberta para garantir a segurança das mercadorias, uma medida de adaptação climática. A expansão aumentará de 76 para 116 o número de empregos.

A operação deve ser realizada em até 120 meses, com taxa equivalente ao custo-base de 1% somada ao spread de 1,34%. É a linha de R$ 15 bilhões do BNDES. _

Prejuízo em 34% dos bares e restaurantes do RS

Pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) mostra que 62% dos estabelecimentos gaúchos não obtiveram lucro em julho. Desse grupo, 34% tiveram prejuízo, e 28% operaram em estabilidade. Em comparação com junho, o faturamento foi superior para 34% dos negócios, equivalente para 29% e menor para 35%. Redução do número de clientes (73%) e queda nas vendas (63%) devido ao efeito da enxurrada no bolso dos consumidores são as principais razões apontadas para o prejuízo em julho.

- Há cenário de grande dificuldade no segmento, que enfrenta desafios como inflação e redução no consumo, além dos impactos da enchente - afirma a presidente da Abrasel, Maria Fernanda Tartoni. _

Foi recomendado pelo ONS um indicativo de que é viável a volta (do horário de verão).

Alexandre Silveira - Ministro de Minas e Energia

GPS DA ECONOMIA

20 de Setembro de 2024
NOTÍCIAS

NOTÍCIAS

Candidatos à prefeitura sobem o tom no primeiro debate após nova pesquisa

Porto Alegre

Em confronto organizado por entidades empresariais no Palácio do Comércio, principais postulantes na Capital trocaram provocações e ampliaram o leque de temas. Educação, infraestrutura, turismo, segurança e Centro Histórico estão entre os assuntos que vieram à tona no evento

Os empresários presentes no Salão Nobre do Palácio do Comércio viram um maior embate entre os quatro principais nomes da corrida eleitoral. As acusações e ataques, mesmo que em maior quantidade ao atual prefeito, espalharam-se entre o quarteto. O leque de temas também se abriu: a enchente de maio deixou de ser o único centro das atenções. Educação, infraestrutura, turismo, segurança e Centro Histórico emergiram nas mais de duas horas de confronto.

Pauta ideológica

Os momentos mais ásperos ficaram para o quarto e último bloco, em que os temas eram livres. Melo e Juliana se embicaram durante todo o tempo. O emedebista afirmou que sua adversária tem andado pouco pela cidade. O tema do momento era empreendedorismo, e a pedetista fechou sua resposta acusando a atual gestão de corrupção.

- Vou fazer bem diferente de ti, pois estamos perdendo nossas empresas - iniciou a candidata, para, no fim, afirmar:

- Precisamos acabar as obras. Fazer a economia girar. Construir creches, melhorar a mobilidade urbana. Combatendo a corrupção, que é o grande mal que governa a cidade de Porto Alegre.

- Quando a senhora foi secretária, a senhora foi processada. Não aceito esse tipo de provocação. O que a senhora fez como vereadora, deputada, para tornar essa cidade empreendedora? - rebateu Melo.

Apenas na primeira parte do debate, a enchente foi protagonista. O formato deste recorte consistiu em os candidatos responderem a uma pergunta formulada por representante das entidades promotoras do evento (ACPA, CDL POA, SHPOA, Sindha e Sindilojas POA). Entre uma resposta e outra, cada postulante escolhia um concorrente para debater um novo tema, o que fez com que em muitos momentos os mesmos assuntos voltassem à baila.

A temática do bloco inicial versou sobre a prevenção contra possíveis novas enchentes. Entre uma manifestação e outra, Juliana trouxe à pauta a educação. Rosário criticou a atual gestão, enquanto Melo e Camozzato retomaram a discussão sobre os alagamentos. _

Ficha técnica

A pesquisa contratada e paga pelo Grupo RBS foi realizada com 900 pessoas, utilizando questionário estruturado, entre os dias 14 e 16 de setembro. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi registrada no TSE sob protocolo RS-00134/2024.

O que cada um falou

Sebastião Melo (MDB)

Líder na pesquisa Quaest, com 41% das intenções de voto, cinco pontos percentuais acima da medição anterior, de 27 de agosto, Melo defendeu-se das críticas. Sobre a coleta de lixo e a limpeza da cidade após a enchente, alegou que decisão do Ministério Público impediu a conclusão dos trabalhos.

Melo também defendeu sua atuação antes e depois da tragédia ao ser questionado por Rosário:

- Fizemos todas as manutenções, o sistema não resistiu à quantidade de chuva. Agora, só tem um caminho: refazer de forma emergencial. Fazer um sistema robusto.

Maria do Rosário (PT)

Segundo lugar na pesquisa, com 24%, sete pontos abaixo da pesquisa anterior, Rosário precisou também se defender de críticas de Juliana. O confronto direto com Melo ficou apenas para o final.

A candidata do PT criticou a situação do Centro Histórico, abordando a problemática em temas como turismo, segurança e infraestrutura. Ela também assegurou que não aumentará impostos.

- Estou preocupada com as obras do Centro, que tiveram começo, meio, mas não tiveram fim, e não foi só pela enchente, mas também pela inoperância e falta de diálogo - disse.

Juliana Brizola (PDT)

Com o maior crescimento na pesquisa (passou de 11% no levantamento anterior para 17%), Juliana adotou um discurso mais forte contra Melo e Rosário. Seu foco, como de costume, esteve mais ligado a temas de educação, defendendo a expansão das escolas em tempo integral.

