quarta-feira, 18 de setembro de 2024


18 de Setembro de 2024
CARPINEJAR

A velhice é um desafio de agora

Eu sempre me preocupei com a melhor idade. Um dos meus livros adverte: Cuide dos pais antes que seja tarde. Não existe como nos isentarmos do planejamento do futuro de nossos tutores. Assim como eles programaram a nossa infância e adolescência, custearam os nossos estudos, cabe-nos zelar pela sua velhice. É uma contrapartida cada vez mais certa, já que a expectativa de vida aumentou prodigiosamente nas últimas décadas: de 60 anos passou para 76,4 anos.

Minha geração é chamada de "sanduíche", a primeira historicamente a conciliar diferentes estratos etários na residência, tomando conta simultaneamente de pais idosos, filhos e netos.

O termo se refere a um estar "prensado" pelas demandas tanto de pais que reivindicam atenção quanto de filhos - inclusive netos - que também requerem observação constante e sustento financeiro.

Trata-se de um fenômeno global - as pessoas estão tendo filhos mais tarde, e seus pais estão vivendo mais -, mas que no Rio Grande do Sul ganha contornos urgentes, posto que o Estado é o mais idoso do país, com 2,1 milhões de habitantes com 60 anos ou mais, o equivalente a 20,15% da população.

Em 2022, há dois anos, sua presença correspondia a 15,76% da população. Houve um salto de 2,5% ao ano. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um em cada cinco moradores do RS é idoso. Estamos nos igualando ao Uruguai, que detém uma das taxas mais altas do mundo.

Nossa média de idade está em 38 anos. O que significa que, em 2070, 40% da população será idosa. Antes disso, daqui a nove anos, participarei das estatísticas.

A capital gaúcha está entre as 10 metrópoles com a população mais longeva do Brasil. Atualmente, Porto Alegre abriga 1,3 milhão de moradores, dos quais 21% - 292,2 mil indivíduos - têm 60 anos ou mais.

Não podemos utilizar os parâmetros de outrora. Desde já, devemos providenciar uma maior quantidade de lares e centros-dia, espaços de acolhimento destinados a pessoas com idade avançada que apresentem algum grau de dependência. Da mesma forma, começar uma campanha familiar para evitar o isolamento e o abandono, tendo em vista que nem sempre os pais e avós dispõem do apoio dos parentes e de cuidados especiais dentro de casa.

Para se ter ideia da gravidade dos maus-tratos nessa faixa, o Disque 100 registra uma média anual de 35 mil denúncias de violações de direitos humanos contra idosos no país.

A inversão da pirâmide também abre a necessidade de revisar a legislação.

Não é mais possível prosseguir com a obrigatoriedade de apenas 1% para empresas com mais de cem funcionários, estabelecida pelo Estatuto do Idoso. É muito pouco.

O mercado de trabalho precisa se adaptar à transição demográfica, absorvendo uma mão de obra cada vez menos jovem. Temos que dobrar as faixas, os assentos, os guichês das filas prioritárias, repensando por completo a distribuição urbana e ampliando as políticas públicas.

Não há mais como reservar 5% das vagas em estacionamentos públicos e privados para idosos, se estes representam o polpudo montante de 20,15% da população estadual. Tampouco manter a porcentagem de 5% em cinemas, bancos e estádios.

Não há mais como deixar 10% dos assentos do transporte coletivo a esse grupo, se o contingente se multiplicou desde a criação da lei (2003).

São 20 anos que nos separam das principais normas de proteção. A lei envelheceu junto. _

CARPINEJAR

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