terça-feira, 17 de setembro de 2024



17 de Setembro de 2024
NÍLSON SOUZA

A noite dos dinossauros

Historinha para não dormir.

O asteroide tinha 10 quilômetros de diâmetro e atingiu com toda a força uma região do planeta onde hoje se situa o México. A trombada planetária, 60 e tantos milhões de anos atrás, provocou o desaparecimento de 75% dos seres vivos da Terra, incluídos aí os gigantes dinossauros. Não que eles estivessem sem cinto de segurança nesta viagem que todos continuamos fazendo na nave terrestre (talvez com exceção daquele casal de astronautas ilhado lá em cima e dos turistas bilionários que agora deram para se exibir na estratosfera).

Contam os cientistas que a morte dos bichões teria ocorrido bem depois do choque, por conta de um efeito dominó ecológico que merece toda a nossa preocupação nos dias sombrios deste setembro sem primavera. Segundo a ciência, foi assim: depois do choque, o planeta incendiou-se e o fogo produziu 15 bilhões de toneladas de cinzas. Primeiro elas apagaram o Sol e os dias se tornaram noites por aqui. Na verdade, uma longa noite de dois anos, que impediu a fotossíntese das plantas e interrompeu a cadeia alimentar da bicharada toda, na terra e no mar. Além disso, a temperatura caiu quase 30 graus abaixo da cortina de fumaça e elevou-se muito acima dela, destruindo parte da camada de ozônio. Quando o Sol voltou a brilhar para os terráqueos sobreviventes, eles estavam desprotegidos da radiação ultravioleta, que provocou mais estragos.

Quase um apocalipse.

Pois o céu cinzento e o ar irrespirável dos últimos dias lembram aquela longa noite dos dinossauros, animalões que os seres humanos só vieram a conhecer pela literatura e pelos filmes de ficção. Nunca nos cruzamos com eles ao vivo. Mas agora podemos imaginar com mais clareza o que eles e os demais habitantes da Terra viram e sentiram depois do pré-histórico cataclismo sideral. Tem dias em que a gente acorda e fica com a impressão de que o Sol virou Lua. Dá para olhar para ele sem ferir os olhos, mas também parece que ele não está mais olhando para nós.

Gaia, o que fizemos contigo? E desta vez nem precisamos da ajuda de algum asteroide descontrolado. Mas logo que o Sol brilhar novamente (hoje, talvez) já vamos começar a esquecer. Afinal, não somos dinossauros. Como disse outro dia o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, nós somos o meteoro. 

NÍLSON SOUZA

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