- Infelizmente, em muitos setores não estamos encontrando boa gestão. A educação precisa de uma política séria e contínua. Gestão é tudo no poder público - afirmou.

- Sou a favor da escola de tempo integral. Precisamos despolitizar a educação no nosso município - disse a pedetista mais adiante.

Felipe Camozzato (Novo)

O candidato, que manteve o mesmo percentual da pesquisa anterior (3%), disparou contra o trio de adversários. Contra Melo, oscilou entre elogios e críticas. Entre as principais propostas apresentadas, esteve uma ligada à infraestrutura.

- Queremos fazer uma espécie de Lei Rouanet da infraestrutura, onde a gente possa ter projetos já criados pela prefeitura em que o empreendedor e o pagador de impostos da cidade possam optar que parte dos tributos devidos possa ser transferida para a prefeitura na forma de obras entregues e concluídas, fazendo com que a gente acelere as transformações da cidade - explicou.

Valter Junior

20 de Setembro de 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Para inglês ver

Enquanto o Brasil queima três de seus principais biomas, a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal, o governo Lula anuncia, com atraso, a criação de uma autoridade climática. Essa não é uma ideia nova. Era promessa de campanha do então candidato do PT e foi usada como argumento, na transição, em 2022, para convencer Marina Silva a voltar a integrar a Esplanada.

A estrutura emula a criação de uma autoridade para lidar com temas das mudanças climáticas, como fizera Joe Biden ao nomear o ex-senador John Kerry como "czar" das alterações ambientais nos Estados Unidos.

O que se sabe até agora sobre a versão verde-amarela: o órgão deve ser comandado por um técnico, e não político, e permanecer de alguma forma ligado a Marina e ao Ministério do Meio Ambiente.

Se decidir por uma autarquia ou uma nova secretaria da Presidência com status de ministério, por exemplo, o governo terá forte oposição no Congresso. Nomes como o da atual secretária de Mudança do Clima da pasta do Meio Ambiente, Ana Toni, e dos diplomatas André Corrêa do Lago e Luiz Alberto Figueiredo já foram ventilados.

Mas, se é tão importante a estrutura - e não há dúvida de que o seja -, porque Lula só agora, passados mais de um ano e meio de mandato, criará o órgão? Se é que criará, porque até este momento não há um prazo ou orçamento. Aliás, como se sabe, não haverá eficiência sem autonomia e recursos. Menos do que isso será entendido como mais uma ação para inglês ver, como um fato novo a ser levado para abrilhantar, ao menos na teoria, as falas do presidente aos olhos do mundo na COP29, no Azerbaijão. _

Gaúcha relata problemas ao tentar entrar em Belize

- Perguntaram se tínhamos visto americano. Falei que não, pois sabíamos que não precisava. Então nos deixaram esperando. Depois de atender a todos os outros passageiros, vieram 12 agentes conversar com a gente, nos perguntando qual o motivo da viagem e o que faríamos ali, um interrogatório.

Os agentes obrigaram o casal a mostrar o dinheiro que haviam levado, os cartões de crédito e até as contas bancárias:

- Falaram que era pouco dinheiro e, apesar de mostrarmos o cartão e a conta, que tivemos de traduzir para eles, queriam nos deportar e teríamos de voltar para o Brasil. Falamos que gostaríamos de conversar com a embaixada, porém disseram que o prédio estava fechado e não nos deixaram ligar.

O casal passaria quatro dias em Belize (a viagem de ida). Depois, permaneceriam mais 11 dias na Guatemala e retornariam ao Brasil direto do país vizinho, ou seja, a viagem de volta.

- Iriamos via terrestre para lá (Guatemala) e nos disseram que se entrava por um país de avião, tinha de voltar de avião. O que não é verdade. Foi humilhação atrás de humilhação. Debochavam da gente e chegaram a nos acusar de falsidade ideológica.

Para serem liberados, Daniela e Fábio precisaram comprar passagens de volta para o Brasil em uma agência no próprio aeroporto, pagando quase R$ 4 mil.

- Se não comprássemos, não poderíamos sair dali e seríamos deportados - lembra.

Contato com o embaixador

A jornalista começou a fazer péssimas avaliações sobre o país nas redes sociais e em sites de viagens até que Agemar Sanctos, embaixador do Brasil em Belize, entrou em contato.

- Quis entender o que aconteceu. Disse que isso já aconteceu no passado e, sim, Belize está deportando brasileiros. Só no ano passado, foram 180. Acham que as pessoas vão para lá para atravessar o México e acessar os EUA.

A coluna tentou contato com a Embaixada de Belize no Brasil, mas não obteve retorno. _

Em tempo

No momento em que cria uma autoridade climática, Lula concentrará o poder de decisão nas mãos de um único órgão. Logo, o governo terá de confrontar interesses, inclusive do próprio Planalto, ao analisar, por exemplo, demandas dos ministérios de Minas e Energia e da Agricultura, conciliando com necessidades de maior proteção ao ambiente.

Recuo à vista

Na terça-feira, sua rede começou a suspender os perfis sobre os quais pesavam determinação judicial por envolvimento nos inquéritos sobre fake news e milícias digitais, e a empresa já admite, nos bastidores, indicar novo representante legal da plataforma no Brasil. A batalha, ao menos, por enquanto, pode estar perto do fim. 

ONU cita o Rio Grande do Sul em relatório climático

O documento da ONU, apresentado na quarta-feira, mostra como as catástrofes podem impactar a vida das pessoas e das cidades.

