quinta-feira, 12 de setembro de 2024



12 de Setembro de 2024
CARPINEJAR

Dedo no pulso

Pela primeira vez em 14 anos, o número de homicídios de janeiro a agosto em Porto Alegre fechou em dois dígitos, com 96 ocorrências, e o número de homicídios no Rio Grande do Sul, em três dígitos, com 915 ocorrências.

As promissoras estatísticas rompem a bolha do medo que estava nos intranquilizando nas três últimas semanas, devido aos dois episódios de triplo homicídio em Porto Alegre e Alvorada, na Região Metropolitana, e a chacina de quatro pessoas em Rolante, no Vale do Paranhana.

Parecia que regredíamos no tempo para a Colômbia do Cartel de Medellín ou emparelhávamos com a criminalidade selvagem do México, com um súbito maremoto de mortes autografadas por facções, num aviso de poder, numa delimitação de território em plena luz do sol.

O que se pode concluir, num misto de alívio e de consolo, é que os cenários sangrentos representaram solitárias ondas e isoladas ações do tráfico. Não condizem com o contexto de repressão ao crime e diminuição da violência. Significam barbáries de exceção, que desencadearam reforço imediato de policiamento nas localidades.

Indicadores da Secretaria de Segurança Pública, anunciados na segunda-feira, dissipam as preocupações com dados animadores. Comparando o mês de agosto de 2023 com o de 2024, houve queda de 27% no número de homicídios, 67% no de latrocínios e 40% no de feminicídios.

Despencaram pela metade os casos de furto, de roubo a pedestre e de roubo de veículos. Existe uma revolução silenciosa, secreta e coordenada da Polícia Civil e da Polícia Militar.

Nos primeiros oito meses de 2016, presenciamos 125 vítimas de latrocínio; já em 2024, tivemos 24 vítimas. Nos primeiros oito meses de 2016, 12 mil veículos foram roubados; em 2024, contabilizamos 1,5 mil, numa retração de 87,5% em oito anos.

Entre março e julho deste ano, por cinco meses consecutivos, Porto Alegre chegou a alcançar o padrão internacional de segurança da ONU, de 10 homicídios ao ano por 100 mil habitantes - 90% dos municípios gaúchos detêm regularmente esse patamar.

A mudança de mentalidade se deve a um monitoramento de três turnos por dia - às 6h30min, às 14h e às 18h - de todas as ocorrências em nosso Estado, feitas em parceria entre o secretário de Segurança Pública, Sandro Caron, o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Cláudio Feoli, e o delegado Fernando Sodré.

- Não soltamos o dedo do pulso em nenhum momento, socorrendo qualquer oscilação de comportamento - diz Sandro Caron, que tem experiência como secretário do Ceará. Sabendo que, a cada 10 homicídios, oito são motivados por briga de traficantes ou cobrança de dívida, a investigação passou a capturar não somente os executores, mas também os mandantes. Entre as novas formas de atuação, destaca-se a inteligência no combate ao crime organizado.

- São dois movimentos simultâneos. Além de prender as lideranças, colocamos nossa energia na asfixia financeira dos envolvidos, suspendendo a circulação da droga a partir das apreensões e mapeando a lavagem de dinheiro para sequestrar os bens e bloquear as contas - explica Sandro Caron.

Depois de tantas tragédias, de tantos desastres, é possível recuperar a confiança no Estado. E agora nos resta não baixar a guarda, aspirar ao impossível, à idealização, para só comemorar quando reduzirmos ao extremo a dor do luto inesperado. Enquanto houver viúvos, viúvas, órfãos, pais desamparados, velórios por assassinatos, rangeremos os dentes. 

CARPINEJAR

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