sábado, 21 de setembro de 2024


21 de Setembro de 2024
DITORIAL

Aquecimento global, consequência local

Se os riscos relacionados às mudanças climáticas há não muito tempo pareciam algo distante e de pouco interesse do eleitor, está claro que o cenário se alterou radicalmente. Os gaúchos passaram em maio pela maior enchente da história do Estado e, há poucos dias, sentiram os efeitos da temporada de queimadas sem precedentes no país, com a fumaça e a fuligem tomando conta do céu, fenômeno que em seguida se transformou em uma chuva suja.

O aquecimento global e suas consequências deixaram de ser algo que poderia ser considerado abstrato e estão cada vez mais se materializando na forma de destruição, perdas econômicas e transtornos de toda ordem, inclusive com a deterioração da qualidade do ar. Caberá aos prefeitos eleitos em outubro a tarefa de liderar pelos próximos quatro anos as ações de adaptação de suas cidades aos efeitos das mudanças climáticas.

O tema passou a ser central para o eleitor de algumas cidades. Pesquisa realizada pelo instituto Quaest no final de agosto mostrou que o enfrentamento a enchentes e alagamentos é a maior preocupação dos porto-alegrenses. Foi apontado por 33% dos entrevistados como a grande inquietação. Superou com folga saúde (13%), segundo ponto mais citado. Passou a ser dever dos candidatos, portanto, formular e apresentar planos consistentes para fazer frente a eventos climáticos extremos. No caso da Capital, Zero Hora publica nesta edição (leia nas páginas 4 e 5) as propostas dos quatro principais concorrentes à prefeitura.

Se é um tema que se tornou prioridade e decisivo para o futuro das cidades, convém ao eleitor comparar as ideias para ter melhores subsídios para definir o voto. E, depois, cobrar o eleito para que cumpra as promessas. Atenção semelhante deve ser dada aos vereadores, responsáveis por elaborar leis. A edição da Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 2021 do IBGE mostra o quanto é preciso avançar em normas. O levantamento apontou que apenas 140 dos 497 municípios gaúchos tinham a prevenção de enchentes contemplada no plano diretor. Só 11 tinham leis específicas para prevenir danos de inundações.

Pelas diferentes características geográficas, cada região tem preocupações específicas. Nos municípios da Serra, como Caxias do Sul, a proteção de encostas é o grande ponto de atenção. Nos Vales, discute-se a necessidade de transferir áreas urbanas para outros locais mais altos e seguros, protegidos de enxurradas. Na Região Metropolitana, a construção e o reforço nos diques surgem como prioridade. Não deve ser esquecido ainda que, nos últimos anos, o Estado foi castigado por estiagens severas, o outro extremo do clima. A prevenção a secas é outra pauta que preocupa os gaúchos e segue à espera de um enfrentamento à altura.

O eleitor está atento. Aguarda propostas viáveis e cada vez mais vai cobrar a preparação das prefeituras tanto para prevenir calamidades quanto para dar uma pronta resposta assim que os fenômenos ocorrem. O poder público municipal, afinal, é sempre o primeiro a ser acionado quando há desastres de qualquer natureza. 

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