A organização cita que o Estado sofreu em 2024 as enchentes mais severas de sua história, com mais de 420 milímetros de chuva, afetando mais de 90% do RS e deslocando mais de 386 mil pessoas.

A World Meteorological Organization também apresenta um estudo do World Weather Attribution, grupo acadêmico que estuda mudanças do clima, que mostra que as inundações no Estado foram fortemente influenciadas pela natureza e pelas alterações climáticas induzidas pelo homem. _

INFORME ESPECIAL

quinta-feira, 19 de setembro de 2024


19 de Setembro de 2024
CARPINEJAR

Ajude-me a entender

Porto Alegre é uma cidade de paradoxos. Em pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia e da Bayer de julho deste ano, a capital gaúcha desponta como a mais infiel entre oito metrópoles brasileiras, analisadas com foco exclusivo no público masculino.

Noventa e oito por cento dos entrevistados confessaram a traição ao longo da relação. Em segundo lugar, está Recife, com 67% dos marmanjos admitindo ter trapaceado suas companheiras. Já São Paulo, no extremo oposto, destacou-se como a capital com os homens mais ordeiros do país, registrando só 20% de casinhos com amantes.

Se a pulada de cerca possui assustadora frequência em Porto Alegre, em contrapartida, a infidelidade financeira não é comum. Estudo deste mês da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) dissecou o orçamento doméstico dos pares porto-alegrenses e descobriu que a ampla maioria não esconde seus ganhos e gastos.

Não é praxe camuflar despesas do cartão de crédito para o cônjuge, ou disfarçar as sacolas ao chegar em casa, ou ter surpresas desagradáveis na hora de quitar os boletos.

Os dados revelam que 68% não ocultam as compras do outro, 76,6% não distorcem os valores gastos, 85,6% não usam dinheiro para um fim desconhecido pelo seu parceiro, 83,8% não omitem fontes inesperadas de renda, honorários, participação nos lucros e bônus do trabalho.

Constatou-se que 55% dos entrevistados têm o costume de discutir regularmente sobre finanças e tomar decisões conjuntas, ao passo que 31,1% realizam isso ocasionalmente, definindo apenas algumas questões a dois.

Em minha percepção, o que mais acontece é o gastador ser freado pelo poupador. É tendência a atração dos contrários, a formação de um lar entre o perdulário e o avarento. Há aquele que se lança fervorosamente ao consumo e aquele que fecha a mão.

O que me deixa perplexo é a desenvoltura prática para a divisão das contas em contraste com a dificuldade para a monogamia. O comportamento se mostra perigosamente ambíguo, numa honestidade do sustento e numa dissimulação de parceria.

Ou seja, ocorre a transparência do caixa, mas não da cama. Nota-se a franqueza dos salários no meio de envolvimentos extraconjugais secretos. Até porque a confissão se deu para o pesquisador, jamais para a parte interessada. O anonimato diz a verdade.

Trata-se de cultivar uma existência pela metade, uma via paralela, em que não há nenhuma vergonha para expor excessos pecuniários, enquanto vigora o tabu da conduta sexual.

Talvez emane daí uma incompetência para se separar diante do patrimônio do casamento, um receio de começar tudo de novo. Ou um temor de se abrir, sabendo que o sincericídio desembocaria no divórcio certo e líquido. Ou mesmo um gesto egoísta em prol da comodidade e da segurança, para evitar o desmembramento da família, antecipando o possível afastamento e a saudade dos filhos numa guarda compartilhada.

As duas enquetes, lado a lado, são contraditórias. Porque a infidelidade permanece sendo um caixa 2: você gasta com alguém fora do casamento. E, pelo jeito, isso não aparece na fatura. 

CARPINEJAR

19 de Setembro de 2024
360 GRAUS - Juliana Bublitz

Para abraçar o Brasil

Com a presença dos principais representantes do setor de turismo no Estado, o governo gaúcho lançou ontem, em Porto Alegre, o que promete ser a maior campanha de promoção turística do RS, com investimento de R$ 30 milhões. Tem tudo para dar certo.

Às vésperas da reabertura do Aeroporto Salgado Filho, em 21 de outubro, a iniciativa parte de um mote certeiro: o Brasil abraçou o RS na catástrofe climática e, agora, nós queremos abraçar o país.

A ideia é espalhar ações publicitárias massivas em todas as mídias, por todo o país, ao longo de 45 dias, com lançamento oficial na ABAV Expo (a feira da Associação Brasileira de Agências de Viagens), em Brasília, no próximo dia 26.

Nossos destinos serão apresentados na TV, no rádio, na internet, nos jornais, nas áreas de embarque e desembarque dos aeroportos e nas revistas de bordo dos aviões. Haverá, também, um movimento para trazer jornalistas e influenciadores ao Estado, para reforçar a divulgação, em uma operação coordenada com os principais nomes do setor, de todas as regiões.

Aliás, a certeza do êxito da iniciativa passa exatamente por isso: o governador Eduardo Leite ouviu o segmento, a Secretaria Estadual de Turismo fez a sua parte, a área de comunicação do governo entrou na parada, um pool de agências se uniu pela causa e tudo foi pensado junto dos protagonistas, aqueles que, lá na ponta, farão a coisa acontecer. _

Semana do Negroni

Em setembro, bares de diferentes países participam de um dos mais badalados eventos da coquetelaria mundial: a Negroni Week, ou Semana do Negroni, dedicada ao drinque italiano feito com gin, Campari e vermute tinto.

Em Porto Alegre, pelo terceiro ano consecutivo, o palco oficial do festival é o Press Bar Restaurante, no Moinhos de Vento (Rua Hilário Ribeiro, 281), onde o bartender Paulo Santos elaborou uma receita especial, com espuma cítrica de laranja (na foto), sensação entre a clientela. A função vai até domingo.

P.S.: Sabe quem criou o famoso drinque? Um conde chamado Camillo Negroni, em 1919, em Florença. 

Na rota da enchente

Qual a melhor forma de contar a história da enchente? Um casal de jornalistas escolheu a bicicleta. No final de julho, três meses depois da catástrofe climática, Eduardo Seidl e Raphaela Donaduce Flores partiram da beira do Guaíba, em Porto Alegre, até o encontro com o mar, na praia do Cassino, em Rio Grande.

Ao longo do percurso de 502 quilômetros (em sete dias), eles seguiram as marcas deixadas pela água na paisagem e na vida de comunidades ribeirinhas severamente afetadas. As conversas com as pessoas e as observações da dupla foram registradas em áudios, fotos e vídeos, com paradas em municípios como Barra do Ribeiro, Tapes, Arambaré, São Lourenço e Pelotas. E por que, afinal, fazer a aventura de bike?

- A gente é ciclista e já fazia viagens do tipo, mas, nesse caso, a bicicleta foi, também, uma inspiração. Ela nos convida a refletir sobre a relação com o tempo, o território e o meio ambiente - explica Rapha.

Agora, a dupla se prepara para a publicação do material em livro e site, com previsão de lançamento em 2025.

Antes disso, às 16h deste sábado, os dois contam os bastidores da história no Festival da Primavera, promovido pela Livraria Clareira (Rua Henrique Dias, 111, bairro Bom Fim), em Porto Alegre. Haverá projeção de imagens e bate-papo sobre o projeto (batizado de Caminho das Águas), entre outras atrações ao ar livre, todas gratuitas. _

Córneas no HCPA

O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) registrou um salto nos transplantes de córneas. Em agosto de 2024, o número chegou a 32, o dobro da média mensal do último ano.

O aumento é atribuído, em parte, ao crescimento do volume de captações feitas pelo Banco de Tecidos Oculares do HCPA, que se consolidou como uma das principais instituições do tipo no Rio Grande do Sul. O banco é responsável por cerca de 30% dos transplantes envolvendo olhos em solo gaúcho. É um baita resultado. _

Centro Municipal de Cultura será recuperado

Nos próximos dias, começam as obras de recuperação do Centro Municipal de Cultura, Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues, no bairro Menino de Deus.

Afetado pela enchente, o espaço de 3,6 mil metros quadrados engloba o Teatro Renascença, a Sala Álvaro Moreyra, o Atelier Livre, a Biblioteca Pública Municipal Josué Guimarães e um saguão de exposições. Tudo ficou embaixo d?água.

A recuperação será realizada como compensação por uma obra da CFL Empreendimentos, articulada pelo Escritório de Reconstrução e Adaptação Climática, em parceria com a Secretaria de Cultura de Porto Alegre. O valor previsto na revitalização é de R$ 2,8 milhões. _

renascença

No Teatro Renascença, um mais atingidos pela enchente (e que já tinha sérios problemas antes disso), a reforma prevista vai desde instalação de piso novo, pintura, parte elétrica, sonorização, cortinas, carpetes e poltronas, até higienização e impermeabilização do reservatório das caixas d?água.

360 GRAUS

19 de Setembro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Alta moderada, tom duro e mistério à frente

Como se esperava depois do corte surpreendente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu por alta moderada na taxa básica por aqui, de 0,25 p.p., para 10,75% ao ano.

Mas se aliviou no número, o Copom pesou no comunicado. Uma das frases mais esperadas pelo mercado apareceu: "o comitê avalia que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação". Em bom português, isso quer dizer que há risco de alta na inflação.

Também ressaltou que o "conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado", em referência ao "pibão" do segundo trimestre.

Depois que o consenso do mercado projetou uma alta total de 0,75 ponto percentual - três vezes a definida ontem -, havia expectativa de que o Copom retomasse o "guidance", ou seja, explicitasse os próximos movimentos no comunicado. Isso não aconteceu, e o mistério foi acentuado neste trecho: "O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação (...)".

Isso significa que às vésperas da próxima reunião, dias 5 e 6 de novembro, retorna a especulação se a taxa volta a subir ou não, e quanto. Mas se manteve o suspense, o Copom deixou claro que há grande probabilidade de novas altas ao mencionar "ciclo ora iniciado". Claro, a menos que o cenário mude.

Fed surpreendeu com corte de 0,5 p.p.

Quem escreve a ata é o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, que deve suceder Roberto Campos Neto na presidência do BC. O tom duro também faz parte da "construção da reputação" de Galípolo. Pode ser um cálculo de que a desejada "ancoragem de expectativas" possa ser feita com menor custo, parte com a Selic, parte por discurso.

No meio da tarde de ontem, o Fed afiou a tesoura e confirmou o corte de 0,5 ponto percentual, pouco usual na instituição. Com isso, o juro anual de referência nos EUA fica entre 4,75% e 5%. Apenas uma das integrantes do colegiado, Michelle Bowman, votou por um corte menor, de 0,25 p.p.

Entre as muitas especulações sobre a decisão inusual do Fed está a de que embute uma expectativa de vitória de Kamala Harris nas eleições nos Estados Unidos, porque uma vitória de Donald Trump significaria projeção maior de inflação.

A decisão do Fed tende a depreciar o dólar em relação a várias moedas. Além disso, com a queda maior por lá, o diferencial de juro - o quanto a taxa é mais alta aqui do que lá -, aumenta, o que abre espaço para subir menos aqui. _

Como Europa reage à ofensiva da China

Fechar o acordo entre Mercosul e União Europeia e disseminar a Estratégia Global Gateway são as duas prioridades da embaixadora do bloco no Brasil, Marian Schuegraf. A novela sem fim do acordo Mercosul-UE é conhecida, mas a Global Gateway é mais recente, vista como a reação dos europeus ao Cinturão e Rota da Seda da China.

Conforme Schuegraf, o projeto aborda mudança do clima, infraestrutura e justiça social. Sobre a nova regra que proíbe exportações de países que desmataram a partir de 2020 e entra em vigor no próximo ano, a embaixadora afirmou que o bloco está "ouvindo" as preocupações do setor privado e do governo, que pediu adiamento ou tratamento diferente diante das queimadas. Disse que há "muita discussão" ocorrendo.

- O que certamente não queremos é uma redução das exportações brasileiras. A razão pela qual esses produtos são vendidos na Europa é que nós queremos comprar. Minha meta é aumentar o volume de comércio, não dificultar as relações comerciais.

Schuegraf se reuniu com o vice-governador Gabriel Souza para discutir ajuda para desenvolver alertas precoces.

- Temos de lidar com a mudança do clima. Quanto mais cedo alcançarmos resultados, mais barato será.

E o acordo Mercosul-UE? Segundo Schuegraf, os dois lados "fazem o melhor" para obter acordo em "futuro próximo". Mencionou até um possível encontro de investidores logo depois da assinatura, talvez no próximo ano. _

vai baixar?

A Petrobras adotou medida pouco usual ontem depois que o jornal Valor Econômico registrou que a estatal estuda reduzir o preço de combustíveis. A companhia desmentiu. E insistiu: "quando há decisão por alteração, a tabela de preços é divulgada imediatamente aos seus clientes". A especulação sobre baixa nos combustíveis circula há semanas, porque a cotação do petróleo acumula queda superior a US$ 10 desde o último reajuste.

Gerdau compra companhia de sucata por US$ 60 milhões

Não é um negócio fácil de entender para quem não mudou o mindset da sustentabilidade: a Gerdau pagou US$ 60 milhões (cerca de R$ 330 milhões) por uma empresa de sucata nos Estados Unidos.

O negócio foi fechado na terça-feira e comunicado ontem ao mercado. A Gerdau Ameristeel US Inc., controlada da siderúrgica fundada em Porto Alegre, comprou ativos da Dales Recycling Partnership, de operação, processamento e reciclagem de sucata ferrosa.

A compra inclui terrenos, estoques e instalações da Dales Recycling em três Estados: Tennessee, Kentucky e Missouri.

O objetivo, conforme a Gerdau, é aumentar a captura de sucata ferrosa por meio de canais próprios. Cerca de 70% do aço produzido pela gigante de berço gaúcho já é feito a partir de sucata, o que ajuda a poupar recursos naturais e poluição ambiental e reforçar a aplicação do conceito da economia circular, em que resíduos se transformam em matéria-prima. _

Plano para retomar turismo no Estado

Operadora de turismo da companhia aérea Azul, a Azul Viagens prepara ações para a retomada do turismo no Rio Grande do Sul.

Entre as principais iniciativas da Azul Viagens, estão voos com tarifas especiais para pacotes de turismo, conectando Porto Alegre a Campinas (SP) e Belo Horizonte (MG).

A operação vai ocorrer de quinta-feira a domingo em aeronaves com capacidade para até 174 passageiros, de 24 de outubro até 19 de janeiro, período de alta temporada na Serra. 

GPS DA ECONOMIA

19 de Setembro de 2024
ENTREVISTA - Carlos Rollsing

ENTREVISTA

Sebastião Melo (MDB)

Aos 66 anos, é o atual prefeito. Também foi vice-prefeito entre 2013 e 2016, na gestão de José Fortunati, e deputado estadual entre 2019 e 2020.

"Faltam 3 mil vagas em creches e o compromisso é zerar"

Criticado pelas falhas do sistema de proteção que resultaram na tragédia de maio, Sebastião Melo defende a resposta à crise e cobra mais participação de outros governos. Também prega mais medidas voltadas ao Centro e investimentos em mobilidade urbana.

A prefeitura ainda não finalizou reparos no sistema de proteção à enchente. A cidade está mais vulnerável?

Estamos fazendo intervenções nas casas de bombas 17 e 18. A empresa das comportas já escolhemos. Temos comportas que teremos de trocar e outras que podem ser remodeladas. Os portões abertos estão protegidos por bags, aqueles sacos de areia com cimento utilizados no mundo inteiro. Não estamos sem proteção. E temos outro problema a discutir. As obras de proteção também passam pela limpeza do Guaíba, competência do governo do Estado.

Além de reparos emergenciais, o que precisa mudar na estrutura definitiva?

O sistema se mostrou insuficiente pela quantidade de chuva que chegou. A proteção de cheia tem uma lógica: cuidar da bacia (hidrográfica do Guaíba). Além de anunciar recursos, tem que se criar uma governança (no dia 17, foi anunciado que caberá ao governo estadual executar as obras, com o uso de recursos de um fundo). A prefeitura de Porto Alegre não pode fazer obra em Canoas. Ou é o governo do Estado que tem a coordenação político- administrativa ou a União. ? O Centro e o 4º Distrito alagaram em 2023 e já se sabia das falhas das casas de bombas e dos portões. O senhor recebe críticas porque teria tido a oportunidade de reparar e não fez. Por que merece nova chance?

O PT governou a cidade por 16 anos. Por que ele não fez um sistema novo? Todas as casas de bombas estavam funcionando e houve intervenções e modernizações na nossa gestão. Os portões que estão aí vieram dos governos que me antecederam. As vedações dos portões tiveram intervenções. O que não dá é dizer que as causas do alagamento foram duas casas de bombas. Isso é uma mentira desmascarada. Foram 20 locais que vazaram água na cidade. Houve múltiplas falhas do sistema. Um caminho fácil numa eleição é buscar o culpado.

O senhor elegeu a revitalização do Centro Histórico como prioridade. As obras do Quadrilátero Central não acabaram, tampouco a demolição do Esqueletão. Quais as projeções para a região?

Estamos investindo R$ 70 milhões se somarmos Quadrilátero Central, Esqueletão, viaduto Otávio Rocha, Praça da Matriz, Mercado Público e Usina do Gasômetro. Se reeleito, vou dar um IPTU diferenciado para o Centro, residencial e comercial, mas isso vai ser casado com melhorias de calçada, pintura de prédio. E vou começar um projeto no Centro de calçada-padrão. Não ter calçada padronizada é um problema de mobilidade humana.

Os contêineres de lixo orgânico são usados de forma errada e costuma haver acúmulo de lixo no entorno. Como avalia?

Esse contrato que está aí é emergencial. Já temos uma empresa vencedora da licitação e vamos começar em algumas áreas com o segundo contêiner, só para o lixo seco. Se der certo, a gente vai aumentando gradativamente. Quando deu a crise, mandei a prefeitura fazer uma pesquisa. Majoritariamente, o cidadão gosta do contêiner, mesmo com as dificuldades. Tem o problema da tampa, que não deveria abrir. O novo sistema será diferente. Só tem um caminho: conscientização e parceria. O contêiner é uma coisa civilizada, mas precisamos de regras que começam dentro de casa.

O seu plano de governo cita a construção de um VLT em via elevada na Avenida Farrapos. É viável?

Não acredito em metrô subterrâneo. Teria de rasgar a cidade no meio. Metrô de superfície a longo prazo é possível. O VLT é um sistema sustentável e está nos empréstimos internacionais que a prefeitura está buscando. Compramos 12 ônibus elétricos e inscrevemos a solicitação de empréstimo junto ao BNDES para encaminhar uma mudança de frota. Antes de falar em metrô, vamos trabalhar para botar mais ônibus elétricos, que têm sustentabilidade e dão conforto ao cidadão.

? Porto Alegre caiu no Ideb e houve corrupção na Secretaria da Educação (Smed). O que deu errado e como consertar?

Ter colocado 7 mil crianças de zero a cinco anos (na creche) foi um avanço. Faltam 3 mil e pouco e o compromisso é zerar. A formação continuada foi importante para os professores e temos mais de 400 agentes inclusivos. Reconheço que tivemos muitas mudanças de secretários. Se reeleito, vou cuidar pessoalmente de convencer um quadro para ser secretário. Quanto à Smed, determinei que a nossa Controladoria abrisse inquérito. Se alguém cometeu (crime), tem de pagar.

O seu plano de governo prevê a duplicação do HPS e a construção do novo Hospital Presidente Vargas. Pelas características, ajudarão a reduzir as filas do SUS?

Vou criar um mutirão permanente que vai custar R$ 5 milhões por mês. Vou tirar esse dinheiro de algum lugar para diminuir a fila. O Hospital Presidente Vargas vai continuar público. A Câmara já nos autorizou a pegar R$ 300 milhões de empréstimo pelo BRDE. O parceiro privado vai entrar com outros valores. Vamos duplicar a capacidade do Hospital Presidente Vargas, que hoje está esgotado. Será mantido 100% SUS, só que a gestão, para diminuir a burocracia, passa a ser parceirizada. Terá dinheiro público, privado, e a concessão é de 20 anos. O pronto-socorro é outra lógica. Vamos captar no mercado, nas emendas parlamentares e aplicar recursos próprios. 


19 de Setembro de 2024
EM FOCO -Anderson Aires*

EM FOCO

Comunicado do Copom destaca pressões existentes no mercado de trabalho, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas para justificar o aumento unânime da taxa Selic, o primeiro realizado no governo Lula. Colegiado do Banco Central deixa em aberto novas altas e a "magnitude total do ciclo ora iniciado"

BC eleva o juro básico, que vai para 10,75%

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu ontem elevar a taxa básica de juro, a Selic, em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, em decisão unânime. É a primeira alta de juro no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ferrenho crítico do aumento da taxa. A última elevação do indicador havia sido em 3 de agosto de 2022.

Em comunicado veiculado após a divulgação do aumento do juro, o Copom apontou que "o cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista".

O colegiado deixou em aberto nova elevação na próxima reunião, em 5 e 6 de novembro, assim como o tamanho do ciclo de alta. "O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, (...) das projeções de inflação (...) e do balanço de riscos", ressaltou.

A elevação já era esperada pela maior parte do mercado. Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), afirma que o BC analisa dois movimentos distintos. Em uma ponta, juros caindo nos EUA e deflação recente criam ambiente para manutenção do juro no nível atual. Na outra extremidade, fatores como estiagem e impacto nos custos de energia pesam mais no lado pela elevação da Selic, avalia:

- A tendência é de que aumente a energia por conta da estiagem. Tem também a questão das queimadas, que vai reduzir a área plantada, e isso pressiona preços. Temos outro fator recente, que foi o PIB vindo mais forte do que estava imaginado.

Mais desafios na indústria

Segundo a Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), a decisão do BC eleva os desafios do setor no processo de recuperação do RS.

Com a decisão de alta de 0,25 ponto percentual de ontem, o juro real (descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses) do Brasil está em 7,33%, segundo levantamento do site MoneyYou. O país está atrás apenas da Rússia, com 9,05%. _

* Com agências de notícias

Nos Estados Unidos, corte pela primeira vez desde março de 2020

O Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) cortou a taxa dos Fed Funds, como é conhecida a taxa de juros dos Estados Unidos, em 50 pontos-base, para a faixa entre 4,75% a 5% ao ano. A decisão, tomada por 11 votos a um, sendo que o voto contrário optou por um corte de 0,25 pontos-base, foi anunciada ontem.

Foi a primeira queda na taxa básica de juro dos EUA desde março de 2020, quando o Fed buscou abrandar os impactos econômicos da pandemia. Em comunicado, dirigentes do Fed registraram "maior confiança de que a inflação está se movendo sustentavelmente em direção a 2% e julga que os riscos de atingir seus objetivos para emprego e inflação estão aproximadamente equilibrados." O presidente do Fed, Jerome Powell, comentou que a redução de juros em 0,50 ponto percentual "é um movimento forte" de um sinal de compromisso para atingir os dois mandatos do Fed e não ser influenciado por fatores políticos.

O corte pode provocar impactos no Brasil e no mundo. Com a rentabilidade dos títulos públicos norte-americanos menos atraentes, investidores tendem a tomar mais riscos e aplicar em países emergentes. A entrada de dólares poderá acabar valorizando o real em relação à moeda dos EUA.

Dos 19 dirigentes do Fed presentes na reunião de ontem, nove avaliam que os juros terminarão este ano entre 4,5% e 4,25%. Outros sete apontam entre 4,75% e 4,5%, enquanto dois defendem manter o nível atual, entre 4,75% e 5%. Powell alertou que não há garantia de que o ritmo de redução de 0,50 ponto percentual será mantido nos próximos encontros. 

quarta-feira, 18 de setembro de 2024


18 de Setembro de 2024
CARPINEJAR

A velhice é um desafio de agora

Eu sempre me preocupei com a melhor idade. Um dos meus livros adverte: Cuide dos pais antes que seja tarde. Não existe como nos isentarmos do planejamento do futuro de nossos tutores. Assim como eles programaram a nossa infância e adolescência, custearam os nossos estudos, cabe-nos zelar pela sua velhice. É uma contrapartida cada vez mais certa, já que a expectativa de vida aumentou prodigiosamente nas últimas décadas: de 60 anos passou para 76,4 anos.

Minha geração é chamada de "sanduíche", a primeira historicamente a conciliar diferentes estratos etários na residência, tomando conta simultaneamente de pais idosos, filhos e netos.

O termo se refere a um estar "prensado" pelas demandas tanto de pais que reivindicam atenção quanto de filhos - inclusive netos - que também requerem observação constante e sustento financeiro.

Trata-se de um fenômeno global - as pessoas estão tendo filhos mais tarde, e seus pais estão vivendo mais -, mas que no Rio Grande do Sul ganha contornos urgentes, posto que o Estado é o mais idoso do país, com 2,1 milhões de habitantes com 60 anos ou mais, o equivalente a 20,15% da população.

Em 2022, há dois anos, sua presença correspondia a 15,76% da população. Houve um salto de 2,5% ao ano. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um em cada cinco moradores do RS é idoso. Estamos nos igualando ao Uruguai, que detém uma das taxas mais altas do mundo.

Nossa média de idade está em 38 anos. O que significa que, em 2070, 40% da população será idosa. Antes disso, daqui a nove anos, participarei das estatísticas.

A capital gaúcha está entre as 10 metrópoles com a população mais longeva do Brasil. Atualmente, Porto Alegre abriga 1,3 milhão de moradores, dos quais 21% - 292,2 mil indivíduos - têm 60 anos ou mais.

Não podemos utilizar os parâmetros de outrora. Desde já, devemos providenciar uma maior quantidade de lares e centros-dia, espaços de acolhimento destinados a pessoas com idade avançada que apresentem algum grau de dependência. Da mesma forma, começar uma campanha familiar para evitar o isolamento e o abandono, tendo em vista que nem sempre os pais e avós dispõem do apoio dos parentes e de cuidados especiais dentro de casa.

Para se ter ideia da gravidade dos maus-tratos nessa faixa, o Disque 100 registra uma média anual de 35 mil denúncias de violações de direitos humanos contra idosos no país.

A inversão da pirâmide também abre a necessidade de revisar a legislação.

Não é mais possível prosseguir com a obrigatoriedade de apenas 1% para empresas com mais de cem funcionários, estabelecida pelo Estatuto do Idoso. É muito pouco.

O mercado de trabalho precisa se adaptar à transição demográfica, absorvendo uma mão de obra cada vez menos jovem. Temos que dobrar as faixas, os assentos, os guichês das filas prioritárias, repensando por completo a distribuição urbana e ampliando as políticas públicas.

Não há mais como reservar 5% das vagas em estacionamentos públicos e privados para idosos, se estes representam o polpudo montante de 20,15% da população estadual. Tampouco manter a porcentagem de 5% em cinemas, bancos e estádios.

Não há mais como deixar 10% dos assentos do transporte coletivo a esse grupo, se o contingente se multiplicou desde a criação da lei (2003).

São 20 anos que nos separam das principais normas de proteção. A lei envelheceu junto. _

CARPINEJAR


18 de Setembro de 2024
MÁRIO CORSO

A riqueza fácil

Todo dia temos notícia de alguém que se endividou, ou gastou o dinheiro da família em algum site de apostas. Toda semana temos a prisão de estelionatário que inventou um jogo fraudulento, ou o usa para lavar dinheiro. De tanto em tanto, um influencer é preso por associação a sites de apostas.

São manchetes distintas com uma origem comum, o tamanho que o mercado do jogo online ganhou. A novidade é a possibilidade de jogar pelo celular. Nunca foi tão fácil, não precisamos procurá-lo, ele veio até nós. Abriu-se um mercado enorme, especialmente de jovens.

O jogo de azar tem tanto apelo porque, caso o apostador ganhe, o que ele recebe vale ainda mais do que o valor ganho. Quando o dinheiro é ganho pelo esforço, fornece um prazer justo, afinal, vem da soma de muito trabalho. Já a riqueza vinda do acaso de um jogo funciona como uma bênção, como se ele fosse agraciado. Ele não ficaria apenas rico, ele seria o escolhido pelos deuses.

O imaginário no qual o jogo atua é o mesmo da fantasia de encontrar um tesouro escondido, de receber uma herança inesperada. O jogo de azar trabalha com nossa natureza mágica infantil, onde o trabalho não existe. As coisas simplesmente aparecem, alguém traz. A comida sempre chega, os pratos sujos somem.

Algo em nós não se cansa de esperar o gênio da lâmpada e seus três desejos. Mesmo os que trabalham duro, que fazem por merecer, que economizam para o futuro, passam a vida imaginando quais os desejos realizariam, caso ganhassem.

Como geralmente estamos sóbrios, trabalhamos porque sabemos o lugar da fantasia. De qualquer forma, a miragem da magia da loteria é tão forte que, se alguém der um empurrãozinho, a racionalidade cede. Os jogos online não prosperariam sem a ajuda da rede de influenciadores mentindo sobre ganhos fáceis.

Faz sentido que os influenciadores digitais sejam a ponte para convencer alguém de que é possível ser rico sem trabalhar. Como, em sua maioria, eles não têm feitos, estudos, ou profissão, encarnam a prova do sucesso sem o lastro do esforço. Para eles é fácil vender terreno na Lua, eles vivem na esfera da loteria da vida, afinal, são famosos sem nenhum mérito que justifique tal prestígio. _

MÁRIO CORSO


18 de Setembro de 2024
Direto da Redação - Antonio Carlos Macedo

Vereador não é deputado

Meme que circula nas redes sociais nas últimas semanas diz que Porto Alegre hoje está dividida em duas metades: a dos que foram atingidos pela enchente e a dos que são candidatos a vereador. A brincadeira tem como base uma percepção equivocada: a de que a capital gaúcha nunca teve tantos pretendentes à Câmara Municipal.

É exatamente o contrário. Em vez de aumentar, o número de candidatos à vereança na cidade caiu consideravelmente, com redução de 40,3% em relação à eleição passada. Hoje, são 517 concorrentes; em 2020, eram 866. A queda é resultado das recentes mudanças na legislação eleitoral, que limitam o número de candidatos a uma nominata igual ao total de cadeiras em disputa, que é de 35 em Porto Alegre. Além disso, sete partidos não apresentaram candidatos. Apesar da diminuição, o eleitor continua com muitas opções: praticamente todos os setores e segmentos da cidade estão representados. No entanto, mais uma vez, o que se observa é um cenário de indiferença, que só piora a cada eleição. O desinteresse é tanto que, aos olhos dos desavisados, pode parecer que só haverá votação para prefeito em 6 de outubro.

Os partidos políticos são os primeiros a enfraquecer o debate legislativo ao dar prioridade excessiva para a eleição majoritária. Esse desdém é um grave erro. A Câmara Municipal é responsável por criar leis e assegurar respeito aos interesses da população. Entre as leis, está o orçamento do município, que define a aplicação do dinheiro dos impostos. Além disso, cabe aos vereadores fiscalizar o prefeito, garantindo o cumprimento das metas de governo e das normas legais. Assim, é uma escolha que deve ser feita com muita seriedade e atenção.

No atual pleito, o grande risco é a polarização entre direita e esquerda, o que pode transformar as câmaras municipais em arenas para debates vazios, sem qualquer relação com os problemas reais do cidadão. Por isso, para o bem não só de Porto Alegre, mas de todas as nossas cidades, é essencial eleger políticos comprometidos com as questões locais. Discursos vazios e moções de apoio ou repúdio sobre temas nacionais inflam o ego dos protagonistas, mas não resultam em benefício direto para o eleitor. Vereador não é deputado, muito menos senador. Tenha isso em mente ao votar e priorize candidatos com propostas concretas, realmente capazes de melhorar a sua vida e a sua comunidade. _

DIRETO DA REDAÇÃO